Do alto de seus 2m3cm e carregando os 165kg que o fazem o atleta mais pesado da delegação brasileira, Rafael Silva chega à área de entrevistas com um simpático sorriso no rosto. Pouco antes vencera o bronze, mas não deu gritos histéricos de felicidade, não pulou em cima do técnico – que não o aguentaria, claro –, não chorou com o segundo pódio olímpico da carreira. Parecia calmo feito o Dalai Lama, assim como no momento em que atendeu os repórteres. Em resumo, é um gigante gentil.
E um gigante satisfeito. Ultrapassou problemas físicos graves e recentes, que ameaçaram sua participação na Olimpíada. Uma lesão séria no peito, e, depois, outra na coxa, pareciam indicar que esses Jogos não seriam os do Baby, apelido que pode não parecer apropriado por seu tamanho, mas faz sentido ao ver de perto o rosto arredondado e o cabelo ralo que lembram, com algum esforço, o bebê Boomer, filho de Phelps que faz sucesso nas noites das finais da natação.
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– Ainda está caindo a ficha. Estou feliz de ter desenvolvido meu judô, colocar no tatame o que eu venho trabalhando – comemorou.
De fato, Baby fez uma competição firme e segura. Passou com autoridade pelas duas primeiras lutas. Depois, nas quartas de final com a lenda Teddy Riner – bicampeão olímpico no Rio e octacampeão mundial –, fez o que pôde.
– Dei uma canseira nele – divertiu-se o brasileiro.
Derrotado, foi à repescagem e travou uma batalha com o holandês Roy Meyer. Venceu com vantagem de uma punição. Na disputa do bronze, diante do exausto uzbeque Abdullo Tangriev, controlou as ações. Já em vantagem no último minuto, aplicou um golpe computado como yuko e aguardou o zero do cronômetro para comemorar a sua maneira.
Com o segundo bronze da carreira, colocou-se em um grupo seletíssimo de judocas brasileiros com duas medalhas olímpicas: Aurélio Miguel, Tiago Camilo, Leandro Guilheiro e Mayra Aguiar o fazem companhia. Não é pouco, mas o jeitão tranquilo não transparece a grandeza do feito. Baby é, de fato, um gigante, e o tamanho é o menor dos motivos para descrevê-lo assim.