Houve uma histeria feminina adolescente quando os ônibus que transportavam a comitiva que traria a chama olímpica para o Brasil chegou ao aeroporto de Genebra, na Suíça. Pelo menos 20 meninas correram e gritaram e choraram e pularam e tiveram aquelas atitudes típicas das fãs enlouquecidas quando veem um ídolo – dos Beatles a Justin Bieber. No grupo, estava Giovane Gávio. O bicampeão olímpico foi um símbolo da beleza masculina entre os anos 1990 e o início dos anos 2000. Para quem não estava aqui nesta época, era uma espécie de goleiro Alisson do vôlei.
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Então era isto a histeria coletiva, pensei. A presença de Giovane, que mantém um porte semelhante àquele que derrubava bloqueios adversários e corações na arquibancada, ainda motivava os gritinhos juvenis. Aos 45 anos, ainda com cabelos escuros e o mesmo corte de 20 anos atrás, sorriso aberto e simpatia, caminhava pelo saguão enquanto as gurias corriam em sua direção.
E passaram reto.
Incrível, era como se não tivessem nem visto aquela figura de 1m93cm. Os gritos e lágrimas e pulos, aquelas atitudes típicas de fãs enlouquecidas quando veem um ídolo – de Heleno de Freitas a Cristiano Ronaldo – eram para Thaynara OG e Maju Trindade.
Nunca ouviu falar delas, caro(a) leitor(a) idoso(a) de mais de 25 anos, como eu? Pois seu filho/neto/sobrinho/enteado de, sei lá, cinco a 18 anos, conhece.
Essas meninas são as celebridades da Internet. Mesmo quase sem aparecer na TV, dominam o universo adolescente e começam a tomar o mercado publicitário. As duas – e outros youtubers, snappers e instagramers (nomes dados aos "influenciadores" destas redes sociais) – foram convidados pela organização dos Jogos e por patrocinadores para acompanhar a passagem da chama olímpica da Suíça ao Brasil. E, provavelmente, ganharam mais atenção do que qualquer outra pessoa que estava lá.
Só para dar um exemplo: Maju Trindade tem mais de 2,8 milhões de seguidores no Instagram. Cada foto sua ganha pelo menos 150 mil likes em menos de um minuto. Anunciantes chegam a pagar R$ 15 mil para ela usar seus produtos. E rola até mais grana se ela fizer um vídeo elogiando alguma coisa. Aos 17 anos, a estudante do terceiro ano do ensino médio ganhou fama fazendo imagens do cotidiano, dando dicas de vida (!!) e fazendo caretas engraçadas. Seu pai, que tem apenas 15 anos a mais do que ela, terceirizou o comércio que tinha no interior paulista e passou a cuidar da "carreira" da filha. Hoje, ganham R$ 200 mil por mês. E suas redes sociais dão mais resultado do que de artistas famosas, como Bruna Marquezine. A ponto de levar 20 brasileirinhas a sair de casa/escola a ir ao aeroporto de Genebra para fazer selfies, vídeos e poses e levar presentes diversos – como sempre fizeram as fãs, de John Wayne a Robert Pattinson.
Por isso, naquele frissom todo, não resisti. Na fila do check-in, brinquei com Giovane:
– Quem diria que uma histeria adolescente não seria para ti, hein?
Bem-humorado, fez a piada de que tudo passa, até a uva, e emendou:
– Imagina se tivesse redes sociais em 1992...
Imaginei.
Se tivesse redes sociais em 1992, 2016 não seria o estranho ano em que uma foto entre um bicampeão olímpico e uma adolescente de 17 anos tivesse como pessoa mais influente, justamente, a adolescente.