A voz do guri que enlouquecia a família narrando jogos de futebol no banheiro, hoje, retumba no ouvido de milhões de pessoas pelas ondas da Rádio Gaúcha, da Rede Gaúcha SAT e da internet. Nos últimos 50 anos, as figuras de Pedro Ernesto Denardin, 73 anos, e do Grupo RBS se uniram em parceria rara no jornalismo esportivo para contar ao público parte importante da história do futebol gaúcho e brasileiro.
O jovem que era um carroceiro empreendedor, um motorista de táxi e lotação atento e um açougueiro pouco afeito aos horários virou uma das vozes mais marcantes do rádio. As profissões desempenhadas antes de empunhar o microfone da Gaúcha pela primeira vez em 1973 foram pequenas curvas para realizar o sonho daquela criança cujas locuções ecoavam pela casa da família no bairro Glória, em Porto Alegre.
A relação entre o Grupo RBS e o narrador não foi instantânea. Primeiro, Pedro tentou a sorte em um concurso promovido pela emissora. Eram 32 concorrentes. Newton Azambuja foi o vencedor, com Pedro em segundo. Sem a vaga, encontrou espaço na Rádio Farroupilha, então pertencente aos Diários Associados.
Meses depois, foi chamado para iniciar sua jornada esportiva na Gaúcha. Começou a marcar seu nome em uma geração de locutores icônicos. Uma trajetória que singrou pelos cinco continentes, ultrapassou a narração de mais de 100 Gre-Nais (fora os que atuou como repórter) e presença em 12 Copas do Mundo.
Repórter e apresentador
Em 1996, recebeu de Armindo Antônio Ranzolin o bastão de narrador número 1 da para contar as façanhas de Seleção Brasileira, Inter e Grêmio em vitórias memoráveis e títulos eternos, assim como muitas de suas narrações.
Carteira de trabalho, profissão: narrador. O que não impediu que nesse meio século Pedro Ernesto tivesse passagem marcante em outros ofícios. Após breve saída, voltou à Gaúcha em 1984 como repórter. E dos bons. Com boa dose de sarcasmo, Pedro ia aos treinos pela manhã e avisava os concorrentes que, à noite, divulgaria uma informação exclusiva. Assim era.
— Eu tenho muito orgulho de ter acompanhado a história do Pedro desde o início dele no Grupo RBS. Esses 50 celebrados, eu vi o início, começando como repórter. Na época, eu trabalhava na Gaúcha também. Acompanhei a cobertura das 12 Copas que ele cobriu. A primeira delas, em 1978, eu era o coordenador da Copa. Da mesma forma, acompanhei toda a trajetória de comunicação do Pedro. Ele se transformou em um ícone, uma referência. O Pedro Ernesto não se pertence mais, pertence à história da comunicação, à história do futebol do Rio Grande do Sul. Ele construiu isso através do esporte para algo maior. A presença dele no Sala de Redação é um marco dessa histéria. Ele é extraordinário, inovador. É tão eclético que até cantor virou (risos). É uma referência. Tenho muito oregulho de ter acompanhado essa trajetória, de ser colega e parceiro do Pedro nessa jornada. O Pedro é demóóóóis — diz Nelson Sirotsky, publisher do Grupo RBS.
Também era criativo. Certa vez, quando Valdir Espinosa, então técnico do Grêmio, havia contratado um alfaiate para ir ao Olímpico para lhe cortar um terno sob medida, transformou o novo estilo do treinador em assunto da rádio, dos jornais e das mesas de bares.
A veia de apresentador surgiu em 1978 ao ser escolhido para comandar o reformulado Show dos Esportes. O horário noturno não o agradava. Convencido a assumir o posto, transformou o programa em um dos grandes símbolos do rádio esportivo brasileiro. Foram 34 anos à frente de uma atração que balanceava informação, entrevistas e bom humor. Em 2012, trocou uma grife por outra. Saiu do Show e assumiu a mediação do Sala de Redação, função exercida até hoje.
Além do rádio
Na década de 1990, Pedro Ernesto deixou de ser um homem estritamente radiofônico. Seu rosto passou a aparecer nas telas de televisão todos os dias. Primeiro na TVCOM, canal onde ancorou o TVCOM Esportes e capitaneou o Bate-Bola. Na RBS TV, conduziu o Lance Final e, atualmente, comenta no Jornal do Almoço.
Presente no rádio e na TV, faltava trabalhar na imprensa escrita, o que ocorreu a partir de 2000, quando o Diário Gaúcho foi lançado tendo o narrador como um de seus colunistas. O espaço foi ocupado até 2017, ano em que migrou para Zero Hora e GZH.