Subimos o morro da Rocinha com o objetivo de entender se as comunidades mais carentes do Rio de Janeiro estão se sentindo incluídas nos jogos. A favela é a maior do Brasil, 250 mil pessoas amontoadas em construções primitivas, medievais, cabos de todos os tipos pendurados de janela em janela, goteiras de esgoto em todas as vielas, altos índices de tuberculose, comércio informal e, é claro, tráfico de drogas. Aqui a descontração dos jogos existe apenas na televisão.
A prefeitura do Rio de Janeiro garante que um grande legado ficará para a cidade depois dos Jogos Olímpicos. Os números oficiais dizem que metade dos investimentos no Rio 2016 vai ficar na cidade, em forma de melhorias na mobilidade (nova linha de metrô, nova linha de VLT, novos viadutos) e infraestrutura para esporte (arenas, centro de imprensa se transformando em escolas) e turismo (como a renovação da orla na praça Mauá, que pode se tornar um novo cartão postal).
Mas nossa vontade era perguntar para os moradores do Rio de janeiro se eles acreditam mesmo no legado dos jogos. No centro renovado da cidade, frequentado por pessoas de classe média alta ouvimos que "a cidade está dividida. Se você andar duas quadras pra lá vai ser assaltado", disse um carioca, apontando para o centro do Rio que não tem policiamento. Nas áreas pra turistas, a segurança é feita ostensivamente pelo Exército.
Ouvimos de alguns cariocas que o legado será positivo. "Acho que é bom pra cidade. Uma pena que precise de uma Olimpíada pra reconstruírem as áreas degradadas. Mas já que fizeram vamos aproveitar".
Na favela da Rocinha as opiniões divergem.
Apenas os ricos estão se dando bem.
– Aqui não tem ingresso, não tem melhoria de infraestrutura. A linha de metrô nova tem 2km e custou 20 bilhões – reclama Oberdan, proprietário do Rocinha Guest House, uma pousada na comunidade. – O movimento está muito mais fraco do que na copa do mundo.
Para o guia turístico Guilherme, o Rio de Janeiro vai colher os frutos no futuro, com mobilidade, infraestrutura e turismo:
– É ótimo pra mostra o Rio pros turistas. Muita gente vai visitar a cidade em função destes jogos.
Estima-se que após a realização de uma Olimpíada, a cidade sede aumenta em 30% o fluxo de turistas. Perguntei para um turista japonês o que ele achava sobre o legado olímpico. "A mobilidade de vocês é horrorosa. Faltam quatro anos para os Jogos de Tokio e nós estamos mais preparados do que vocês", respondeu.
A julgar pelo legado da Copa, com estádios abandonados em vários estados brasileiros, ou o legado do Pan-Americano no Rio, a herança é desestimulante. Na internet é fácil achar fotos de ginásios abandonados em Atenas (sede dos jogos de 2004) e Pequim (sede em 2008).
O que irá acontecer com as oito quadras de tênis, as quatro arenas esportivas e o complexo de natação do Parque Olímpico? Como ficará a água do complexo Maria Lenk, que já durante as competições está verde? Quem usará a trem VLT que precisa que uma moto vá na frente expulsando pedestres da frente?
O próprio prefeito Eduardo Paes reconheceu que a organização dos jogos (ou seja, ele incluso!) desperdiçaram a chance de deixar um legado maior pra cidade. Pra quem acha que as coisas vão acabar se acertando, basta deixar as coisas como estão, recomendo um passeio pela favela da Rocinha.