Acostumada a enfrentar adversários fechados nas Olimpíadas, a seleção brasileira se prepara para um obstáculo raro na busca pelo ouro no Japão: um rival que ataca. Para neutralizar uma Espanha bastante ofensiva na final deste sábado (7), em Yokohama, o técnico André Jardine aposta acima de tudo na experiência da defesa. Não à toa, os três atletas acima de 24 anos convocados pelo treinador atuam naquele setor.
— O Santos, o Diego Carlos e o Daniel Alves deram à nossa equipe um peso, um toque de experiência e de maturidade que nos faltava. Sofremos bastante no Pré-Olímpico especialmente com o sistema defensivo, que é onde carece a experiência. Normalmente, os goleiros jovens jogam menos, e os zagueiros têm baixa minutagem. E a experiência só vem com o tempo e com os jogos decisivos. O Dani, mesmo com 38 anos, vem em uma forma física impressionante. Ele, o Santos e o Diego Carlos têm um traço de liderança que ajuda muito o time, proporciona um norte e um rumo a seguir — disse Jardine.
Estreante em Jogos Olímpicos, apesar da idade, Daniel Alves chama atenção para a diferença de característica entre cada adversário do torneio olímpico.
— A lição que aprendemos durante toda a competição é que você precisa de um nível de adaptabilidade muito grande. Na Olimpíada, você enfrenta escolas diferentes, propostas diferentes de jogo, e você precisa se adaptar rapidamente ao que demanda cada partida. Enfrentamos escolas diferentes de contextos e conteúdos, e a adaptabilidade do grupo foi superalta. Mais uma vez, vamos ter de fazer isso, pois a Espanha é um time que gosta da bola, propõe o jogo e não vai abrir mão disso — declarou Daniel Alves.
Medalhista de prata em Londres, em 2012, o atacante Leandro Damião, hoje no Kawaski Frontale-JAP, disse que em uma Olimpíada é importante a equipe estar pronta para enfrentar rivais das mais diversas características.
— Quando você vai jogar uma Libertadores, você sabe que a maioria dos times jogam fechados, tem pegada e dificilmente sofrem gols. Na Olimpíada, não. Em 2012, enfrentamos, por exemplo (na fase de grupos) o Egito, que era um time rápido e técnico. Depois (nas quartas de final), pegamos Honduras, que ficava bem fechada atrás. Na sequência (na semifinal), jogamos contra a Coreia do Sul, que ia para cima e tentava jogar. Em uma Olimpíada, as seleções são muito diferentes. Cada jogo requer um estudo amplo do adversário. Se você jogar da mesma maneira sempre, dificilmente saberá como ganhar — explica.
O ex-atacante do Inter chama atenção da importância de a seleção ter um líder como Daniel Alves para deixar os atletas mais jovens tranquilos em um torneio tão imprevisível.
— Vejo que a seleção está muito concentrada no seu objetivo. Ao mesmo tempo em que os jogadores brincam, conversam e se distraem, na hora séria eles conseguem ter muito foco. O principal destaque está sendo o Daniel Alves, pela experiência e pelo jeito de comandar. Ele consegue brincar com os jogadores de um modo que eles não sentem esse peso — observa o centroavante.
Daniel Alves, por sua vez, vê os garotos da equipe prontos para assumir a responsabilidade de conduzir o Brasil ao bicampeonato olímpico.
— Está sendo prazeroso ver a garra, a luta e a determinação deles. Esse é o sentimento do brasileiro que carregamos e tentamos levar — completou.
Apesar de os mais velhos do grupo estarem na defesa, Jardine também conta com um líder no ataque. Aos 24 anos, Richarlison é considerado pelo treinador um atleta experiente, sobretudo por sua rodagem em grandes jogos.
— O Richarlison é um jogador da Seleção principal e deu um peso ao ataque. Mesmo ele sendo jovem, dá um nível de confiança e experiência muito grande e deixa a nossa equipe mais potente na frente — completa Jardine.
Em relação à vitória sobre o México, o Brasil deve ter apenas uma mudança. Recuperado de uma contratura muscular, o atacante Matheus Cunha treinou com bola nas duas últimas atividades e deve ser confirmado na equipe, com Paulinho voltando ao banco.
Assim, a seleção deve ter: Santos; Daniel Alves, Nino, Diego Carlos e Guilherme Arana; Douglas Luiz, Bruno Guimarães e Claudinho; Antony, Richarlison e Matheus Cunha.
Brasil e Espanha disputam o ouro olímpico neste sábado, às 8h30min (pelo horário de Brasília), no Estádio Nacional de Yokohama.