Não foi só no Brasil que as múltiplas – e aparentemente mentirosas – versões do assalto aos nadadores norte-americanos durante a Olimpíada pegaram mal. Na cidade onde treina Ryan Lochte, o principal protagonista do polêmico caso, os moradores estão envergonhados pela situação. Quem conta é o porto-alegrense Mauren Piucco, administrador de 38 anos que mora há 12 anos em Gainsville, na Flórida.
– No início (quando o roubo veio à tona), as pessoas ficaram indignadas, criticaram o fato de os Jogos serem em um país de terceiro mundo, que os atletas nem deveriam ter ido ao Rio. Depois, na medida em que as novas informações foram surgindo, todo mundo foi se indignando, passaram a dizer: "é uma vergonha para o nosso país". Querem que ele se desculpe – afirmou Piucco a ZH por telefone.
Por lá, o assunto dominou programas de televisão, capas de jornal, conversas nas ruas.
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Localizada a uma hora e meia de Orlando, Gainesville é uma cidade universitária ao estilo Santa Maria, quase metade da população é formada por estudantes. Por isso, segundo o gaúcho, além de sediar a Universidade da Flórida, a maior do Estado, e uma faculdade com infraestruturas de ponta, inclusive para o esporte, a cidade tem uma completa oferta de vida noturna. E Lochte usufruía de ambas.
Isso foi comprovado em um reality show estrelado pelo próprio nadador. Em What Would Ryan Lochte Do? (O que Ryan Lochte faria?, em tradução livre), veiculado pelo canal E! Entertainment em 2013, Lochte mostrava o seu cotidiano, que se divida entre natação, família (ele é casado) e as baladas.
Antes de o programa ser cancelado (teve apenas oito episódios), Piucco chegou a ser figurante durante uma gravação do reality em um bar onde o brasileiro estava com amigos.
– Gainsville é uma cidade relativamente pequena, onde todo mundo se conhece e se esbarra pela rua. Eu vi ele (Lochte) mais de uma vez andando por aí, principalmente em bar. Todos o reconhecem pelo grande medalhista que é – conta o administrador.
Também por isso, o atleta já era figura controversa antes da polêmica na Olimpíada do Rio. Ganhou até mesmo um apelido: The america's sexiest douchebagquais ("o idiota mais sexy da América", em português). A revista online Jezebel cita 10 razões de o por que o título é merecido. Entre elas, a de que o nadador se autodenomina um rock star e porque ele ostentou diamantes nos dentes que se pareciam com a bandeira dos EUA para subir ao pódio em Melbourne, em 2007 – o "enfeite" custou 25 mil dólares.
Para Piucco, a atitude de esconder um fato pessoal a partir da história do roubo foi errada, mas provavelmente não intencional:
– (Nós, brasileiros) temos problemas suficientes para ter que carregar o fardo de algo que não aconteceu. Mas não acho que ele teve a intenção de nos prejudicar, de humilhar, embora isso tenha acontecido no começo. Acho mais que foi a atitude de um jovem inconsequente, que quis omitir algo.
Mentira foi confessada por colegas
Os companheiros de Locht, também nadadores, Gunnar Bentz e Jack Conger prestaram depoimento à Polícia Civil nesta quinta-feira e admitiram ter mentido a respeito do caso. Segundo eles, a mentira foi arquitetada por Lochte com o objetivo de preservar o relacionamento de um dos atletas que teria ficado com uma garota na festa em que eles estavam. Bentz e Conger não revelaram qual nadador estava envolvido no caso.
Depois de ouvidos, eles tiveram seus passaportes liberados para que possam retornar aos Estados Unidos. Lochte já havia voltado aos Estados Unidos na última segunda-feira, antes da decisão judicial que o impedia de sair do Brasil.
Junto de James Feige, que também prestou depoimento, os quatro deverão ser indiciados por falsa comunicação de crime.