O uso da arbitragem de vídeo no Gauchão ocorre desde 2019 e foi ampliado nas últimas temporadas. O plano da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) é conseguir implantar o VAR em todas as 76 partidas, porém esta alternativa ainda não foi encontrada. A principal justificativa é o custo para os times do Interior.
Desta vez, a ferramenta estará presente em 10 jogos — com o uso iniciando a partir das quartas de final. Portanto, árbitros que já estão acostumados com o auxílio nos jogos do Brasileirão e competições sul-americanas estão precisando retomar o "modo raiz" para conduzir os jogos do Estadual.
Seja com auxílio do VAR ou não, as decisões da arbitragem são sempre motivo de debates após as partidas. Já habituados com a parceria com o árbitro de vídeo em jogos da Série A e Série B do Brasileirão, Libertadores, Copa Sul-Americana e Eliminatórias, os árbitros gaúchos afirmam que o processo para comandar jogos sem uma “segunda chance” é a simples questão de não ser necessário cumprir os protocolos de partidas com o uso da ferramenta.
São eles a espera para a análise de lances, no caso dos árbitros de campo, ou o chamado “delay”, em que os assistentes precisam esperar a conclusão do lance para sinalizar um impedimento, por exemplo.
Diante deste cenário, GZH consultou quatro árbitros da FGF para saber se eles necessitam reorganizar suas ações e se o fato de não terem o auxílio de alguém em uma cabine e com recursos de replay e câmeras de diferentes ângulos possa aumentar a responsabilidade. Todos eles foram unânimes em afirmar que, seja com ou sem VAR, a meta sempre será terminar os jogos sem erros.
— Eu apito aos jogos do Gauchão como se apitasse aos jogos do Brasileirão, que tem o auxílio do VAR. O objetivo é sempre atuar sem o uso da ferramenta. O árbitro não muda suas decisões no campo de jogo por ter a ferramenta. Ele tem que continuar tomando decisões. O que muda são questões protocolares — afirma Anderson Daronco, um dos árbitros gaúchos do quadro da Fifa.
Tomada de decisão
Em jogos com VAR, nas jogadas ríspidas que podem gerar um cartão vermelho ou lances de possível marcação de pênalti, os árbitros precisam pausar o jogo e esperar as informações que chegarão dos auxiliares de vídeo. No Gauchão, a tomada de decisão precisa ser automática. Para o árbitro Jean Pierre Lima, a responsabilidade não muda.
— O árbitro tem atenção dobrada o tempo inteiro, seja com VAR ou não. Queremos sempre acertar nas decisões. Já estamos mais acostumados com a ferramenta, então a reorganização envolve os procedimentos, como o tempo maior para reiniciar o jogo e a condução do ânimo dos atletas neste momento. O trabalho segue pleno o tempo inteiro — destaca.
A mudança no protocolo também envolve os árbitros assistentes. A necessidade de estar com o posicionamento correto e ter o melhor campo de visão possível continua. Entretanto, assim como para o árbitro de campo, a tomada de decisão precisa ser imediata. Ou como no caso do impedimento, a ação é feita quando o atleta fora de jogo participa do lance, sem a necessidade de espera para um companheiro na cabine traçar as linhas no vídeo.
— O delay em situações de dúvida, para a ferramenta nos ajudar caso seja necessário, e sem o VAR não temos. O que muda é que tomamos a decisão no momento que o atleta participa ativamente do jogo, não há a segunda chance. Trabalhar no modo raíz, agindo imediatamente. Mas a atenção é a mesma, sempre queremos acertar. Eu não vou relaxada para o jogo por ter VAR. Vou querer gabaritar os lances — comenta Maíra Moreira, assistente Fifa.
Outra adaptação
A introdução da tecnologia no futebol brasileiro ampliou o mercado da arbitragem e proporcionou que alguns deles fossem fixados no VAR, como é o caso do gaúcho Daniel Nobre Bins. Após o Gauchão do ano passado, entre abril e dezembro, ele somente atuou como árbitro de vídeo, seja em jogos da Série A, Série B, Copa do Brasil ou Brasileirão Feminino.
Para retomar o ritmo físico necessário para o árbitro de campo e atuar no Gauchão 2024, Bins aproveitou jogos amadores no Vale dos Sinos como os jogos-treino dentro da sua pré-temporada. A retomada em jogos oficiais ocorreu justamente na primeira rodada, no 0 a 0 de Brasil e Novo Hamburgo, em Pelotas.
— Busquei em jogos amadores o ritmo de jogo para voltar atuar no campo. Assim como o jogador, quanto mais jogos o árbitro fizer, melhor, para retomar a sequência de antecipação e busca do posicionamento preventivo. E não temos margens para erros, pois não tem quem possa nos salvar. Por isso precisamos de um planejamento em equipe forte, estudando os times e prevendo situações que podem acontecer — disse Daniel Bins, VAR-FIFA e também árbitro de campo.