Às 16h52min de 5 de abril, a reportagem de ZH embarcou em um Cobalt na Duque de Caxias, uma avenida de Deodoro cercada por instalações dos Jogos do Rio, que começam daqui a 103 dias. Indagado sobre a estimativa de tempo para percorrer 40 quilômetros até Copacabana, outra região olímpica da cidade, Daniel Campina Oliveira, um taxista de 25 anos que atua na Zona Oeste, mostrou confiança:
– Ah, calcula aí uma hora. A vantagem é que agora vamos no sentido contrário do trânsito mais pesado. Nesse horário, o pessoal que trabalha no Centro e na Zona Sul está voltando para cá.
Quando o táxi ainda rodava por ruas da região, o otimismo de Oliveira começou a murchar.
– Não era para ter esse congestionamento aqui... – lamentou o rapaz, enquanto consultava o Waze, aplicativo de celular que ajuda a planejar rotas no trânsito.
Nas duas horas e 27 minutos seguintes, tempo que levamos para chegar ao destino (faça as contas: é quase 30 minutos a mais do que um voo regular entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro!), experimentei uma dose do suplício infligido aos cariocas diariamente. Espremidas entre morros e o mar e tomadas por uma frota que não para de crescer, as principais vias da cidade-sede da Olimpíada paralisam do início da manhã até a noite.
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Para evitar o caos da mobilidade entre 5 e 21 de agosto, as autoridades de trânsito estão montando uma operação de guerra. A comparação não é força de expressão, segundo palavras do secretário municipal de Transportes do Rio, Rafael Picciani.
– Em termos de logística, transporte, equipamentos, a mobilização para uma Olimpíada só é comparável às da I e da II Guerras Mundiais – afirmou.
Entre diferentes ações e medidas de caráter excepcional (veja quadro ao lado), o público olímpico em particular (a estimativa é de 450 mil pessoas) e os cariocas em geral aguardam ansiosamente a conclusão de dois grandes projetos de mobilidade urbana: o BRT Transolímpica e a linha 4 do metrô. Há três semanas, ZH visitou os canteiros de obras e constatou que ainda há muito trabalho a se fazer até os Jogos. Mas tanto a prefeitura do Rio (responsável pelo sistema de ônibus de grande capacidade de passageiros) quanto o governo fluminense (que opera os trens subterrâneos) garantem: até julho, um mês antes da Olimpíada, os novos serviços estarão em funcionamento.
Outra preocupação é garantir sem sustos o transporte da chamada "família olímpica" – dirigentes, árbitros e atletas – aos locais de competição durante o evento. Serão criados 260 quilômetros de rotas especiais para que nenhum competidor fique pelo caminho.
– Os deslocamentos precisam ser confiáveis e previsíveis. Não podemos correr o risco do Usain Bolt se atrasar no caminho entre a Vila dos Atletas e o Engenhão – diz Picciani, referindo-se à casa das delegações, na Barra, e o estádio que sediará prova de atletismo, distantes 19 quilômetros.
BRT TRANSOLÍMPICA – Com 26 quilômetros de extensão, o corredor ligará duas regiões olímpicas, Deodoro e Barra. O sistema de ônibus de grande capacidade transportará 70 mil pessoas diariamente.
LINHA 4 DO METRÔ – Terá 16 quilômetros e ligará Ipanema e a Barra da Tijuca. Cinco das seis estações deverão estar em funcionamento nos Jogos. Na Estação Jardim Oceânico, na Barra, haverá integração com o sistema de BRT, com linhas especiais que levarão ao Parque Olímpico da Barra.
VLT – O bonde moderno terá integração com metrô, trens, barcas, BRTs e ônibus convencionais. A ideia é desafogar o trânsito da região central, reduzindo o fluxo de veículos. São 28 quilômetros de linhas que funcionarão 24 horas por dia. A velocidade média será de 15km/h.
O trânsito não pode parar
Em agosto, o Rio terá um plano de mobilidade especial para atender ao público dos Jogos, estimado em 450 mil pessoas. Veja as principais ações:
– Férias escolares para as redes pública e privada de ensino em agosto.
– Criação de 260 quilômetros de rotas olímpicas. Desse total, 164 quilômetros estão reservadas a faixas dedicadas (apenas veículos da família olímpica poderão transitar) e 60 quilômetros serão de pistas prioritárias (carros credenciados dividirão o espaço com ônibus e táxis).
– A circulação será feita preferencialmente por meio do cartão de transporte olímpico, um passaporte individual de acesso ao transporte público sem limite de viagens diárias. O cartão será aceito nos ônibus municipais, metrô, vans credenciadas, trens, VLT e barcas, além dos teleféricos do Alemão e da Providência. Os passes custarão R$ 25 (1 dia), R$ 70 (3 dias) e R$ 160 (7 dias).
*ZHESPORTES