Do Havaí para o Brasil. De havaiana para brasileira. Foi essa a transição que Tatiana Weston-Webb fez em 2021, quando optou por defender o país da América do Sul nas competições internacionais de surfe. Logo na sequência, já representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando caiu nas oitavas de final no mar de Chiba, região litorânea do Japão.
Em Paris, Tati, como é conhecida, terá mais uma chance de levar a bandeira brasileira ao lugar mais alto do pódio. Em entrevista aos veículos do Grupo RBS, a gaúcha revelou que esse é seu maior sonho.
— Para mim, o meu maior sonho é ganhar uma medalha de ouro. Isso sempre foi um sonho meu desde bebê — disse direto de Margaret River, na Austrália, onde se preparava para mais uma etapa da World Surf League (WSL).
Tatiana nasceu em Porto Alegre, mas, com duas semanas de vida, mudou-se para a ilha havaiana de Kauai com a família. Filha de mãe brasileira, a bodyboarder gaúcha Tanira Guimarães e do surfista Doug Weston-Webb, Tati começou a praticar o esporte aos oito anos, quando ganhou a sua primeira prancha, e lapidou o seu surfe nas ondas pesadas do arquipélago do Pacífico.
Confira a entrevista com a surfista
Você teve aproximação com o Brasil, para além do casamento, uma vontade de estar mais conectada com o país, desde Jogos de Tóquio e na preparação para os Jogos de Paris?
A gente tem nossa casa no Guarujá. A gente passa bastante tempo lá agora e estou sempre indo para o Rio para fazer vários testes com o Comitê Olímpico Brasileiro para me preparar de um jeito que a gente possa controlar tudo do nosso jeito. Então, estou indo lá bastante.
O que mudou em ti de 2021 (Jogos de Tóquio) para agora na Olímpiada de Paris?
O que mudou na Tati? Eu estou um pouquinho mais velha, com um pouquinho mais de experiência. E eu tenho certeza de que eu estou um pouquinho mais madura.
Essa maturidade ela se reflete em resultado, né? Tu ris com a leveza de quem está num momento muito bom, né? Porque tu chegas para essa Olimpíada de Paris como a melhor atleta brasileira no surfe, entre homens, mulheres, os melhores resultados da temporada são teus! Isso é muito grandioso, né?
Muito obrigada! Eu e meu time fazemos tudo no nosso controle, como falei antes, para conquistar resultados e fazer o nosso melhor para ficarmos preparados para quando vier aquele momento a gente estar 100% pronto. Estamos também fazendo tudo ao nosso alcance para tentar ganhar um título, ganhar uma medalha. Fazer o nosso melhor.
A gente entra nesses últimos momentos, Tati, de preparação. Faltam 100 dias para o começo da Olimpíada. Como é que faz para controlar a ansiedade, mas também se preparar para os Jogos e competições que você tem ainda pela World Surf League?
Trabalho muito com a minha psicóloga, sempre falando com ela e ficando bem ligada nesse estado mental que estou. E sempre colocando as coisas em prática para quando vier aquele momento eu já ter meus métodos de sucesso. É isso que a gente está fazendo e fora disso a gente está com esse ano superlotado, cheio de competições. É sempre na prática de competir, de estar surfando baterias e treinar dentro e fora da água. Se a gente não está treinando dentro e fora da água, não vai estar preparado. Mas como a agenda está superlotada, temos essa missão de estar no nosso auge, para performar do jeito que a gente precisa.
Tu falaste de estado mental e dessa preparação do psicológico, qual é a diferença? Quando a gente viveu a Olimpíada de Tóquio, não tinha no surf a experiência da busca por uma medalha olímpica como um objetivo. Que diferença tem a Olimpíada para o restante das outras competições da temporada? O que essa competição tem de especial? O que mexe com a cabeça do atleta estar brigando por uma medalha e representando o seu país?
Eu acho que é uma coisa super diferente, é um evento que acontece só a cada quatro anos e a gente sabe como que é importante para nossa carreira fazer um bom resultado, ganhar uma medalha para o nosso país. Isso também, não é só você individualmente, mas é um país inteiro atrás de ti e torcendo. Então, é uma coisa um pouquinho mais importante, na minha opinião. Mas, fora disso, a gente está sempre com essa gana de ganhar qualquer etapa para estar sempre no topo.
As Olimpíadas são em Paris, mas a prova de surf será no Taiti. Tu és uma surfista que tem dois bons resultados lá. Tem um quinto lugar, se não me engano, em 2023 e um terceiro em 2022. Como é surfar no Taiti? Uma onda que, aparentemente, tu estás bem ambientada?
Eu gosto muito dessa onda. Eu acho que a vibe de Teahupoo é incrível. Não dá para nem explicar como que é para surfar naquele line-up, é uma coisa fora do normal. Estar realmente no meio do oceano, olhando para trás, para umas montanhas gigantescas e lindas, e muito verde, e tem muito azul e verde. Eu gosto muito de surfar essa onda também, de tipo, só estar no line-up, apreciando a vida realmente. Mas com isso vem o perigo da onda. A onda é bem perigosa, a gente tem de ficar bem ligada e preparada para que quando que vem aquela onda pesada, a gente saber o que fazer. Então, tem os dois lados.
Quem são as tuas adversárias na briga por pódio? Tem uma grande rival que sai dessa disputa. O que isso representa para ti, visando uma das medalhas?
Tem muitas meninas poderosas e perigosas, que estão classificadas. Uma supertalentosa é a Carissa (Moore), que ganhou a primeira medalha de surf nas Olimpíadas passadas. Ela é uma pessoa que vou ter de enfrentar em um momento. Mas estou me sentindo bem por enquanto, não vou pensar nas outras pessoas, por enquanto vou ficar pensando só em mim, o que eu posso fazer, o que eu posso controlar. Quando vem aquele momento, vou ficar relaxada e confiante e eu vou saber o que fazer.
Nos Jogos, tu terás ao teu lado a Luana Silva e a Tainá Hinckel, mas também o Gabriel Medina, o João Chianca e o Filipe Toledo. Como é estar do lado dessas pessoas? A gente sabe que a Brazilian Storm é muito forte e fechada no circuito mundial de surfe.
Muito forte, muito fechada. A gente é uma família, realmente. Somos o único país com seis atletas dentro da nossa modalidade e eu acho que isso já fala tudo. Como a gente está unido como um time e como a gente está forte para a disputa.
Meu maior sonho é ganhar uma medalha de ouro. Isso sempre foi um sonho meu desde bebê
TATIANA WESTON-WEBB
Qual é o plano até a Olimpíada?
Falta pouco tempo, mas no nosso mundo de surfe falta bastante. Então, por enquanto vou fazer o nosso circuito mundial. A gente está aqui em Margaret River (na Austrália) agora, pelo quinto evento do ano. É focar, especialmente os brasileiros, em passar o corte que está acontecendo nessa etapa. Ainda temos outras etapas no circuito mundial. Inclusive, Teahupoo vai ser um desses que vai rolar um camp antes de começar o evento do nosso time, o CBSurfe e o Comitê Olímpico Brasileiro estão colocando a gente lá um pouquinho mais cedo para ter esse campo. Um pouquinho antes para conseguir reconhecer a onda, simular como é que vai ser durante os Jogos. Eles estão tentando fazer tudo para a gente ficar confortável, pronto e sentindo bem para quando começarem os Jogos.
Tu falaste na preparação do campo que vai ter para a etapa do circuito mundial e a gente sabe que o COB investiu não só em preparação, mas também em infraestrutura no Taiti. Qual a importância disso para vocês surfistas?
Olha, eu acho que fala tudo. Eles deram muito apoio para a gente e deu para ver que no ISA Games (competição que garantiu mais três vagas para o Brasil) a gente lutou com nossas vidas para essas vagas extras e aconteceu. Então, eu acho que isso já está falando tudo. Faz uma diferença enorme e dá para ver já. Sou super grata por tudo que eles estão dando para a gente, mas fora disso a gente tem muito apoio. É muito incrível, muito legal de ver. Nós somos super gratos. Eu nunca vi um time tão unido na minha vida.
Qual o maior sonho da Tati Weston-Webb para 2024? Se pudesse escolher um, circuito mundial ou Olimpíada?
Meu maior sonho é ganhar uma medalha de ouro. Isso sempre foi um sonho meu desde bebê.
Que recado tu poderias deixar para o gaúcho ou para a gaúcha, Tati, que vão torcer por ti nas Olimpíadas de Paris?
Queria, por favor, pedir o seu apoio. Já sei que eu tenho o apoio de vocês. Mas o apoio do gaúcho é muito importante para mim, né? E fora disso, eu queria agradecer também. Eu tô muito grata pelo apoio de vocês e bora! É nóis (sic)!
Se vier medalha, a gente combina de pegar onda aqui na plataforma de Atlântida, pode ser?
Pode (risos).