É com a experiência de duas Olimpíadas, em Pequim e Londres, que o ponta Murilo é convicto ao afirmar: o Brasil estará forte para 2016. Apesar das recentes decepções no vôlei masculino, com a eliminação prematura na Liga Mundial e a perda na final dos jogos Pan-Americanos de Toronto, o atleta vê a seleção como favorita para conquista da medalha. Não será fácil, avalia ele, mas jogar em casa poderá ajudar os comandados de Bernardinho.
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Eleito o melhor jogador do torneio masculino de vôlei de Londres 2012, Murilo não acredita que haverá uma renovação para a disputa no Rio de Janeiro. Em sua visão, o treinador irá manter o mesmo grupo que atuou nos últimos torneios. Porém, a partir do ano de 2017, o experiente atleta de 34 anos espera que novos nomes surjam. Será a hora de dar oportunidades a quem está iniciando uma carreira no esporte, avalia ele.
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Foto: Divulgação
Em visita ao Rio Grande do Sul, terra onde nasceu, Murilo atendeu a reportagem de Zero Hora e conversou sobre o atual momento do vôlei, as expectativas para 2016, aposentadoria e família. Confira a entrevista na íntegra:
Murilo, esse ano não tem sido muito bom para o vôlei brasileiro. Teve a eliminação precoce na Liga Mundial, e a perda do Pan de Toronto. Como você vê esse momento? Tem chance de recuperação a tempo da Olimpíada?
Foi um ano bem complicado. A gente não conseguiu jogar as duas competições, porque foram praticamente simultâneas, então a gente teve que dividir o grupo. O grupo principal ficou com a Liga Mundial, por ser no Brasil e por ser um evento teste para a Olimpíada. Como você falou, foi bastante frustrante para gente não ter chego ao menos na semifinal. A gente iria jogar no fim de semana, sábado e domingo, brigar por medalha. E realmente a gente saiu bem chateados por não ter alcançado esse objetivo, já que, por trazer esse evento para o Brasil, era esse o interesse do Bernardo, da comissão técnica e nosso. Jogar em casa, no palco da Olimpíada. Pressão da torcida, pressão da imprensa, familiares todos assistindo. Tudo isso contava já como um teste para a Olimpíada. E não saiu como a gente queria, mas não tem nada perdido, nada do que se desesperar. Olimpíada vai ser dessa maneira. Com os seis times que estavam aqui na final da Liga, mais a Rússia que não veio, Irã não tava aqui também, que são times que vão brigar por medalha na Olimpíada. Não tem muito do que ficar se lamentando. É baixar a cabeça e trabalhar.
Você vê favoritismo de alguma seleção? Do próprio Brasil, por estar jogando em casa?
Eu acho que a gente tem o favoritismo, sim, independente do que aconteceu esse ano. Mas o equilíbrio é muito grande, e o detalhe vai fazer a diferença. A gente não conseguiu ir para o fim de semana que eu falei por causa de pontos (na Liga Mundial). A gente perdeu para França, por 3 a 1, ganhou dos Estados Unidos por 3 a 1, e os Estados Unidos ganharam da França por 3 a 1. Foi a diferença de pontos ali. Não acho que o trabalho esteja completamente errado em função disso. O equilíbrio é muito grande. A gente tem chance de brigar por medalha, tem chance de ganhar o ouro, mas tem mais oito seleções que também têm chance. E esse detalhe é que vai fazer a diferença.
E como encara o fato de jogar em casa, diante dos torcedores?
É muito bom. A gente sempre joga em casa, há muitos anos o vôlei vem tendo resultados. É um esporte queridinho da torcida, e os ginásios estão sempre lotados. A gente sempre joga ou no Mineirinho, no Maracanãzinho, Ibirapuera, Tesourinha não mais, mas sempre ginásios com capacidades para muito público, para 10 mil, 12 mil, 15 mil torcedores. E os ginásios sempre lotados, com a torcida sempre apoiando. Isso é muito bom, mas é pressão a mais, porque a gente tem uma responsabilidade muito grande por vitória. Acho que ninguém vai no ginásio para ver a seleção perder, todo mundo quer que a gente ganhe. Então tudo isso conta na hora do jogo.
Muitas pessoas falam nesse momento de transição do vôlei. Baseado nisso, tem algum jogador que você que está surgindo que é promissor? Ou que pode surpreender na Olimpíada?
Acho muito difícil surgir um jogador agora de um ano para o outro. Isso precisa ser construído. Acho que o grupo que participou esse ano da seleção provavelmente é o grupo que vai estar na Olimpíada ano que vem. Acho que após a Olimpíada a gente precisa, sim, de uma renovação. E é uma renovação natural, porque alguns atletas começam a ter uma certa idade, inclusive eu. Fica muito difícil você fazer mais um ciclo de quatro anos. Então, provavelmente em 2017 a seleção vai ser muito renovada, muita gente nova, muitos jogadores vão ter oportunidades. Mas para esse curto tempo de um ano, não, não vai ter nenhuma surpresa. Lógico que alguns jogadores podem se apresentar melhor fisicamente, fazer uma Superliga muito boa. Ou aqueles que estão no exterior podem voltar melhor, que é Bruno, Lucão, Visotto, Evandro. E os que estão no Brasil vão estar fisicamente bem, e fazer uma ótima Superliga, que é o que vai nos dar condição de chegar bem na seleção.
2016 será sua última Olimpíada?
Eu queria que não, mas acho que, pela idade, e fisicamente, acredito que sim. Não estou me programando para isso, mas é uma realidade. Ano que vem vou estar com 35 anos, e para mais um ciclo olímpico seriam 39 anos. Praticamente impossível, tirando o caso do Serginho, que é nosso líbero, que é um caso à parte. Ele é um monstro do vôlei, já completando 40 (anos). Mas fisicamente fica inviável. Mas não quero dizer que não vou mais, acho que vai ser natural. Assim como falei que a renovação vai acontecer em 2017. É importante que a gente dê oportunidade para novos jogadores aparecerem.
Você passou por duas cirurgias no ombro, a última ano passado. Agora se sente 100%?
Já (me sinto) bem do ombro, bem melhor. Infelizmente, eu tive que fazer a segunda, que foi só um detalhe, que até poderia ter feito junto com a primeira, mas acharam melhor não. Mas depois acabou me incomodando bastante, mais perto da clavícula. Hoje, depois de dois anos da primeira, e um ano da segunda, me sinto completamente recuperado do ombro.
Falando sobre o escândalo de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei, isso atrapalha os atletas de alguma forma, ou já está esquecido?
Acho que se eu falar que não, posso estar mentindo. Isso virou assunto no meio do vôlei. Não dá para negar, não dá para não falar. Houve um envolvimento muito grande, muita gente se indignou, muita gente falou. Esse movimento agora esfriou, até pelo bem do vôlei e dos patrocinadores, não dá para ficar batendo nisso o tempo todo, falando só sobre isso. A gente tem uma Olimpíada para jogar, e a gente tinha uma Liga Mundial para jogar, quando o Brasil foi sede, e a gente precisava concentrar as forças nisso. Aconteceu, acho que algumas medidas foram tomadas, e benéficas para o vôlei, para que isso não se repita e não aconteça mais. Não sei como anda o caso, se estão sendo julgados, porque a gente parou de falar nisso. Mas seria interessante que a CBV pudesse manter todo mundo atualizado sobre isso. Nós atletas, vocês da imprensa. Para saber como anda.
Uma pergunta de fora das quadras, falando sobre o Murilo como pai. Seu filho, Arthur, já conhece o Rio Grande do Sul?
Ainda não, infelizmente. Vai completar dois aninhos em dezembro, mas não consegui vir com ele para cá ainda. A família tem ido para lá, para passar tempo com ele, principalmente minha mãe e meu pai. Sempre que bate saudade eles vão para lá. Essa correria de clube e seleção, também ele estava muito novinho para viajar. No inverno, a gente até pensou em vir, mas era muito frio, fiquei com medo de trazer. Mas agora, após Olimpíada, vai dar muito mais tempo para fazer as coisas com tranquilidade, e poder também ser mais pai, mais presente junto dele. Mas estou louco para trazer ele para cá. Tem muita gente em Passo Fundo que quer conhecer ele, que ainda não conhece.
E você é um pai "babão"?
Acho que sim. É primeiro filho, não tem nem como não babar. Tem que aproveitar, tem que babar mesmo. E passa muito rápido. Todo mundo fala isso, alerta, mas a gente acaba deixando passar, não dá tanta atenção. Eu vejo que dois anos passaram muito rápido com o Arthur. Ele já é um menino, já está correndo, brincando, jogando bola. Não quer mais colo. Não é mais um bebê, que você bota em um canto e fica quieto. Essa fase já passou, e estou mais atento a isso. Vou aproveitar todas as fases dele, o máximo possível, se tiver que babar vou babar, não tem problema.
E o Arthur vai aos treinos?
Vai. A Jaque (Jaqueline, esposa) está jogando no Sesi também, então às vezes meu treino acaba e começa o dela. Então quase sempre ela leva ele para o treino. Pega o finalzinho do meu treino, eu pego ele e volto para casa, fico com ele, brinco no ginásio, e ela treina. Mas ele tem participado bastante. Adora bola, adora carro, é uma figura.
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