O esperado confronto entre as ideias ofensivas, mas diferentes de Fernando Diniz e Marcelo Bielsa entregou menos do que era esperado nesta terça-feira (17), no Estádio Centenário, em Montevidéu. Pior para o Brasil que, além de desempenho, ficou também com o resultado negativo. A derrota por 2 a 0 expôs as dificuldades da Seleção Brasileira no começo de trabalho do novo treinador.
Bielsa e Diniz são dois treinadores que se assemelham em muitos aspectos, do comportamental ao jogo ofensivo. Ambos querem que seus times tenham a bola e que sejam protagonistas. No entanto, a forma como fazem isso é completamente diferente. O argentino é um adepto do jogo de posição, no qual Pep Guardiola se tornou o principal expoente e é admirador assumido de "El Loco". Já Diniz tem na mobilidade, na movimentação em torno da bola com pouco apego às posições originais, a ideia principal para tentar envolver as defesas. É o que alguns chamam de ataque funcional.
Pois em Montevídeu esse jogo de Diniz não fluiu e foi bem explorado por Marcelo Bielsa. O Uruguai teve dificuldade para ter longas posses de bola ao longo do primeiro tempo (terminou com apenas 34%). O ponto alto da Celeste esteve na marcação alta. Mesmo que Neymar recuasse para receber a bola dos zagueiros para tentar dar maior qualidade na saída, o Brasil teve dificuldade para conseguir construir. A comprovação disso está nos números. A Seleção terminou a primeira etapa sem nenhum chute no gol. O Uruguai também criou pouco, mas teve efetividade. O gol de Darwin Núñez aos 42 minutos aconteceu na primeira finalização dos mandantes.
Sem Neymar e exposto ao contra-ataque
A lesão de Neymar nos minutos finais da primeira etapa representou uma queda técnica difícil de compensar diante dos problemas táticos do Brasil. Diniz optou pela entrada de Richarlison, que passou a ser o centroavante com Rodrygo virando o meia e Gabriel Jesus indo para a ponta direita, como tem jogado atualmente no Arsenal.
O Brasil conseguiu ter uma maior presença no campo de ataque no segundo tempo e adotou a maneira típica de Diniz de atacar tentando juntar muitos homens perto da bola. A Seleção teve dois problemas a partir disso, ambos explicados pelo pouco tempo de trabalho que o treinador tem com seus comandados. Faltaram movimentos em maior organização para que esse acúmulo de atletas no setor da bola gerasse superioridade para superar a marcação uruguaia. O outro foi a reação após a perda da posse. Sem conseguir roubar rápido, o Brasil acabava exposto ao contra-ataque.
Nesse cenário, Valverde, De La Cruz, Pelistri e Maxi Araujo se destacaram tanto na parte defensiva quanto para tirar a bola do setor que o Brasil acumulava muitos jogadores. Darwin Núñez teve sucesso sobre Gabriel Magalhães e Casemiro para cruzar a bola para De La Cruz marcar o segundo gol e dar ainda maior tranquilidade aos uruguaios.
O Brasil pressionou, mas não conseguiu construir nada coletivamente. A grande chance brasileira foi uma falta batida por Rodrygo que acertou o travessão em lance no qual o colorado Rochet não chegaria.
A forma de jogar de Diniz, tão diferente do que os jogadores brasileiros estão acostumados na Europa, já indicava que a adaptação a esse estilo não seria simples. Os resultados ruins, porém, trazem uma pressão para a nova comissão técnica. O jogo no Uruguai mostrou que será necessário melhorar bastante para Diniz poder almejar permanecer no cargo caso o desejo de contar com o italiano Carlo Ancelotti não seja realizado.
Números de Uruguai 2 x 0 Brasil
- Finalizações: Uruguai 5 x 2 Brasil
- Finalizações no gol: Uruguai 2 x 0 Brasil
- Posse de bola: Uruguai 39% x 61% Brasil
- Desarmes: Uruguai 25 x 8 Brasil