Ídolo do Brasil de Pelotas, o atacante Cláudio Milar sempre destacava em suas entrevistas a necessidade de colocar o clube na Série B do Brasileirão. Além de artilheiro, tinha consciência da condição que a equipe poderia atingir ao ascender à segunda prateleira do futebol nacional — que na época já tinha verba de TV. Com o camisa 7 em campo, o Xavante chegou nas fases decisivas da Série C duas vezes (2006 e 2008), porém, sempre bateu na trave.
Já sem o uruguaio, que morreu no trágico acidente do ônibus do Brasil, em 15 de janeiro de 2009, o clube pelotense foi conseguir tal façanha seis anos depois. Um 0 a 0 contra o Fortaleza, calando os quase 60 mil presentes no Castelão, extraiu do torcedor rubro-negro a mais profunda alegria e realizou o sonho de Milar.
A jornada do Brasil na Série B durou seis anos. Nos dois primeiros, surpreendentes campanhas, sem risco de rebaixamento e até eventuais presenças no G-4. De forma concomitante, o clube iniciou a reforma do Estádio Bento Freitas, recuperou as categorias de base e projetou a construção de um centro de treinamento.
No entanto, uma sequência de problemas financeiros tornou a situação insustentável e, depois de algumas sobrevivências em campo, o Xavante não resistiu e foi rebaixado em 2021. No efeito cascata, caiu para a Série D no ano seguinte, fazendo todo o cronograma administrativo do clube ser repensado.
Recuperação
Quando o Brasil de Pelotas entra em queda, surge a figura de Evânio Tavares, atualmente presidente eleito, com mandato até 2024. No final de 2021, junto dos conselheiros Arthur Lannes e Fernando Caldas, ele formou o grupo que liderou a equipe pelotense diante da renúncia de Nilton Pinheiro e de seus vices. Salvar o Xavante do rebaixamento já não era mais possível. Plantar a semente de organização era o que cabia para o momento.
— É um modelo de negócio novo, com gestão empresarial. Mesmo que ainda não transpareça, internamente estamos organizando o clube. Os resultados começaram vir agora, mas creio que em 2024 poderemos mostrar coisas melhores — projeta Evânio Tavares.
Erros de contratações, muitas trocas de treinadores, dívidas com seus funcionários, cortes nas categorias de base e carência de condições estruturais para o futebol profissional caracterizaram o Brasil dos últimos anos. Mudar esta fama de “mal pagador” é um dos grandes desafios da atual gestão.
Depois do mandato provisório, Evânio agora é, de fato, o presidente do Brasil, eleito no final de 2022. Sob sua liderança, um tropeço na primeira fase da Copa do Brasil, diante do Glória, prejudicou financeiramente o clube, que não conseguiu manter seus principais jogadores.
Como consequência, no vácuo do rebaixamento do ano anterior, o clube foi parar na Série D. No entanto, de alegria do ano passado ficou o quarto lugar no Gauchão e a conquista do título do Interior, que lhe garantiu presença na Copa do Brasil de 2023. É através da bolada que a CBF paga a cada fase que o Xavante está seguindo os passos de recuperação.
— A gente conseguiu estabilizar o clube. Ter uma quantidade de funcionários que, com o quadro social e patrocinadores, conseguimos manter os salários em dia, sem deixar coisas para trás, como acontecia anteriormente. Dentro do que estamos fazendo, o clube tem como se manter estável até o final do ano — destaca o presidente.
No Gauchão, uma campanha mediana fez o Brasil não correr riscos de rebaixamento, ainda que não tenha também pleiteado uma vaga nas semifinais. O 7º lugar, contudo, deu ao clube a chance de disputar a Série D de 2024, caso não suba este ano.
Vestiário confiante
Pela terceira fase da Copa do Brasil, o Xavante enfrentará o Atlético-MG a partir desta quarta-feira (12), às 21h30min, com o sonho de poder faturar mais R$ 3,3 milhões. Por eliminar o Cordino-MA, Ponte Preta e credenciar-se para encarar os times da Libertadores, o Brasil já recebeu na sua conta R$ 3,75 milhões, e o objetivo é ter mais. Mesmo diante de um rival de grande porte, o clube projeta os confrontos com otimismo.
— Esse avanço financeiro nos permite pensar em voos maiores. Com todo respeito que merece a equipe do Atlético-MG e entendendo, principalmente, realidade de investimento de cada equipe, mas com a força do nosso grupo, poderemos passar — afirma Tavares.
Evânio Tavares é quem comanda a reformulação administrativa do Brasil de Pelotas. Dentro do departamento de futebol, porém, ele depositou a confiança em velhos conhecidos e vencedores mais recentes do clube.
Seu vice de futebol é Ricardo Fonseca, presidente entre 2012 e 2020 — período em que o clube sai da Divisão de Acesso gaúcha para a Série B nacional —, e Rogério Zimmermann, técnico do clube nestas principais conquistas e uma figura muito identificada com a torcida.
— Quando assumimos, pensei em convidar quem tinha sido o melhor dirigente dos últimos tempos. O Ricardinho topou. E com ele chegou o Rogério (Zimmermann). Agora seguimos na busca de dar as melhores condições de trabalho para ele e para o elenco.
O primeiro jogo diante do Atlético-MG será no Mineirão, e a decisão no Bento Freitas, no dia 26 de abril. Nas ruas de Pelotas, comenta-se que um bom resultado em Belo Horizonte garantirá um Bento Freitas lotado. Experiente em jogos de Copa do Brasil pelo Xavante, enfrentando Athletico-PR, em 2013 e 2016, e Flamengo, em 2015, Zimmermann garante que passará a confiança necessária aos jogadores.
— Você não pode temer aquilo que você procurou. Temos que jogar com respeito, mas com ambição. Espero que sejamos competentes, pois o sucesso neste tipo de jogo provocará outras partidas como essas — disse o treinador antes da viagem a Minas Gerais.
Rogério Zimmermann está em sua quinta passagem pelo Brasil e tem 200 vitórias no currículo. Diante do Galo, terá a oportunidade de igualar Laone Luiz Luz, comandante Xavante em 1979, quando a equipe venceu o Atlético-MG por 2 a 1, pela primeira fase do Campeonato Brasileiro. Este foi o único confronto entre as equipes.
Últimas temporadas do Brasil de Pelotas
2023
- Gauchão: 7º lugar (classificado para a Série D de 2024, caso não obtenha acesso à Série C)
- Copa do Brasil: terceira fase (eliminou Cordino-MA e Ponte Preta nas etapas iniciais)
- Série D: estreia contra o Concórdia, fora de casa, em 5 ou 6 de maio
- Técnico: Rogério Zimmermann
2022
- Gauchão: 4º lugar (campeão do Interior e classificado para Copa do Brasil 2023)
- Série C: 18º (rebaixado à Série D)
- Copa do Brasil: eliminado para o Glória, de Vacaria, na primeira fase
- Técnicos: Jerson Testoni, Cirilo e Thiago Gomes
2021
- Gauchão: 9º lugar
- Série B: 20º lugar (rebaixado com cinco rodadas de antecipação)
- Técnicos: Cláudio Tencati, Cléber Gaúcho e Jerson Testoni
2020
- Gauchão: 9º lugar
- Série B: 12º lugar
- Copa do Brasil: eliminado pelo Brusque-SC na terceira fase, após passar por Gama-DF e Manaus-AM.
- Técnicos: Gustavo Papa, Hemerson Maria e Cláudio Tencati
2019
- Gauchão: 10º lugar
- Série B: 14º lugar
- Copa do Brasil: eliminado pelo Avaí na segunda fase (passou pelo Tubarão-SC na 1ª fase
- Técnicos: Paulo Roberto Santos, Gustavo Papa, Rogério Zimmermann e Bolívar
2018
- Gauchão: vice-campeão
- Série B: 11º lugar (melhor colocação da história do clube)
- Técnicos: Clemer, Gilmar Dal Pozzo e Rogério Zimmermann