
Depois da assinatura de Ednaldo Rodrigues ter estado em uma carta conjunta sobre o racismo, junto da Conmebol e de outras nove federações da América do Sul, a CBF voltou atrás. Tratava-se de um manifesto apoiando as medidas tomadas pela entidade contra a discriminação.
Um novo ofício foi divulgado pela CBF e, desta vez, a entidade afirmou discordar da forma com que a Conmebol conduziu os casos recorrentes de racismo. O documento é assinado pelo presidente Ednaldo Rodrigues.
Sanção inócua
"A CBF discorda veementemente da atuação da Conmebol nos casos de racismos e muito menos que a entidade esteja em conformidade com as medidas mais rigorosas implementadas nas mais importantes Ligas, Confederações e Fifa, uma vez que não somente não foi adotado o Protocolo Anti-Racismo determinado pela Fifa na partida entre Palmeiras e Cerro Porteño, valida pela Conmebol Libertadores Sub-20, na qual os atletas brasileiros Luighi e Figueiredo foram vítimas do crime de racismo, como também foi aplicada uma sanção inócua, ineficaz e insuficiente diante da gravidade do evento, dos danos irreparáveis causados aos atletas e a reincidência do clube paraguaio", diz uma parte do pronunciamento.
O jogo citado pela CBF foi válido pela Libertadores sub-20, realizada no Paraguai. Durante o confronto entre Palmeiras e Cerro Porteño, em 6 de março, jogadores do time alviverde foram vítimas de racismo. Após a partida, o atacante Luighi deu uma entrevista emocionada falando sobre o acontecido.
"O que fizeram comigo foi um crime"
— Até quando a gente vai passar isso? Me fala... até quando a gente vai passar isso? O que fizeram comigo foi um crime, pô. Vocês vão perguntar sobre o jogo mesmo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? CBF, sei lá — desabafou, à época.
A CBF também ressaltou ter feito uma denúncia à Conmebol, em que pedia a exclusão do Cerro Porteño da competição:
“Diante deste fato, é importante ressaltar que a CBF, no exercício de suas prerrogativas enquanto associação-membro filiada, fez uma denúncia à unidade disciplinar da Conmebol, na qual requereu a exclusão do clube na supracitada competição, bem como a identificação e detenção do autor do crime. A Conmebol, porém, omitiu-se, o que ensejou a comunicação do fato em tela à Fifa, solicitando o acompanhamento do caso a fim de garantir a aplicação do seu protocolo antirracismo global”, escreveu a CBF.
Reunião da Conmebol
A Conmebol agendou uma reunião para a próxima quinta-feira (27) com embaixadores dos governos e representantes das federações dos 10 países que integram a entidade. O objetivo é discutir questões sobre racismo, discriminação e violência.
Assinatura em carta conjunta
A CBF ressaltou que a assinatura de Ednaldo na primeira carta, que defendia que "a atuação da Conmebol está em linha com as medidas mais rigorosas implementadas nas mais importantes Ligas, Confederações e Fifa" havia sido feita por um membro de seu gabinete. A entidade ressaltou, ainda, que ele tinha autorização para isso.
Confira o ofício da CBF na íntegra
Estimado Presidente,
1. Cumprimentando-o respeitosamente, servimo-nos do presente para esclarecer ofício em epígrafe, que solicitou a confirmação das Associações Membros para a realização de uma reunião de debate acerca do combate ao racismo, discriminação e violência no futebol.
2. Em primeiro lugar, cumpre esclarecer que assinatura da Confederação Brasileira de Futebol no documento em anexo, foi concebida pela Assessoria do Gabinete da Presidência da CBF, uma vez que o Presidente Ednaldo Rodrigues Gomes está acompanhado a seleção brasileira principal, durante a partida válida pela Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA 2026, a ser disputada em Brasília-DF.
3. Desse modo, apesar da concordância e confirmação de presença na reunião do dia 27 de março, ressalte-se que o conteúdo do ofício não era de conhecimento do Presidente Ednaldo Rodrigues Gomes, o que enseja, após a ciência e detida análise do documento, breves, porém extremamente necessárias, considerações acerca do teor do texto elaborado pela Conmebol.
4. A CBF discorda veementemente da atuação da CONMEBOL nos casos de racismos e muito menos que a entidade esteja em conformidade com as medidas mais rigorosas implementadas nas mais importantes Ligas, Confederações e FIFA, uma vez que não somente não foi adotado o Protocolo Anti-Racismo determinado pela FIFA na partida entre Palmeiras e Cerro Porteño, válida pela CONMEBOL Libertadores Sub20, na qual os atletas brasileiros Luighi e Figueiredo foram vítimas do crime de racismo, como também foi aplicada uma sanção inócua, ineficaz e insuficiente diante da gravidade do evento, dos danos irreparáveis causados aos atletas e a reincidência do clube paraguaio.
5. Diante deste fato, é importante ressaltar que a CBF, no exercício de suas prerrogativas enquanto associação membro filiada, fez uma denúncia a unidade disciplinar da CONMEBOL, na qual requereu a exclusão do clube na supracitada competição, bem como a identificação e detenção do autor do crime. A CONMEBOL, porém, omitiu-se, o que ensejou a comunicação do fato em tela a FIFA, solicitando o acompanhamento do caso a fim de garantir a aplicação do seu protocolo antirracismo global.
6. Importante ressaltar, a CBF, como primeira Associação Membro da FIFA a prever perda de pontos e punições esportivas para os casos de racismo, reafirma seu compromisso irrenunciável no combate a esse mal que assola e devasta o futebol mundial e sociedade, reforçando pela 4ª (quarta) vez a proposta consistente na alteração do Estatuto e/ou do Código Disciplinar da CONMEBOL, de modo a estabelecer sanções mais enérgicas, dentro e fora de campo, garantindo a efetividade no combate ao racismo, tal como foi feito no Regulamento Geral de Competições da CBF.
7. Em arremate, a CBF espera que a CONMEBOL adote o protocolo antirracismo global da FIFA em suas competições, Libertadores e Sudamericana, aplicando punições contundentes na eventualidade de novos crimes de racismo acontecerem.
8. Sendo o que nos cabia para o momento, renovamos nossos votos de elevada estima e consideração.