Argentina, nunca ganhou nada
Argentina, nunca ganhou nada
Seleção falida, Messi desistiu
Vinte e quatro anos, vai pra...
Bom, a gente sabe pra onde. Os versos acima ecoavam pelos corredores da Arena Carioca 1 antes de um Brasil x Argentina que forçou os rivais a disputar espaço não só na quadra de basquete, mas também nas arquibancadas. Foi um clássico de torcida mista, mas não apenas em um local reservado e controlado, como nos Gre-Nais.
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Em meio aos torcedores, a impressão era de que haviam derramado gasolina por todo o ginásio e alguém passeava, de um lado ao outro, com um fósforo na mão. Bastaria uma faísca para uma confusão generalizada estourar. Antes da partida, os capitães Marcelinho Huertas e Luis Scola foram ao meio da quadra para pedir "espírito olímpico" aos espectadores. Quando Scola pegou o microfone, foi vaiado intensamente e riu da situação bizarra. Ainda bem que uns mais equilibrados puxaram um aplauso que abafou os apupos. Mas a sensatez não era regra.
– Acho que eu vou apanhar aqui – resumiu uma senhora encaixotada no meio de um barulhento grupo de hermanos.
Logo a sua frente, dois barbudos, um de camisa amarela, outro de alviceleste, estavam lado a lado. Eram do tamanho de dois armários, pareciam ter saído do levantamento de peso – ok, não era tanto assim, mas os caras eram fortes. Imaginei o que poderia acontecer se a rivalidade provocasse uma briga daqueles dois. Não sei se a Arena aguentaria.
Eta, eta, eta, eta
O Messi não tem Copa
Quem tem Copa é o Vampeta
Eta, eta
Emendavam os brasileiros. Os argentinos se levantavam para cantar que ser de lá "é um sentimento" e que "não podem parar". Não arriscavam o já infame "décime que se siente", mas pulavam juntos enquanto diziam que "quem não salta é do Brasil".
Coitados dos voluntários e soldados da Força Nacional, que se desdobravam. Os hermanos queriam ficar juntos na Arena e, com isso, desrespeitavam o assento impresso no bilhete. Com o jogo já em andamento, torcedores em busca do seu lugar deparavam com um mar de camisas azuis e brancas. Os voluntários pediam que se retirassem e, muitas vezes, tinham de contar com o auxílio da segurança.
Já no segundo tempo, com todos devidamente acomodados, os ânimos se acalmaram. Os argentinos se acostumaram a ouvir a música que diz que Pelé fez mil gols e que Maradona é um "cheirador" – alguns riam, outros até tiravam o celular do bolso para filmar. Os brasileiros já não se incomodavam tanto com os cânticos ritmados tão característicos dos vizinhos.
Até os dois armários fizeram amizade. Comentavam o jogo, falavam amenidades, se divertiam. O argentino apresentou os amigos ao brasileiro. Formou-se um grupo internacional.
Nem os nervosos momentos decisivos de um jogo com duas prorrogações acirraram o clima. Via-se brasileiros e argentinos solidários um com o outro pelo sofrimento de acompanhar os segundos finais. Quando os hermanos finalmente abriram a vantagem definitiva e a torcida se encaminhou para a saída, amizades feitas em meio à tensão do jogo se mostraram, com cumprimentos de despedida. Lindo, não é? Só que bastou os brasileiros deixarem o ginásio para nossos rivais aproveitarem a Arena vazia.
Vamos, vamos Argentina
Vamos a ganhar
Que eles nasceram nossos filhos
Filhos nossos morrerão
O canto retumbava pela Arena vazia, com cinco ou seis grupos de argentinos felizes a tripudiar. Relembraram o "décime que se siente" e, entre um canto e outro, ouvia-se um "shhhh" que pedia um minuto de silêncio pela morte do Brasil. Festejaram por mais de 10 minutos após o fim do jogo, até que a Força Nacional se juntou e os escoltou pra fora. É preciso receber bem as visitas, mas cordialidade tem limite.