Eu me senti o Homem-Formiga quando o rapaz abriu o portão 7 que dá entrada para a imprensa do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, zona oeste no Rio. Um mundo gigante se revelou: em uma área de 1,18 milhão de metros quadrados, trabalhadores por todos os lados, máquinas pesadas de última geração, contêineres e obras monumentais. Mais exatamente nove instalações, sendo sete novinhas em folha. Os olhos brilharam. Não tem como não se impressionar com o complexo que abrigará 16 modalidades olímpicas no ano que vem (5 a 21 de agosto) e nove paraolímpicas (7 a 18 de setembro).
Não tinha muito tempo para desbravar aquela selva de blocos de concreto. Três horas, no máximo, pois os pedidos de visitas de jornalistas ao local são muitos. Do Brasil e do Exterior.
- Temos nos esforçado para atender a todos, é um trabalho intenso. A imprensa mundial está voltada para cá e quer mostrar a preparação. É loucura - confessa Carol Medeiros, chefe da Comunicação da Empresa Olímpica Municipal, ligada à prefeitura do Rio.
Há esforço mesmo. Logo me encontro com o Roberto Ainbinder, diretor de projetos do Parque e responsável por dirimir minhas dúvidas. Confesso que estranhei um pouco quando ele convidou para irmos para dentro de um contêiner. Mas rapidamente entendi. Como há muito barulho, é difícil falar em meio a máquinas e trabalhadores. É perigoso também. Capacete é imprescindível. No contêiner, ar-condicionado e conforto.
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Arenas temporárias devem se transformar em escolas
Nos primeiros minutos de papo, foi possível perceber a preocupação com o futuro. Lá para depois dos Jogos. Em 40 minutos de conversa sobre as instalações, desafios e trabalho duro, a palavra legado foi repetida 15 vezes. Quando cito o termo elefante branco, sou imediatamente interrompido.
- Tivemos muita preocupação em construir um local que sirva para as pessoas assim que os Jogos acabarem. Por exemplo: duas Arenas que estamos construindo, a do Futuro (handebol e goalball) e o Estádio Aquático (natação olímpica e polo aquático) vão se transformar em quatro escolas.
- Sem nenhum gasto a mais, pergunto?
- Nada a mais. Sabe joguinho de Lego? É só desmontar e montar.
- Quer ir lá ver? Aí mostro como será essa transformação - provoca Ainbinder.
Há um carro com motorista esperando. Questiono se terá transporte dentro do Parque Olímpico. Ainbinder diz que não e explica:
- Tem um quilômetro de ponta a ponta no Parque. Não é muita distância. As pessoas querem caminhar, ir de um ginásio ao outro livremente. Nosso projeto é para receber uma multidão e teremos espaço de sobra. E com acessibilidade perfeita.
O Estádio Aquático é o primeiro a ser visitado. A Arena para 13 mil pessoas - inicialmente prevista para 18 mil, mas reduzida a fim de dar mais espaço a torcedores cadeirantes, à imprensa e à tribuna de honra - está quase pronta. É nela que César Cielo e Michael Phelps esperam brilhar. De cara, um detalhe chama a atenção: as estruturas metálicas das arquibancadas são vazadas e funcionarão como um ar-condicionado natural, já que a área recebe uma boa quantidade de vento. É difícil imaginar como a obra se transformará em escola após a Olimpíada.
- Os parafusos não são soldados, o que facilita o trabalho de desmonte - explica.
A segunda parada: Arenas Cariocas 1, 2 e 3. São as estrelas do pedaço. Bonitas mesmo as danadas. A primeira, para 16 mil pessoas, sediará jogos de basquete, basquete em cadeiras de roda e rúgbi em cadeiras de rodas. A segunda, com 10 mil lugares, receberá disputas de judô, luta livre, luta greco-romana, bocha e judô paraolímpico. E a terceira, também para 10 mil lugares, será palco de esgrima e taekwondo. Os detalhes em madeira no lado de fora dão charme às estruturas.
O centro de tênis contará com um total de 16 quadras
Depois, Arena do Futuro. Projetada para 12 mil lugares, abrigará jogos de handebol e goalball. Admito uma certa decepção, afinal é um nome que te leva a pensar em algo surpreendente. Parece uma caixa de fósforos gigante. É simples. Simplicidade é marca dos Jogos do Rio. Tudo dentro dos padrões do Comitê Olímpico Internacional (COI), mas sem ostentação.
Ainda deu tempo para a última espiada no Centro de Tênis. Construída para 10 mil lugares, a quadra principal é imponente. Serão 16 quadras em um total de nove hectares. Novak Djokovic, Roger Federer, as irmãs Williams e Sharapova vão gostar.
Não deu para conferir o Velódromo, o Parque Aquático Maria Lenk e a Arena Rio - estes dois últimos construídos para o Pan. Ainda olhei de longe para os prédios do Centro Principal de Imprensa (MPC, na sigla em inglês) e do Centro Internacional de Transmissões (IBC, na sigla em inglês).
Quando nos dirigíamos ao mesmo portão 7, já para saída, perguntei aos anfitriões se eles se orgulhavam do trabalho feito até agora. A resposta de Ainbinder veio rápida como um tiro de arco:
- Orgulho? Ainda não deu tempo para isso. Só depois dos Jogos, se tudo der certo.
*O repórter viajou a convite do Sheraton Barra Rio de Janeiro Hotel, Rio Convention & Visitors Bureau e Linhas Aéreas Avianca
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