Uma das tradições olímpicas mais interessantes – e que eu não conhecia – é a troca de pins.
Pins, pra quem não sabe, são broches. No meu tempo eram broches, agora os jovens chamam de pin.
Cada delegação, cada patrocinador, cada emissora de televisão tem um broche, e esses broches são disputados a tapa, ao ponto de algumas salas no centro de imprensa terem na porta um cartaz gigantesco: NO PINS HERE!.
É uma espécie de vício: visitantes de Barcelona, Los Angeles, Pequim, tiram férias e vêm para os jogos olímpicos APENAS para trocar broches. Não assistem a nenhum jogo, ficam o dia inteiro trocando broches na frente do centro de imprensa. É um grupinho meio hippie que contamina todos os voluntários e trabalhadores do prédio. Quando você vê, até os motoristas dos transportes de imprensa aproveitam um tempinho livre pra trocar pins com japoneses e franceses. É um hobbie, ou um vício, ou ainda, um estilo de vida.
O desafio da modernidade
Sempre que eu vejo um atleta, penso na sua família. Todos eles tem uma mãe. Todos eles tem um pai, alguns tem filhos, e fico pensando como conseguem equilibrar os treinamentos e a família. É o desafio da modernidade: pra você ser um sucesso profissional, às vezes tem que ser um fracasso como filho, como marido, como pai. Não acho que o sucesso valha a pena quando coloca a família em perigo.
A mãe do Thiago Pereira viajou 400km para levar o filho de 15 anos até o clube que ofereceu sua primeira bolsa na natação.
– Olhei pelo retrovisor ele sozinho, entrando no prédio, e prometi pra mim mesmo que se ele olhasse pra trás eu faria meia volta para pegá-lo – contou a dona Rose ontem a tarde, em um encontro informal.
– Quando você diz que faria algo diferente no seu passado você está errado: naquele momento aquilo que você fez foi o certo. O importante é aprender e melhorar todo dia – disse Thiago, medalhista em Londres 2012.
Conheci a mãe do Thiago em um evento que contava ainda com outras mães olímpicas. A dona Rose, mãe de Arthur Zanetti, vencedor da medalha de prata no Rio, diz que o filho fazia natação, futebol de salão e ginástica. Fico imaginando quantos treinos, quantas vezes eles chegaram atrasados ao trabalho para levar o filho aos treinos.
– A gente se revezava levando o Arthur pra todas as aulas, até que uma hora faltou dinheiro e tempo e a gente pediu pra ele escolher só um esporte. Ginástica era a única coisa que ele realmente se destacava – contou.
Jaqueline Carvalho, do vôlei, pretende passar o próximo mês curando a dor da desclassificação com a mãe Josi.
– Ela está sempre comigo. Durante os jogos faz todos os movimentos, imita um saque, uma cortada. Quando assiste um jogo meu pela TV ela rola no chão da sala quando eu rolo na quadra – contou a Jaqueline.
A dona Josi é o local seguro de Jaqueline, o abraço que consola qualquer derrota. Sempre que eu vejo um atleta, penso na sua família. Nos pais que disseram sim para o sonho dos filhos e pra isso entregaram as crianças para o mundo. Na esperança de serem brilhantes, de ganharem medalhas, na esperança que se realizem. E quando precisarem, terão sempre alguém do lado deles. É preciso alguém muito forte pra criar uma pessoa incrível.