Gideoni Monteiro, 26 anos, não quer ser lembrado apenas como o ciclista brasileiro que quebrou um jejum de 24 anos no país, ao conseguir a classificação para a Olimpíada - desde 1992, quando Fernando Louro foi a Barcelona, o Brasil não classificava um atleta aos Jogos para provas com a bicicleta. Não bastasse o feito, que foi motivo de comemoração e expectativa, Gideoni também quer brigar para chegar o mais longe possível. Sabe que a medalha é tarefa bastante difícil - até por isso, evita falar em subir ao pódio. Mas não quer desistir e pensa em brigar de "igual para igual".
Para chegar ao Rio de Janeiro na melhor performance, o atleta, nascido na pequena de Groaíras, município cearense de pouco mais de 10 mil habitantes, cruzou o oceano para treinar em Aigle, na Suíça, em um intercâmbio da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC). Muito antes de sonhar com a Olimpíada, Gideoni havia decidido deixar o Nordeste para seguir a carreira no ciclismo. Partiu em busca de "objetivos maiores", é o que justifica.
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Parou em Iracemápolis, em São Paulo - um pouco por acaso do destino. A intenção era que integrasse uma equipe de Santos, que hoje Gideoni faz parte, mas o time não dispunha de alojamento. Aos 15 anos, ficou sob os cuidados de Renato Buck, proprietário da escola de ciclismo de Iracemápolis.
– Todos os meninos que vêm Norte, do Nordeste, parece que vêm com uma garra, parece que são diferenciados. A gente notou, já nas primeiras provas, que ele tinha condições, tinha futuro – relembra Buck. – A gente admirava que ele fazia tudo que era passado para ele. Sempre foi inteligente, estudava os adversários.
Hoje, Gideoni destaca-se no ciclismo de pista, na prova do Omnium (similar ao pentatlo moderno, mas agrega seis provas no seu programa, em vez de cinco). O início da carreira, porém, foi na modalidade estrada. Foi nesse tipo de prova que o cearense comemorou suas primeiras conquistas como atleta. Sagrou-se campeão Pan-Americano de ciclismo sub-23, no Uruguai, em 2008, o que lhe rendeu um convite para treinar com uma equipe italiana. Já no ano seguinte, embarcou para a Europa para qualificar seu desempenho. Voltou duas temporadas depois, quando começou o processo de migração para a pista.
– Depois de um período de bastante experiência, eu estava de volta ao pelotão brasileiro em 2012. Foi quando tive meus primeiros contatos com a pista. Mas ainda meu foco maior era na estrada. Só em 2014 decidi entrar de cabeça nessa modalidade. Graças a Deus, estamos indo no caminho certo e ajudando a difundir a modalidade no país – aponta Gideoni.
A trajetória também ficou marcada por alguns tombos. O mais famoso ocorreu no Pan de Toronto, ano passado, durante o Omnium. Mesmo com o ardor na coxa direita, que ficou ralada devido à queda, conquistou medalha de bronze. O arranhado, é verdade, parece pouco quando Gideoni conta o que lhe ocorreu há quatros.
Era final de 2012. Pedalava em uma estrada paulista quando um caminhão, que estava na contramão, não viu o ciclista. Os dois bateram de frente. Gideoni teve uma fratura exposta no braço direito, uma luxação e escoriações pelo corpo. Colocou uma placa para ligar os ossos. Resultado: ficou quatro meses afastado dos treinos.
– Eu nunca desanimei. Sempre tive a esperança de que iria voltar – relata sobre a época.
Sem polêmicas sobre o velódromo
Gideoni evita críticas à organização da Olimpíada devido ao atraso no Velódromo. O evento-teste que ocorreria no local (inicialmente programado para março, mas que foi adiado para 30 de abril e 1º de maio) acabou cancelado, já que a obra não ficou pronta. O atraso ocorreu, principalmente, na construção da pista. A prefeitura do Rio decidiu romper o contrato com a construtora, à beira da falência, e o caso está na Justiça.
– É uma pena o Velódromo não ter ficado pronto, pois seria uma oportunidade das pessoas irem se familiarizando com as provas de pista. Mas, para minha preparação, não interferiu, pois já estava no nosso planejamento fazer nossa preparação no centro mundial (na Suíça). E tenho certeza que até os jogos estará tudo pronto – aponta.
A prova Omnium
- As corridas da Omnium são: Scratch, Perseguição Individual, Eliminação, 1Km Contrarrélógio, Flying Lap e Prova por Pontos.
- Flying Lap: Os ciclistas percorrem três voltas no velódromo. As duas primeiras voltas são apenas para ganhar velocidade e a última é decisiva e única cronometrada. Ganha quem fizer o menor tempo.
- Scratch: É uma prova tradicional, similar aos circuitos que ocorrem na estrada. O pelotão larga junto e ganha quem completar na primeira colocação. Os homens percorrem 16km e as mulheres 10km.
- Perseguição Individual: Dois ciclistas largam em lados opostos do velódromo, disputando quem anda mais rápido em 16 voltas/4km.
- Eliminação: Os ciclistas largam juntos e, durante a disputa, ocorrem chegadas intermediárias a cada duas voltas. O último atleta a passar pela linha de chegada é eliminado da competição. A eliminação ocorre até restar apenas três atletas para realizarem a chegada final.
- 1km Contrarrelógio: Os ciclistas largam individualmente e ganha aquele que fizer o melhor tempo. O percurso é de 1km para os homens e 500 metros para as mulheres.
- Prova por Pontos: É a última prova do programa. Os ciclistas largam na prova contabilizando a pontuação acumulada nas outras cinco etapas. Durante a disputa, chegadas intermediárias ocorrem a cada 10 voltas e os três primeiros ciclistas a cruzarem a linha de chegada somam pontos na classificação geral. O ciclista que conseguir dar uma volta no pelotão também soma pontos. O vencedor é aquele que terminar a prova com a maior quantidade de pontos acumulados.
*ZHESPORTES