– Não tenho como dizer como vai ser o futuro. Esses projetos provavelmente vão acabar do jeito que está a situação. A gente tem se informado e tem sido informado sobre isso. Agora é aguardar para ver o que vai acontecer – disse um pessimista e preocupado nadador Henrique Rodrigues, ao deixar sua bateria semifinal dos 200m medley.
A frase resumia o sentimento dos atletas sobre o que poderia ocorrer no pós-Olimpíada com o esporte brasileiro, que bateu recorde de medalhas no Rio de Janeiro impulsionado por investimentos na preparação de cerca de US$ 600 milhões (mais de R$ 1,9 bilhão) nos últimos quatro anos. Criou-se uma rede de recursos de várias fontes, a maior parte públicos, para auxiliar os atletas. Ao menos a promessa das autoridades é que os programas serão mantidos. O desafio é que, em Tóquio 2020, o Brasil esteja mais próximo de seguir o exemplo britânico e não repita a derrocada da Grécia depois de sediar os Jogos de Atenas.
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O país-sede costuma ter resultados históricos em Olimpíadas para depois ter uma leve queda nos ciclos seguintes. A Grã-Bretanha quebrou, no Rio, essa tendência. Superou o número de pódios de Londres e terminou na histórica segunda colocação do quadro de medalhas, à frente da China. A Grécia, no sentido contrário, murchou após Atenas 2004. Depois dos 16 pódios em casa, foram quatro em Pequim, dois em Londres e seis no Rio.
– A gente precisaria de mais uns 20 anos de investimento para fazer algo como o que fez a Grã-Bretanha. Ela desenhou uma política de Estado ligada ao esporte – destaca o gerente executivo do COB, Marcus Vinicius Freire.
Talvez a iniciativa mais próxima da tal "política de Estado" seja a Rede Nacional de Treinamentos, do Ministério do Esporte, que prevê forte investimento em infraestrutura. Nos últimos quatro anos, aparelhos como novas pistas de atletismo foram erguidos pelo país. Algumas das arenas do Parque Olímpico, por exemplo, fazem parte da Rede e permanecerão como estruturas de alto nível para equipes brasileiras. Dos 239 Centros de Iniciação ao Esporte com construção prevista no programa (um aporte de R$ 861 milhões), apenas um foi entregue, em junho, em Franco da Rocha, interior paulista. Com os cortes que têm atingido vários setores do governo, há dúvida sobre a continuidade do projeto, mas o Ministério do Esporte garante que o entregará.
A Lei de Incentivo ao Esporte, que oferece vantagens tributárias a empresas que bancam projetos aprovados pelo Ministério, já teve sua prorrogação aprovada no Congresso. O desafio agora é conseguir captar, junto à iniciativa privada, os recursos já aprovados.
– Nós temos de oferecer mais vantagens para que as empresas patrocinem. A maior dificuldade da Lei é a captação – defende o deputado federal João Derly (REDE-RS).
Outro programa com continuidade garantida é o Bolsa Atleta, que remunera atletas de destaque e já foi transformado em lei. Sua modalidade de remuneração mais alta, o Bolsa Pódio, que foi implementado com foco em 2016, também tem sequência assegurada pelo governo federal.
– Vamos manter o Bolsa Atleta, e vamos buscar mecanismos para que o Bolsa Pódio seja mais eficiente, modalidade a modalidade. É preciso que o esporte seja visto como política pública necessária para o desenvolvimento do país – afirmou o ministro do Esporte, Leonardo Picciani.
O Bolsa Pódio distribui salários entre R$ 5 mil e R$ 15 mil para atletas que, de acordo com avaliação do Ministério, entram em Jogos Olímpicos com chance de medalha.
Há também a situação das Confederações, que foram, em grande parte, turbinadas por patrocínios de empresas estatais. Petrobras, BNDES, Correios, Caixa, entre outras corporações ligadas ao Estado, injetaram recursos além dos oriundos da Lei Agnelo Piva, que distribui um percentual dos ganhos com as loterias federais para as entidades de cada modalidade. No cenário de crise, com várias dessas empresas prejudicadas financeiramente, pode ser um aporte sob risco nos próximos quatro anos.
Ministério da Defesa seguirá investindo em militares temporários
Criado em 2008, o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), que seleciona esportistas para fazer parte das Forças Armadas, seguirá firme até 2020, com foco nos Jogos Mundiais Militares de 2019 e a Olimpíada de Tóquio.
Exército, Aeronáutica e Marinha fazem a seleção de seus novos integrantes por meio de editais públicos. Os atletas se candidatam e são avaliados, sendo que seus resultados esportivos entram como um dos critérios para a escolha.
Assim, 145 dos 465 competidores brasileiros nos Jogos do Rio são militares. Por isso a cena de atletas prestando continência nos pódios tornou-se tão comum.
Os selecionados recebem remuneração (um terceiro sargento ganha salário líquido de cerca de R$ 3,2 mil) e benefícios. Podem também utilizar as instalações militares para treinos. Os contratos temporários são de, no máximo, oito anos, mas podem ser renovados.