Quase faltam dedos nas mãos de Vinicius Junior para contar os casos de racismo pelos quais passou nos últimos meses. Entre 24 de outubro de 2021 e 21 de maio de 2023, o jogador do Real Madrid denunciou 10 situações deste tipo, nove deles em estádios. O último no domingo (21), quando foi chamado de macaco por torcedores do Valencia.
As ofensas na partida contra o Valencia foram a gota que fez o jarro transbordar. À medida em que as denúncias se repetem, a paciência do brasileiro diminui. Depois do fim de semana, o atacante utilizou suas redes sociais para cobrar atitude das autoridades. "O que falta para criminalizarem essas pessoas? E punirem esportivamente os clubes? Por que os patrocinadores não cobram a La Liga?", questionou, em mensagem nas redes sociais. Ele também deixou em dúvida a sua permanência no futebol espanhol.
O cenário ganhou novas proporções nas últimas horas. Entidades, pessoas do mundo da bola e autoridades saíram em apoio a Vini Jr. O presidente Lula repudiou os atos racistas. O governo federal emitiu nota assinada por cinco ministérios cobrando a La Liga, a Fifa e autoridades espanholas para que ajam de maneira forte para combater a discriminação racial.
A imprensa espanhola também mudou sua postura. O tom de relativizar os eventos ou de culpar a vítima sumiu. Diversos jornais da Espanha publicaram em suas capas nas edições desta terça (23) pedidos pelo fim do racismo. O Marca, principal jornal esportivo do país, estampou editoral em que defende a ideia de que "não basta não ser racista, tenho que ser antirracista".
A defesa, entretanto, não foi uma unanimidade. Javier Tebas, presidente da La Liga, criticou o jogador e o acusou de não compreender como a liga pode atuar para combater o racismo. Advogado e politicamente ligado à extrema direita espanhola, o dirigente afirmou que a Espanha e La Liga combatem "o racismo com toda a rigidez dentro das nossas competências".
Até aqui não é o que mostram as resoluções das denúncias, com fartas evidências em vídeos espalhados pelas redes sociais. A maioria dos casos ou foi arquivado pela Justiça espanhola ou ainda não teve um desfecho. Em outros, os torcedores foram punidos com multa e a suspensão da entrada no estádio. Nenhum clube recebeu qualquer tipo de punição.
Nesta terça, a polícia espanhola prendeu sete supostos envolvidos em disparar ofensas raciais ao atleta brasileiro, três relacionados ao acontecido em Valência, no domingo, e quatro suspeitos de pendurar um boneco representando o jogador enforcado em uma ponte em Madri, em janeiro deste ano. Os detidos em Valencia foram liberados durante a tarde.
A Justiça da Espanha insere crimes raciais dentro do que considera serem crime de ódio e discriminação. A pena para os casos varia entre seis meses e quatro anos.
Os insultos envolvendo Vini Jr. se tornaram mais frequentes com o passar do tempo. A primeira denúncia foi relativa a cânticos racistas proferidos pela torcida do Barcelona, em clássico no Camp Nou em outubro de 2021. Cinco meses depois, a primeira das três denúncias de 2022 foi feita. Neste ano, foram outros seis casos.