Mi dispiace, iniciaria esse texto se fosse escrito em italiano. Mas a Inter de Milão, sua tradição e seus três títulos europeus e 19 italianos precisam desculpar quem assistirá a final da Champions League neste sábado (10). Porque o jogo em Istambul, a partir das 16h, será sobre Pep Guardiola e o Manchester City.
Será sobre saber se o treinador espanhol voltará a ganhar o título mais desejado da Europa depois de 12 anos. Será sobre se ele conseguirá repetir o feito sem ter Messi como aliado. Será sobre se o investimento despejado no City será recompensado com a joia inédita e mais cara da tríplice coroa — o clube venceu o Campeonato Inglês e a Copa da Inglaterra nesta temporada.
Mamma mia, e como os donos árabes gastaram para se colocarem em condições de ter a chance de finalmente conquistar o tesouro mais precioso. Desde que o City Group desembarcou na cidade dos irmãos Gallagher, mais de 2 bilhões de libras (R$ 12,2 bilhões na cotação atual) foram injetados em contratações. Algumas das mais caras estarão no gramado do Estádio Olímpico Ataturk. Como os meias Jack Grealish (100 milhões de libras) e Kevin De Bruyne (68,4 milhões de libras), donos das duas maiores transações da história do clube. Valores que fazem os 52 milhões de libras pagos por Erling Haaland soarem como uma bagatela.
Na verdade, O City não contratou um jogador. Trouxe uma máquina de fazer gols. São 52 gols em 52 jogos pelos Citzens. O valor parece uma pechincha quando comparado com os números de seu antípoda na Inter de Milão. No começo da década passada, Edin Džeko assinou com o City por 27 milhões de Libras. Marcou 72 duas vezes em três temporadas. Hoje com 37 anos, chegou a Inter em 2021 por 2,8 milhões de euros. São 14 gols na temporada. Mesmo com o índice modesto, o bósnio fez o suficiente para ganhar a titularidade de Romelu Lukaku.
— Essa competição já me trouxe muitos momentos tristes, que me machucaram. Eu entendo tudo que o que fizemos nesses anos fará mais sentido para as pessoas se a gente vencer esse torneio. Se não vencermos, vai parecer que faz menos sentido, o que é injusto — argumenta Guardiola.
Um dessas desilusões aconteceu diante da própria Inter. Em 2010, o catalão viveu uma de suas derrotas mais emblemáticas, em um duelo de estilos que marcou a década passada. Seu Barcelona de Messi, Xavi e Iniesta não superou a retranca de José Mourinho nas semifinais. A equipe viria a conquistar o título naquele ano. O que mostra que o exemplo a ser seguido por Simone Inzaghi está dentro do próprio clube.
— As probabilidades não estão a nosso favor, mas por isso que o futebol é fascinante. Jogaremos contra um dos times mais fortes do mundo, com um técnico conhecido e estaremos prontos — explicou o técnico da equipe italiana.
Inzaghi (não confundir com o irmão Pippo Inzaghi, que fez história no Milan) e Guardiola foram contemporâneos na época em que calçavam chuteiras. Se cruzaram em campo em três oportunidades. Na primeira, em 2000, vitória da Espanha por 2 a 0 sobre a Itália. Um jogo que era um aperitivo do que seria Guardiola como técnico.
— Eles ganhavam por 1 a 0. Devia ter uns 23 minutos de jogo e o Puyol fez um lançamento ao invés de um passe curto. Eu não entendo espanhol, mas acredito que o Guardiola deva ter xingado umas cinco gerações de familiares do Puyol por aquela bola longa — contou certa feita Alessandro Del Piero, campeão do Mundo com a Azzurra em 2006.
A passagem de Guardiola pelo calcio rendeu outros dois encontros. Ambos em confrontos entre a Lazio de Inzaghi e o Brescia do espanhol. Vitórias dos romanos por 3 a 1 e 5 a 0, com o ex-atacante marcando um dos gols.
É por tudo isso que perdendo ou ganhando, a final em Istambul será muito mais sobre Guardiola e o City. Mi dispiace, Inter.