Medalhista de ouro com o vôlei feminino nos Jogos de Pequim em 2008, a ex-levantadora Carol Albuquerque relembrou as emoções vividas em quadra e detalhes da participação em uma Olimpíada, no "Medalha Olímpica" desta sexta-feira (23), na Rádio Gaúcha. A portoalegrense ressalta a preparação necessária para uma equipe chegar com todas atletas juntas ao auge no momento da conquista do lugar mais alto do pódio, vencendo as adversárias em quadra e também as distrações fora dela.
— O ouro de 2008 foi todo planejado. Quatro anos de trabalho da comissão, e aquele ano foi mágico. Até então éramos as amarelonas, que chegavam na final e perdiam para a Rússia. Começamos 2008 atropelando todo mundo, fomos campeãs invictas do Gran Prix. Perguntavam se a gente não tinha "estourado" antes da hora, mas todo mundo segurou para fazer da Olimpíada o nosso auge. E foi assim, perdemos só um set, foi sensacional — contou Carol.
Ela ressalta que a convivência com esportistas de outros países e modalidades na vila olímpica e o nervosismo pela importância do momento podem atrapalhar a concentração individual. Daí vem a necessidade de jogadoras experientes para conduzir as mais novas e de um técnico como Zé Roberto para ter todo o grupo no mesmo ritmo.
Tal combinação se repete mais uma vez em Tóquio, porém Carol não vê a seleção feminina de vôlei favorita antes do começo da disputa. Ela acredita, sim, que uma classificação em primeiro no grupo pode dar confiança e um caminho mais fácil até o pódio.
— O Brasil sempre entra como favorito. Acho que essa é uma das raras olimpíadas que o time feminino não entra como favorito. Temos tradição, chegamos na final da liga em 2021 e perdemos para os EUA. Não somos favoritas, mas todas seleções respeitam muito porque a camisa pesa, por toda história que temos de campeãs olímpicas e sempre chegar nas finais. Classificando em primeiro tem grandes chances de chegar entre os quatro melhores — projetou a ex-jogadora.
Confira outros destaques da entrevista
Vimos uma cerimônia diferente, como é participar de uma normal?
A abertura é cansativa, nós fomos barradas de ir pelo técnico Zé Roberto. Tem que sair quatro hora antes, ficar em fila, pegar ônibus. Tínhamos jogo de estreia no outro dia, não fomos. É muito cansativo, não valia a pena. Para quem vê na TV é lindo, e claro que a gente gosta, mas antes disso é muito cansativo. A de encerramento sim, não tem mais nada para jogar e aí quem vai extravasa sem medo de nada dar errado.
Como que tu achas que vão ser as disputas em meio a uma pandemia?
Acho que vai ser difícil ter quebra de recorde. A preparação não foi igual, vários atletas precisaram treinar em casa, improvisar um treino longe do ideal na maior parte da pandemia. É difícil cada um treinar por si e depois juntar o time. Outra coisa é a falta de público, torcida contra e a favor, faz a diferença. Quem tá lá, Olimpíada é Olimpíada. Só quem vai sabe. Já vi as meninas tirando fotos, encontrando gente que a gente normalmente só encontra na TV. Este convívio é maravilhoso. O que falta, mesmo, infelizmente, é o público na arquibancada.
Qual a diferença da arquibancada cheia no jogo?
É difícil se isolar da pressão da torcida no ginásio. Por isso é importante ter jogadoras experientes na quadra para ajudar as mais novas. Vão acalmar, principalmente na estreia. Independente do nível da adversária, é o começo de uma Olimpíada, é sempre tenso. Depois alivia um pouco.
Vocês acham que não, mas só de pisar na quadra para o aquecimento, por ser Olimpíada o coração já dispara. A gente se olhava e… meu Deus, todo mundo nervosa. Depois do primeiro set começa a passar. Lembro do dia da final, ainda no café da manhã a conversa já era “e aí, dormiu?”, porque ninguém tinha dormido.
Como é chegar em uma Olimpíada mas não conquistar o ouro?
A gente sabe que no Brasil é muito difícil essa valorização da medalha de prata. Quando ganha ouro já é difícil manter patrocínio, segundo e terceiro lugar nem se fala. Sempre falamos que existem dois tipos de atletas que vão para a Olimpíada. Um que só de conquistar índice olímpico já vai feliz para os Jogos, e o outro que vai para buscar medalha. São focos diferentes. A vila olímpica é muito fácil de tirar o foco. Atletas de todas as modalidades do mais alto nível. Sou fã de tênis e fiz academia com o Djokovic, sentei numa mesa do lado do Rafael Nadal, tirei foto com Kobe Bryant. E na época nem tinha celular, hoje o técnico deve restringir tudo em rede social para manter a atenção no time e na quadra.
Como é o Zé Roberto como técnico?
Ele pega no pé, como qualquer bom técnico. Ele e o Bernardo são os melhores. Características diferentes mas ambos são maravilhosos, os resultados falam por eles. Mas o Zé, calmo, só com a imprensa (risos), conosco não tem calma não. Mulherada ainda mais, é difícil de trabalhar. A mulherada dispersa, conversa, fica sensível, precisa saber o nível de ansiedade de cada uma, o jeito de conversar, mais do que homem. O Zé conhece isso demais e tira de letra. Tem uma menina que pode gritar que ela entende e abraça junto, tem outras que já não gosta de ouvir instruções assim, e o Zé sabe muito como que cada uma funciona.
Quão difícil foi tomar a decisão e como está sendo a aposentadoria?
Eu estava me preparando há vários anos. Sou privilegiada. Tentei de novo agora, mas voltei da Grécia com lesão nas costas. O médico perguntou se eu tinha um plano B, porque seguir forçando… em esporte de alto nível a aposentadoria traz dores. Tenho duas lesões na coluna, precisava parar. E estou com 43 anos, né. Ainda sigo com tênis, beach tennis, difícil parar. Por ser de alto rendimento, falei chega; Se fosse para ficar mais tempo lesionada do que jogando, não me servia.