A turbulência passou. Ao menos é a avaliação que faz o ministro do esporte, George Hilton (PRB/MG), após os primeiros quatro meses na pasta.
Quando foi anunciado no cargo, sofreu com uma avalanche de críticas pela falta de experiência na área. O mundo esportivo identificou, em sua indicação, um movimento para acomodar aliados do governo Dilma.
Hilton diz ter superado os questionamentos através do diálogo permanente com líderes dos atletas. Em Porto Alegre para formalizar a entrega de recursos da pasta a três clubes gaúchos - Sogipa, Grêmio Náutico União e Veleiros do Sul -, o ministro conversou com ZH sobre as dificuldades iniciais e disse estar otimista com o andamento das obras para a Olimpíada, apesar das recentes ameaças de paralisação em Deodoro e o atraso da despoluição na Baía de Guanabara.
O anúncio do seu nome para a pasta do esporte recebeu críticas por conta da sua falta de experiência na área. Como o senhor recebeu os questionamentos? Já está familiarizado com o assunto?
Foi um momento que a gente, de certa forma, compreende, porque o esporte é mais do que uma atividade de entretenimento. É a paixão do brasileiro. Quando nós chegamos, era natural que os atletas tivessem uma certa preocupação, mas a gente faz parte de um governo de continuidade. Quando assumimos, já havia uma política muito bem determinada de apoio ao esporte brasileiro. A gente veio dar continuidade a essa política, que é muito bem pavimentada. Viemos para manter e melhorar essas políticas. Hoje não existe mais essa ideia, essa avaliação que houve dos atletas, porque tenho um diálogo permanente com eles. Tenho feito isso desde que assumi, com resultados muito bons.
Recentemente, o secretário de alto rendimento Ricardo Trade, que tem larga experiência na área, deixou o ministério. O senhor nomeou, para substituí-lo, um líder do seu partido que não tem a bagagem do antecessor. O senhor acredita que isso pode prejudicar o planejamento?
Foi uma mudança consensual. O Trade teve o convite da Confederação Brasileira de Vôlei. Minha visão foi de entender que o esporte não é feito apenas das ações feitas dentro do ministério. Ele acontece nos clubes, nas confederações. Conversei muito com ele, continua nos assessorando. Só não está mais no ministério porque houve uma decisão dele e da família de que precisaria ficar no Rio para dar uma assistência à confederação. Continua sendo nosso parceiro e nos ajuda. O Carlos Geraldo assumiu e, com muita humildade, tem conversado com o Trade. Há uma sinergia e um diálogo permanente para construir um legado dos Jogos Olímpicos.
Há quem critique o baixo investimento na base em favor do alto rendimento. O senhor tem essa avaliação?
Essa é a nossa meta. Assumimos o ministério com a missão de desenvolver o esporte de base. Claro que o alto rendimento é uma grande vitrine em qualquer país do mundo, inclusive para atrair os investimentos privados. Se você olhar a evolução das obras no Rio de Janeiro, tanto na Barra quanto em Deodoro, verá que a maior parte dos investimentos são privados. Esses grandes eventos vão gerar um legado imaterial na população, e nos força a criar um sistema nacional de esportes para que isso chegue na base. As crianças que tenham vontade de praticar o vôlei, o basquete, o judô, vão encontrar através dos governos e da iniciativa privada, os espaços. Foram acertados esses investimentos no alto rendimento para criar uma cultura, um desejo de praticar esportes. Começamos com esse ciclo positivo e o próximo passo será este sistema para definir o esporte educacional, o esporte comunitário. Há uma evolução na preparação dessa rede nacional de treinamentos, com centros de iniciação ao esporte em todo o país.
Como o senhor vê a pressão da CBF e dos clubes de futebol para modificar alguns pontos do refinanciamento da dívida?
Nós vivemos um momento histórico para o futebol. Foram os clubes que nos procuraram pedindo que o governo ajudasse. A gente entendeu a necessidade porque o futebol é a grande paixão nacional e é também um esporte de business. Ele é importante para o desenvolvimento econômico. Porém, seria o quarto refinanciamento e entendemos que, se não determinássemos um novo momento, exigindo boa gestão, contrapartidas muito rigorosas, poderia se transformar em mais um simples refinanciamento. Sentamos com os clubes, conversamos e dissemos: "Entendemos o momento de vocês, mas é um momento do país de modernização do futebol". Estes pontos que nós discutimos são inegociáveis. O governo não vai mudar o texto. Obviamente que o Congresso Nacional tem legitimidade, pode fazer alterações, mas as contrapartidas nós vamos manter. Entendemos que isso é bom para os clubes, bom para o futebol e bom também para o torcedor. Ele vai poder ver no seu clube a modernização.
Houve, recentemente, uma ameaça de cortes de funcionários e paralisação nas obras do Complexo Deodoro. Esse tipo de impasse pode atrapalhar o andamento das obras para a Olimpíada?
Não. As obras seguem no cronograma, dentro das exigências mais rigorosas. Recentemente o Comitê Olímpico Internacional esteve inspecionando, não só a Barra mas o Complexo Deodoro, e saiu extremamente admirado com a evolução. Bem diferente da última visita. Temos visto declarações de outras Federações Internacionais que falam da evolução das obras. Os problemas de algumas empresas, que estavam com dificuldades de caixa, foram resolvidos. Aquela ameaça de cortes e demissões foi superada. Hoje há sinergia entre os diferentes níveis de governo. A condução tem sido feita de forma muito transparente. A percepção que eu tenho é de que vamos cumprir com o cronograma e o Brasil terá uma grande festa.
A Baía de Guanabara é o ponto que mais lhe preocupa?
É um ponto que eu tenho discutido com o governo estadual, porque, no dossiê de candidatura, ficaram muito claras as responsabilidades de cada um. O governo federal ficou com as obras na Barra e em Deodoro, e o governo estadual com a Baía de Guanabara e a lagoa Rodrigo de Freitas. Tenho conversado muito com o governador Pezão e ele tem feito um grande esforço para, se não cumprir 100% de despoluição, chegar perto disso. Há, também, por parte de algumas confederações náuticas, uma certa pressão de entidades internacionais para levar a disputa para o mar aberto. Isso ajudaria outros países que têm tradição em disputas em mar aberto. Mas não há uma ameaça, uma impossibilidade dos eventos acontecerem na Baía. Estou extremamente otimista de que vamos sanar este problema.
* ZH Esportes