Eu não sei o nome dele. Não deu tempo de perguntar. Estava tentando chegar à arena da esgrima para uma gravação nossos caminhos se cruzaram. E antes que eu conte a história, saibam, chegar a uma venue — como é chamado o espaço de competição nos Jogos Olímpicos — pode ser mais desafiador do que vocês possam imaginar.
É preciso primeiro pegar o ônibus oficial do evento, que passa em horários certos, e a espera pode ser no sol de 40 graus japonês. Chegando ao destino, uma longa caminhada pode estar a sua espera. E até se aproximar da arena em si, certamente será preciso conversar com algumas pessoas em busca de informação. Possivelmente elas não falem inglês e precisem chamar mais um ou dois voluntários para ajudar.
Quando tudo parecer resolvido, vem a higienização com álcool, o reconhecimento facial e o detector de metais — muitas vezes acompanhado de algumas perguntas sobre os itens que você carrega na mochila.
Se conseguir chegar até aqui, bem-vindo a uma arena olímpica! Passamos por tudo isso até chegar à Harihari Arena. E quando finalmente encontramos uma porta de entrada, a placa fixada na parede indicava que teríamos problemas: Athletes entrance — entrada de atletas.
Desesperados em ter de percorrer todo o caminho novamente, pedimos socorro ao japonês mais próximo. E eu não sei se ele percebeu nosso desespero, ou simplesmente estava em um bom dia, mas apenas fez um sinal com a mão, como quem diz: sigam-me, e partiu em uma caminhada rápida que até minha pernas longas tiveram dificuldade para acompanhar.
Entramos na arena. Pelos bastidores. "Inspeção de armas" foi o que consegui ler, quase como um borrão. Atletas com suas mochilas carregadas de floretes, espadas e sabres do mundo todo — campeões olímpicos, mundiais, quem sabe — se agrupavam em filas. Dobramos uma esquina e, por uma porta, vislumbrei a sala de treinos, onde mais esgrimistas se preparavam para entrar na pista.
O japonês quase corria. E meus pés só não eram mais rápidos do que meus olhos, querendo acompanhar, absorver todos aquelas bastidores aos quais tive o privilégio de ter acesso surpresa. A área de testes médicos dos atletas apareceu, o local onde eles são fotografados e identificados novamente antes de competir também.
Eu já imaginava o que mais viria quando o japonês parou, como quem diz: chegamos. Apontou finalmente para aquela que seria a entrada oficial da imprensa. Entrei triunfante, orgulhosa de ter conseguido "quebrar" um dos rígidos protocolos dos Jogos Olímpicos sem ter feito nada de errado ou contra a lei.
Olhei pra lado pra lançar um "arigatô" — obrigado — ao japonês das pernas rápidas que ousou desafiar as regras em um rápido "vem comigo que eu resolvo", mas ele já não estava mais lá. Deve estar dando alegria a outro jornalista desavisado louco pra conhecer um bastidor olímpico.