– P..., Rafael, tá de sacanagem! – poucas coisas são tão assustadoras como um zagueiro brabo. E Juan Jesus estava fora de si: – Eu roubo, tu perde, eu roubo, tu perde! – esbravejava o mineiro formado no Inter, com o rosto quase colado na testa do lateral.
Era a final da Olimpíada de 2012, o Brasil perdia para o México e, faltando sete minutos para o fim do jogo, o lateral-direito Rafael tenta um passe de letra no campo de defesa. A bronca que recebeu foi a última e mais branda demonstração do desequilíbrio que uma preparação deficitária pode causar. Demitido meses depois daquela derrota, Mano Menezes havia assumido a seleção para renovar um time que vivia sob a pecha da "entressafra de craques" e acumulava fracassos. Foi incluído no comando do time olímpico como uma forma de prospectar novos nomes para o grupo de cima e, quem sabe, beliscar um ouro inédito.
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Para quem já viveu caso semelhante, uma situação que mais atrapalha do que ajuda: escalado para comandar a seleção nos Jogos de 1988 com um misto de pressão pelo ouro e responsabilidade de rejuvenescer o time, Carlos Alberto Silva critica o acúmulo de funções. Prefere um treinador exclusivo para a equipe olímpica, como é o caso de Rogério Micale:
– A seleção olímpica é distante da principal. Não recebe o mesmo apoio, fica parecendo um patinho feio.
Não à toa, as manchetes do dia seguinte criticavam o processo anterior à competição: no Estado de S. Paulo, Antero Greco descrevia o jogo como um “fim adequado para a cascata do projeto olímpico”, enquanto Romário, prata em 1988, comentava na Record que “a seleção se prepara em quatro ou cinco jogos, enquanto os outros têm três anos”.
Quatro anos depois da rusga com Rafael, Juan Jesus diz que a questão entre os dois se resolveu com calma no vestiário. E é com confiança que ele aponta:
– Desta vez, os meninos vão trazer esse ouro que a gente tanto precisa!
*ZHESPORTES