Foram apenas 22 em 1900 e serão mais de 5.000 em 2024: entre a primeira edição parisiense dos Jogos Olímpicos e a do próximo mês, as mulheres ganharam espaço no evento, contrariando o próprio pai das Olimpíadas, Pierre de Coubertin.
Criador dos Jogos Olímpicos modernos e presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) até 1925, Coubertin se opôs à participação das mulheres na competição, muitas vezes com argumentos misóginos.
—Uma pequena Olimpíada feminina ao lado das grandes Olimpíadas masculinas. Qual seria o interesse? (...) Chata, feia e não temos medo de acrescentar: incorreta. Essa é a nossa opinião sobre uma semiolimpíada feminina— escreveu em 1912 na Revista Olímpica.
Para os historiadores o entendimento era de que mulheres só poderiam praticar alguns esportes e mesmo assim em locais restritos.
— Ele entendia que as mulheres podiam praticar esportes, mas não em público e não qualquer modalidade, apenas esportes elegantes e femininos — explicou recentemente o historiador Patrick Clastres em entrevista à AFP.
Charlotte Cooper, a pioneira
Naquela época, não cabia ao presidente do COI, mas aos comitês organizadores, propor provas femininas. O caminho começou a se abrir nos Jogos de Paris-1900, no qual as mulheres puderam competir em duas modalidades, tênis e golfe, bem como em três esportes mistos: vela, críquete e hipismo. Por fim, participaram 22 mulheres e 975 homens.
A britânica Charlotte Cooper se tornou a primeira campeã olímpica em uma competição individual feminina depois de ganhar o ouro no tênis.
Na segunda edição dos Jogos de Paris, em 1924, dos 3.088 atletas que participaram, 135 eram mulheres, o dobro do número de Antuérpia-1920, competindo no tênis, na natação e nos saltos ornamentais (duas modalidades incorporadas em Estocolmo-1912) e, pela primeira vez, na esgrima. A suíça Ella Maillart também participou de uma prova de vela.
A luta de Alice Milliat
Nos bastidores, uma dirigente lutou pelo protagonismo das mulheres no evento: Alice Milliat, presidente da Federação das Sociedades Esportivas da França e fundadora da Federação Internacional Esportiva Feminina.
Ela organizou os primeiros Jogos Olímpicos Femininos em 1922, que foi forçada a renomear como 'Jogos Mundiais Femininos'. Eles seriam realizados a cada quatro anos, até 1934.
A obstinação de Milliat e a renúncia de Coubertin em 1925 mudaram o cenário. Em Amsterdã-1928, as mulheres já podiam competir no atletismo e na ginástica, mas a relutância permaneceu. O COI toma como pretexto o grande cansaço de alguns atletas na chegada dos 800 m para suprimir esta prova, que só voltaria ao programa olímpico em 1960.
Apenas em Londres-2012, com a inclusão do boxe feminino, que as mulheres passaram a competir em todas as modalidades na competição.
O número de mulheres também aumentou nas organizações olímpicas e atualmente elas são 41% dos membros do COI. Embora até hoje o presidente sempre tenha sido um homem.
Paridade em Paris
Um século depois dos últimos Jogos em Paris, competirão neste verão na capital francesa 10.500 atletas e pela primeira vez na história a paridade será alcançada, ao menos em números gerais, uma vez que cada país não é obrigado a aplicá-la em sua delegação.
Em determinadas modalidades, algumas provas ainda são exclusivamente masculinas, como a luta greco-romana, ou femininas, como a ginástica rítmica, embora esta edição seja a primeira em que os homens competem no nado artístico, mas apenas na prova por equipes.
As modalidades mistas são cadas vez mais comuns, como em provas de revezamento de atletismo e natação ou no judô por equipes.
Para a edição de 2024, também foi introduzido um revezamento misto na marcha atlética.
O calendário foi modificado para valorizar as modalidades femininas. Tradicionalmente marcada para o último dia de competição, a maratona masculina será disputada na véspera e a feminina encerrará as olimpíadas, em 11 de agosto, horas antes da cerimônia de encerramento.
* AFP