"Só um grande desastre vai tirar o ouro do Brasil no Rio 2016". Essa frase foi muito ouvida nas últimas semanas para definir o futuro da seleção brasileira de vôlei feminino. O desastre chegou nesta terça-feira à noite, já madrugada de quarta, acabou com o sonho do tricampeonato e teve nome e sobrenome: Lang Ping, a técnica da China que fez seu time reagir após uma vitória maiúscula das brasileiras no primeiro set, empatar e fechar o jogo em 3 sets a 2. A torcida, que fazia festa, viu seu canto virar choro, sem deixar de apoiar as jogadoras que fizeram desta geração a mais vencedora da história do vôlei feminino nacional.
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Culpados não existem. O time vinha jogando bem, a base titular era inquestionável e estava vencendo com facilidade seus jogos. Mas caiu diante de seu primeiro grande teste na Olimpíada. Embora tenha sido uma derrota dolorosa, o tombo tem de servir de lição. Essa será a primeira vez desde Barcelona 1992 que o Brasil não estará na semifinal dos Jogos. Naquele ano, terminou em quarto lugar. Em seguida, vieram dois bronzes (Atlanta 1996 e Sidney 2000), o trágico quarto lugar em Atenas 2004 (aquele dos 24 a 19 contra a Rússia, lembra?) e os dois ouros (Pequim 2008 e Londres 2012). No Rio 2016, as brasileiras encerraram sua participação em quinto.
Sem chorar sobre o jogo jogado, dois pontos foram cruciais para o Brasil ficar sem reação contra a China, e ambos estavam no banco de reservas. Zé Roberto errou ao levar Fabíola para a equipe olímpica como levantadora reserva. Ela teve filho há menos de três meses, é natural que não esteja completamente em forma para jogar alto rendimento. O técnico deveria ter optado pela Roberta, que mesmo sem muita experiência na seleção, era a jogadora que vinha com ritmo de jogo – foi ao Grand Prix e fez boas atuações. Em segundo lugar, ao cortar Tandara, Zé abriu mão de ter uma oposto de ofício. Com esses dois lados fracos, não tinha muito o que ser feito para virar o jogo contra as chinesas, nem uma inversão de 5x1 efetiva.
É justamente por esses pontos que o Brasil precisa começar a trabalhar a renovação. Passada a Olimpíada, chegou a hora de apostar em novos nomes. Levantadora e oposta são duas funções que carecem muito de reposição. Quem será a nova Sheilla? Aliás, a jogadora já anunciou aposentadoria da seleção – assim como a meio Fabiana – e esse deve ser o caminho da atacante Jaqueline. Até Tóquio 2020, serão exatos quatro anos para encontrar as peças certas e reencontrar a vitória.
Sou favorável a renovação quase total. Olhando o elenco atual, acredito que Natália e Gabi, ponteiras e mais novas do elenco, são as únicas que deveriam permanecer – Thaísa é um nome que pode ajudar na transição num primeiro momento. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) deveria, inclusive, pensar na possibilidade de trocar também o técnico. José Roberto é sem dúvida, junto com Bernardinho, o maior técnico do país. Mas depois de 13 anos, é preciso oxigenar e dar espaço para novos nomes. Acho que Paulo Coco, do Minas e atual auxiliar de Zé Roberto, pode ser uma possibilidade. Mas tem outros bons nomes no mercado como Spencer Lee, que estava no Rio do Sul e agora integra a equipe técnica do Osasco, e Ricardo Picinin, que levou o Praia Clube ao vice da Superliga na última temporada.
O maior problema mesmo, além de uma substituta para Sheilla, vai ser encontrar uma levantadora. O Brasil carece de encontrar uma nova fora de série, como Fernanda Venturini e Fofão. No horizonte, três jogadoras merecem ser testadas: Macris, do Brasília, eleita melhor da posição por três Superligas seguidas, Naiane, do Minas, e Claudinha, do Praia Clube. Agora é hora de focarmos na garimpagem por uma nova cara à seleção.