Há alguns meses, imaginava-se que a turbulência vivida pelo basquete brasileiro, a apenas um ano da Olimpíada, não poderia ser pior. Uma dívida da Confederação Brasileira (CBB) com a Federação Internacional (Fiba) ameaçava a participação nos Jogos em casa. Quando a Fiba anunciou que a vaga para o país-sede estava garantida, parecia que a tempestade havia passado. Ledo engano.
As revelações de uma reportagem do portal Uol, que aponta gastos pessoais do presidente Carlos Nunes e de sua mulher pagos com o cartão corporativo da entidade, chacoalharam as estruturas do esporte.
A intensa briga política nos bastidores da CBB deve se agitar. Há dois grupos que fazem oposição a Nunes: um de forma moderada, o outro mais radical. Os que pregam o diálogo são liderados por Amarildo Rosa, presidente da Federação Paranaense. Ele diz ter entrado em contato com Nunes na quarta-feira, dia da publicação da reportagem. Do presidente, afirma ter ouvido a promessa de que haverá uma reunião, até o final do ano, em que dará explicações sobre as denúncias.
- Não vamos assumir uma postura de enfrentamento. Temos de aguardar os desdobramentos e ouvir as explicações - pondera.
A principal crítica de Rosa, que participou do início da gestão de Nunes antes de se afastar, refere-se a problemas administrativos. A arrecadação da entidade cresceu nos últimos anos, uma consequência da ajuda de patrocínios e de incentivos governamentais. As despesas, porém, também subiram. E assim, a CBB estaria sempre operando em déficit.
Apesar do descontentamento, Rosa se afasta da postura da oposição mais radical. Três federações estaduais fazem o enfrentamento mais ferrenho. Maranhão, Mato Grosso do Sul e Goiás devem aumentar o tom das críticas a Nunes. É o grupo ligado ao ex-presidente Gerasime Bozikis, o Grego, que comandou a entidade por 12 anos, entre 1997 e 2009. A coluna tentou, sem sucesso, contato com o líder do bloco opositor, o presidente da Federação Maranhense, Manoel Castro.
ENTENDA O CASO
- O portal Uol revelou documentos que mostram gastos pessoais do presidente da CBB, Carlos Nunes, e de sua mulher, pagos com o cartão corporativo da entidade
- Entre as despesas está um jantar em um restaurante de luxo em Paris e viagens a Cancún e Natal
- A reportagem ainda revela uma troca de e-mails entre Nunes e o presidente da Federação Gaúcha, Gilson Kroeff, que pede a reserva de um quarto duplo para acomodar sua esposa em uma viagem. Na conversa, Kroeff garante que irá ressarcir a Confederação, mas Nunes nega e instrui sua secretária a pagar as despesas da mulher de Kroeff
- De acordo com a matéria, o caso foi parar nos tribunais, onde a Eletrobras cobra R$ 4 milhões de indenização por supostas irregularidades desde 2009, início da gestão de Nunes
- Em nota, a CBB negou o uso indevido de recursos públicos e afirmou que todas as despesas foram remetidas à Eletrobras para análise. Segundo a entidade, "a empresa glosou despesas, retirando-as das prestações de contas. Assim, evidencia-se que não havia intenção de dolo, porque nem a CBB ocultou gastos e nem a Eletrobras deixou de apreciá-los".
Dívida ameaçou basquete no Rio
As denúncias de uma suposta malversação de verbas da CBB tornam-se mais graves diante da difícil situação financeira do basquete brasileiro, algo que deixou as seleções nacionais ameaçadas de não participar da Olimpíada em casa.
Como o time masculino não se classificou para o Mundial de 2014, a Confederação se comprometeu a pagar US$ 1 milhão à Fiba para obter um convite. O valor foi parcelado, mas os brasileiros quitaram apenas a primeira parcela da dívida.
A Federação ameaçou tirar do Brasil a vaga reservada aos países-sede dos Jogos, o que obrigaria o país a buscar um lugar nos difíceis torneios Pré-Olímpicos. Em agosto, porém, a Fiba decidiu manter a vaga dos anfitriões.