Luis Carlos Cardoso estaria dançando esta noite. Era sempre assim, e por isso hoje não seria diferente. Talentoso e apaixonado pela dança, começou a dar aulas após assistir programas de TV e aprender os passos com amigos. Tornou o hobby profissão e, anos mais tarde, integrou bandas de forró. No auge da carreira, fazendo parte da banda do astro Frank Aguiar, Luis Carlos teve o sonho abreviado. É o desejo de conquistar uma medalha paraolímpica, hoje, que move o piauiense natural de Picos.
Esta noite, não muito tarde, Luis Carlos Cardoso estará dormindo. Tem sido sempre assim, e por isso hoje não será diferente. Apaixonado pela canoagem, iniciou a trajetória depois de uma profunda investigação hospitalar, que levou à constatação de um parasita alojado em sua medula, deixando-o paraplégico.
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Fato inesperado, a infecção divide a história de Luis Carlos em dois capítulos: o primeiro, ligado à dança, à música e à noite que invadia a madrugada. O outro, à canoagem, à superação e aos intensos trabalhos diurnos.
Luis Carlos, o desportista
Nem que quisesse, Luis Carlos poderia voltar a viver o personagem das primeiras páginas da própria vida.
- Não consigo mais ficar acordado até tarde. Dá 23h e eu já estou com sono. Acordo muito cedo. Antes era totalmente da noite, agora mudou completamente minha rotina.
O que desgasta Luis são seus treinos de duas horas na água sob o comando do técnico húngaro Ákos Angyal, duas horas de academia e dois turnos de aquecimentos de 30 minutos. Campeão da Copa do Brasil, do Mundial e do Parapan em 2015, o piauiense foi eleito o melhor atleta paraolímpico brasileiro de 2015 em cerimônia oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Ainda sem vaga garantida nos Jogos Paraolímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, ele precisa se superar diariamente para alcançar o sonho de participar do maior evento esportivo do mundo.
Um dos motivos, ele mesmo explica:
- Eu competia na canoa, mas tiraram ela dos Jogos, e agora para poder brigar pela vaga da Paraolimpíada precisei passar para o caiaque. É uma mudança drástica porque a canoa dá mais estabilidade, e o caiaque é muito instável - explica Luis, que, até ser forçado a mudar de embarcação, tinha trauma de caiaque por conta das dificuldades sentidas em 2011, quando procurou pelos esportes náuticos para se reabilitar.
Outra explicação para o esforço constante é a limitação de apenas uma vaga para o Brasil na sua modalidade. Ouro do Parapan de Toronto e campeão mundial no caiaque e na canoa, ele tem como concorrente principal a um lugar na Paraolimpíada o ex-BBB Fernando Fernandes.
Se conseguirá chegar à Paraolimpíada, Luis Carlos saberá apenas em maio.
Luis Carlos, o dançarino
Swing Alucinante foi o primeiro grupo de dança de Luis Carlos. Ele mesmo criou, junto com um amigo. Proativo, tomava iniciativas quando as oportunidades tardavam a aparecer. Foi o que fez aos 14 anos, quando diante das limitações financeiras foi morar no Rio de Janeiro com a irmã em busca de emprego. Como a estratégia não vingou, voltou para Picos.
Após algum tempo dando aulas de dança na cidade natal, saiu de casa novamente. De maneira bastante simples.
- Uma amiga minha conhecia o pessoal da banda de forró Cacau com Mel, e estavam havendo uns festejos. Minha amiga sabia que estavam precisando de gente e me indicou. Aí alguns dias depois passaram lá na minha casa e me levaram. Simples assim.
Foi o começo de uma peregrinação por vários grupos: Banda Líbanos, Forrozão Tropikalia, Banda Paquera, Baby Som e Forró Cariciar entraram para o currículo de Luis Carlos. Até surgir uma das grandes oportunidades da vida do dançarino.
- Eu trabalhava em bandas de baile, fazia figuração em novelas, e então conheci uma amiga que descobriu que o Frank (Aguiar) estava precisando de um dançarino. Fui, dancei no palco, já que ele queria ver minha performance com o público, e aí me chamou no camarim e falou que eu estava contratado - recorda.
O parasita alojado na medula, que deixou Luis Carlos paraplégico, interrompeu a trajetória de dois anos ao lado de Frank Aguiar - nove ao todo no mundo profissional da música.
- Foi bem complicado para mim porque ali não foi só a deficiência, foi o fim da minha carreira de dançarino. No meu aniversário de 25 anos, dia 11 de dezembro, dei entrada no pronto socorro em São Bernardo do Campo, sentindo fortes dores no corpo e acabei ficando paraplégico. Para piorar, pouco depois, em janeiro, minha mãe (Teresinha Cardoso da Silva) faleceu.
O apoio de amigos e o desejo de superar a qualquer custo a perda da mãe foram, segundo Luis, os motivos que o fizeram vencer as adversidades. Agradecido, ele aponta a fisioterapeuta Regina Cuattrin, quem apresentou a canoagem a Luis, como um dos pilares da própria recuperação. Ele não esquece também de Frank Aguiar.
- Ele sempre foi muito gente boa comigo. Quando fui para a cadeira de roda, ele foi um paizão para mim. Quando comecei na canoagem, ele me ajudou bastante de novo.
*ZHESPORTES
Na luta
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Renan Turra
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