– Sou quase um psicopata, meu nível de exigência é altíssimo. É difícil trabalhar comigo, sou chato pra caramba.
A frase acima, em entrevista à Folha de S. Paulo, é do treinador responsável pelo candidato a mito do esporte brasileiro que brota das águas da Lagoa Rodrigo de Freitas. Jesus Morlán, o técnico espanhol que "castigou" Isaquias Queiroz por quatro anos para que brilhasse no Rio de Janeiro, preparou o pupilo para remar três provas sem suar. O baiano disputa a última de sua Olimpíada de sonho na manhã deste sábado, quando compete na final da canoa em dupla de 1000m, ao lado de Erlon de Souza, na condição de favorito.
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– Eu estou tranquilo. Esta semana remando foi fácil comparada com os treinos do Jesus lá em Lagoa Santa-MG. E lá, eu e o Erlon treinamos juntos nos sábados e geralmente temos ótimo desempenho – revelou.
Na manhã de sexta, Isaquias remou pelo quinto dia consecutivo na Olimpíada. Para Erlon, foi a estreia. Os dois venceram com sobras sua bateria classificatória, garantindo lugar na final de sábado. Ao passar pela área de entrevistas, não davam qualquer sinal de cansaço.
Estavam até brincalhões. Erlon disse achar graça da atenção que o colega tem recebido. Contou que os companheiros de equipe estranham o tempo que têm de aguardar para cumprimentar a estrela do time após suas vitórias. É que Isaquias ganhou aura de ídolo e demora a ser "liberado" pelos fãs sedentos por fotos e autógrafos.
Já o candidato a ganhar três medalhas na mesma edição dos Jogos, algo que seria inédito no Brasil, prefere distribuir o crédito por suas conquistas:
– Eu remei, mas cada medalha minha tem participação de outros da equipe. Nos 200m, o Nivalter de Jesus me ajudou muito pra ganhar velocidade na prova. Quero ganhar na prova em dupla a medalha que vai ser do Erlon, mas também no Ronilson (de Oliveira, que disputou a prova com Erlon de Souza em Londres 2012).
A julgar pelo desempenho da classificatória, as possibilidades da dupla campeã mundial são enormes. Remando na primeira bateria, em que também estava a parceria ucraniana apontada como uma das favoritas ao pódio, Isaquias e Erlon sobraram. Em nenhum momento deram chance para que os europeus se aproximassem.
A vitória foi tranquila e com o melhor tempo geral. Na final, terão o desafio de enfrentar os alemães Sebastian Brendel (ouro na canoa individual de 1000m, em que Isaquias foi prata) e Jan Vandrey. Os dois só entraram nos Jogos por conta do banimento da equipe romena, mas mostraram força ao ficar, em sua bateria, a frente dos húngaros Henrik Vasbanyai e Robert Mike, vice-campeões mundiais.
Aos 22 anos, Isaquias Queiroz tem encontro marcado com a história na manhã deste sábado. Ainda bem que é jovem assim para aguentar a cruel rotina de Jesus. Perto do suplício de Lagoa Santa, remar na Olimpíada e se transformar em herói do Brasil não cansa nada.