Experimente perguntar para alguém que já visitou Tóquio, ou mesmo que mora na cidade, qual lugar é imperdível de ir. Tente buscar em uma revista de turismo pontos que você não deveria deixar de visitar. Pesquise as áreas mais turísticas. E tenha a certeza de que, ainda assim, você estará perdendo um bocado de coisas.
Depois de quatro dias presa no hotel e mais 10 circulando apenas entre ele e as arenas de competição, em função dos protocolos em prevenção à covid-19, tive o primeiro dia de liberdade total durante os Jogos Olímpicos no Japão. E se a proposta era viver Tóquio junto, me peguei pensando qual cidade eu começaria a apresentar aos gaúchos. Fiz todos os passos citados acima e continuo sem saber por onde começar.
Decidi iniciar a aventura por um centro budista muito famoso. O Senso-ji foi construído no ano 645, destruído na Segunda Guerra Mundial e reconstruído novamente. Fica em uma área conhecida como "Tóquio antiga" por misturar elementos da tradição japonesa com a modernidade. É uma área com edifícios mais baixos, lojas mais antigas, mas de dentro do pátio do templo, por exemplo, é possível avistar o Tokyo SkyTree, o prédio mais alto do mundo, com 634 metros.
O Senso-ji geralmente está repleto de turistas, mas em função da pandemia estava relativamente vazio. Muitos japoneses visitavam o lugar, vários usando trajes típicos — o yukata, como é chamado o quimono de verão. Inicialmente, imaginei que estivessem vestidos daquela forma para alguma celebração especial, mas não, gostam de usar roupas assim para frequentar lugares que têm essa conexão com a tradição.
Alguns rituais são obrigatórios na visita. Queimar um incenso em uma grande redoma e abanar a fumaça na própria direção dizem que traz saúde. Uma centena de pequenas gavetas contendo pedaços de papel com mensagem prometem revelar a sua sorte do dia. É preciso pagar 100 ienes (R$ 4,78) para poder retirar o seu papelzinho — apesar de não ter ninguém controlando se os pagamentos estão sendo feitos.
Obviamente, testei minha própria sorte. E, depois de tentar decifrar as letras japonesas, li no verso do papel: má sorte. Ensaiei ficar receosa, mas logo abaixo, uma placa trazia uma explicação: se tirar "boa sorte" agradeça, mas não fique vaidoso demais com ela; se tirar "má sorte", saiba que ela não é definitiva e cabe a você buscar que ela não venha, pendure o papel nesse varal e deixe aqui o que tiver de ruim. Ufa!
Seria muito triste sair com qualquer sentimento ruim de um lugar tão lindo, e logo no primeiro dia de uma Tóquio com tanto ainda por conhecer.