Um exército de 50 mil homens e mulheres de todos os Estados brasileiros e de mais de 150 países já foi convocado para entrar em operação em pouco mais de dois meses no Rio de Janeiro, que concentrará as atenções do mundo inteiro de 5 a 21 de agosto. Um traço em comum une esse contingente que mobilizou povos de diferentes culturas, idiomas e religiões: a paixão pelo esporte.
Há cerca de um mês, os candidatos que foram selecionados a uma vaga de voluntário nos Jogos Olímpicos começaram a receber a carta-convite do Comitê Organizador Rio 2016, que em 2014 abriu as inscrições para reunir uma das forças de trabalho mais importantes do maior evento poliesportivo do planeta.
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Nos palcos das competições ou pela TV, você conseguirá identificar com facilidade essa turma que se ofereceu para trabalhar de graça – e arcando do próprio bolso com custos como passagens aéreas e hospedagem – na Olimpíada carioca. Vestidos de uniformes verde, amarelo, vermelho e azul, os voluntários estarão presentes em mais de 100 instalações olímpicas, esportivas ou não.
Intérpretes, canoístas, estatísticos, veterinários e até capelões fazem parte do time de voluntários. Entre os mais de 500 cargos e funções, as equipes de apoio serão responsáveis por escoltar atletas e árbitros de 206 países, conferir ingressos e orientar o público nos acessos às arenas e até mesmo executar serviços técnicos ou especializados, como a operação de placares ou atendimento médico aos competidores.
– São pessoas muito motivadas e engajadas – afirma Flávia Fontes, gerente do programa de voluntários dos Jogos. – A maioria delas vem pelo esporte. Ou são amantes dos esportes, ou o esporte delas é ajudar.
– Alguns amigos me criticam: "Por que tu vais trabalhar de graça?". Mas eu acredito no trabalho voluntário e no engajamento olímpico. Esse é o espírito olímpico – diz a ex-esgrimista Silvia Rothfeld, uma das 1,5 mil pessoas que moram no Rio Grande do Sul selecionadas pelo Rio 2016.
Conheça a história de Silvia e de outros quatro voluntários apaixonados por esportes e pelos Jogos Olímpicos.
A conquista da ex-esgrimista
Depois de três tentativas frustradas de disputar os Jogos, Silvia Rothfeld, enfim, vai encontrar a redenção na Arena Carioca 3. É no palco da esgrima que a fisioterapeuta de 44 anos pisará pela primeira vez em uma área de competição olímpica. No Rio, a voluntária será responsável pelo primeiro atendimento aos esgrimistas.
– A possibilidade de participar de uma Olimpíada no meu país é um sonho. Tentei a classificação para Atlanta (1996), Sydney (2000) e Atenas (2004) e não
consegui a vaga – diz a ex-esgrimista, que, por garantia, já havia investido R$ 2 mil em ingressos para todas as sessões da modalidade.
Enquanto comemora a oportunidade, Silvia também se preocupa em consolar o namorado, o esgrimista Marco Xavier, que ficou de fora dos Jogos de 2016 por um ponto na seletiva nacional. Uma dor que ela conhece: nos Jogos da Grécia, a gaúcha também perdeu a vaga por um ponto.
Repeteco em terras cariocas
Pela segunda vez, Veridiana Bomfim Dias, 33 anos, será voluntária no Rio – em 2007, fez parte da equipe de apoio do Pan. Em agosto, a gerente de produtos esportivos de uma grande rede de lojas será uma espectadora privilegiada. Afinal, poucos verão de tão perto uma lenda olímpica, o americano Michael Phelps. Nadadora nas horas de folga, ela atuará na área de competições do Estádio Aquático.
– Eu respiro esporte – resume a paulista radicada há seis anos em Porto Alegre.
Por enquanto, a maior preocupação de Veridiana é encontrar "uma cama ou um sofá" no Rio.
– Estou à procura de um voluntário para me hospedar – brinca.
Um salto para a pista de Deodoro
Apaixonado por cavalos desde a infância, quando o pai, militar, costumava levá-lo a um regimento vizinho à cavalaria em Santa Maria, Leandro Andreoli Balen, 46 anos, tornou-se um especialista na arte de desenhar percursos das provas de salto do hipismo. Assim como nos Pan-Americanos de Santo Domingo 2003 e do Rio 2007, o tenente-coronel da Brigada Militar integrará o time de voluntários responsável pela armação dos obstáculos em uma das modalidades mais elegantes da Olimpíada.
As características dos percursos a serem montados no Complexo Esportivo de Deodoro são segredo. Balen adianta que os obstáculos serão decorados com temas típicos do Brasil.
– A ideia é levar a cultura do país para dentro da competição. Tem de fazer, do percurso, um show. Precisa ser atrativo e seguro – define o oficial da BM.
Na torcida por uma quebra de recorde
André Luiz Dias torcerá para que um dos recordes mais antigos do esporte seja quebrado no Engenhão, estádio onde trabalhará com a equipe de voluntários da arbitragem nas provas de campo e pista do atletismo.
Em 1993, o cubano Javier Sotomayor estabeleceu 2m45cm no salto em altura, 53 centímetros a mais do que a melhor marca obtida pelo bancário de 29 anos em seus tempos de atleta.
Há cerca de um mês, o jovem recebeu a carta-convite do Comitê Organizador.
– Estava ansioso – admite o rapaz, que já alugou um apartamento com outros três voluntários na Barra da Tijuca.
*ZHESPORTES