O abraço não está em Tóquio, mas os gritos de incentivo da família e de amigos após uma vitória ou palavras de conforto depois de uma performance ruim estiveram presentes. Em uma iniciativa inédita, telões foram instalados junto a alguns locais de competição para que os atletas pudessem ver e falar ao vivo com seus entes queridos. Batizado de "O Momento do Atleta", a iniciativa foi a forma que o Comitê Olímpico Internacional (COI) encontrou de trazer um pouco de afeto e proximidade às primeiras Olimpíadas sem público da história.
Não é preciso estar com vaga no pódio ou participando de uma final para mandar um "olá" para casa. O serviço está disponível para atletas de 11 modalidades: atletismo, ginástica (artística, rítmica e trampolim), BMX, skate, vôlei de praia, basquete, escalada, natação, mergulho, wrestling, taekwondo e badminton. O esforço para conectar as famílias é uma parceria entre as federações esportivas, os competidores interessados e os organizadores do evento.
Cada atleta tem cerca de um minuto diante do telão, que pode abrigar simultaneamente até cinco diferentes janelas de conversa. O brasileiro Luiz Francisco, 21 anos, que ficou em quarto lugar na final do skate park na quinta-feira (5), emocionou-se ao contatar familiares e amigos ao vivo, direto da competição na Ariake Urban Sports Park.
— Quando eu fiquei sabendo que ia ter o telão ali eu falei "eu não vou nem passar perto, porque se eu olhar eu choro". Mas aí a galera falou: "Vai lá ver, vai lá ver". Quando eu olhei, tinha pelo menos umas 50 pessoas assistindo junto. Minha família inteira, amigos, pessoal de São Paulo, do game. Eu não tenho palavras para descrever o momento, só obrigado, de verdade — disse Luizinho, após competir no skate park.
Funcionária da Olympic Broadcasting Services e uma das coordenadoras do "Momento do Atleta" em Tóquio, a carioca Luciana Quaresma conta que a família do skatista Pedro Quintas foi uma das mais entusiasmadas com a ideia. O pai do esportista Milton Quintas, conseguiu falar com o filho entre uma volta e outra na pista.
— Nós tivemos uma recepção incrível dos atletas e das famílias. O pai do Quintas me mandou mensagem, com a voz rouca, dizendo "muito obrigada pelo carinho, estamos juntos". O pai da Sky Brown, que ganhou medalha no skate park feminino, também me agradeceu muito por termos conseguido colocar a família dela para vê-la. Sky ficou extremamente emocionada, chorou muito — relembra Luciana.
Por ser, na maioria das vezes, o primeiro local por onde os atletas passam depois de suas apresentações, a área do telão tem sido palco de emoções.
Com relação às futuras edições dos Jogos, Luciana não soube informar se a ação estará presente, mas torce para que "O Momento do Atleta" seja mantido:
— A gente pega aquele momento em que a ficha do atleta ainda nem caiu. Ele mal fez sua performance e já está ali a sua família. É muito bonito, parece que querem passar para dentro da tela. É uma ideia que merece ficar, pois o que vimos nessa primeira edição foram momentos realmente emocionantes para as famílias, para os atletas e para quem viu isso acontecer, como nós. E, em tempos normais, ainda beneficiaria famílias que não têm condições de viajar às Olimpíadas.