Quanto tempo demora para se criar um tabu? Depois de 64 anos e 12 tentativas, o ouro olímpico virou um assunto desconfortável para a seleção brasileira. Na primeira vez em que vai jogar em casa, o Brasil tem a chance usar os fantasmas do passado para, em vez de jogar ainda mais peso nas costas de jogadores jovens, aprender lições valiosas e, quem sabe, subir no lugar mais alto do pódio – pela primeira vez.
Relembre as três pratas conquistadas pelo Brasil no futebol:
1984: "Seleinter" contou com preparador físico para fechar o vestiário em 1984
1988: Com a base do Tetra, seleção pregou "vaidade zero" para conquistar prata
2012: final contra México ficou marcada por briga e apagão aos 30 segundos
Se a preparação para o Rio 2016 não foi perfeita, ex-jogadores e treinadores avaliam que, dessa vez, a CBF parece não ter repetido erros do passado. E ainda há o fator caseiro. A questão foi trabalhada com atenção especial pela comissão técnica comandada pelo treinador Rogério Micale, já que, na Copa do Mundo, o fato de jogar nas principais capitais do país levou os jogadores ao limite emocional:
– Não podemos ter esse grau de responsabilidade – disse o treinador do grupo principal, Tite, em julho, após visita ao grupo na Granja Comary. – O que precisamos é de uma preparação de excelência.
Para jogar bem e avançar no torneio, como querem os professores, será preciso dar cara a um time cheio de talentos, mas com pouco tempo de treinamento. Mais do que o entrosamento dentro de campo, quem já jogou uma Olimpíada garante que ter um vestiário fechado é essencial. Para o ex-meio-campista Geovani, capitão e um dos muitos craques da seleção de prata em 1988, o objetivo em comum deve ser maior do que possíveis vaidades:
– Com os jogadores que tem há chance de ganhar, mas ninguém pode se achar melhor do que o outro.
Contra a África do Sul, Micale deve montar o time com Neymar, Gabriel Jesus e Gabigol no ataque, municiados por Renato Augusto e Felipe Anderson. A postura ofensiva agrada ao ex-zagueiro Mauro Galvão, que ganhou a prata em 1984. Ele avalia, no entanto, que uma competição de tiro curto exige atenção:
– O grupo tem que entender o espírito da competição. É diferente, muito curto, então tem que entrar ligado sempre e jogar mordendo o adversário.
É com o apoio e usando a favor as histórias de quem chegou perto que a seleção olimpíca vai em busca do ouro inédito. A primeira demonstração de como Neymar e seus companheiros vão se comportar acontece nesta quinta, no Mané Garrincha.
*ZHESPORTES