Um "novo" joelho, um novo corpo, uma nova base de treinamento. São muitas as novidades para Luisa Stefani em seu retorno ao circuito de tênis, exatamente um ano depois de sofrer grave lesão no joelho direito. A tenista brasileira volta às quadras nesta semana, no WTA 250 de Chennai, na Índia, vivendo o que chama do seu "novo normal", totalmente recuperada fisicamente e motivada para voltar a brilhar no circuito.
Em entrevista ao Estadão, Luisa revelou que decidiu fixar sua base no Brasil, onde voltou a morar em seu processo de recuperação física. Até a lesão, a especialista em duplas vivia e treinava nos Estados Unidos, onde morava desde os 14 anos. "Isso aconteceu naturalmente. Aqui estou mais perto da família e dos amigos", contou a tenista de 25 anos. "Estar no Brasil tem sido muito importante também na questão emocional e foi fundamental na recuperação."
De volta a São Paulo, onde nasceu, ela passou a treinar com Léo Azevedo, um dos técnicos de maior currículo no Brasil. Luisa formou nova equipe a partir de parceria com o Time RTB e, apesar da cirurgia realizada nos Estados Unidos, trabalhou com equipe médica brasileira em sua reabilitação.
"Para resumir: tudo mudou. Estou num novo ambiente, vim para o Brasil no início da recuperação e pretendo ficar por aqui. Portanto, é uma nova base de treinamento. É uma nova equipe multidisciplinar. Equipe técnica totalmente diferente", afirmou a atleta.
Luisa garante estar bem fisicamente, mas admite que precisa se adaptar ao seu "novo" joelho. "Estou 100% do meu novo normal. Porque o normal de agora não é o normal que estava acostumada, quando eu me machuquei. Sou uma pessoa nova, corpo novo, joelho novo. Fisicamente, é um joelho operado. Vai levar mais um tempinho para me acostumar."
A ex-Top 10 nas duplas vem treinando normalmente nas últimas semanas, sem restrições. A lesão não deixou sequelas e nem exigiu mudanças técnicas no tênis da brasileira, conhecida pelo apuro técnico dos golpes.
A previsão inicial era de que voltaria ao circuito nove meses depois da lesão sofrida no dia 10 de setembro de 2021, quando disputava a semifinal de duplas do US Open. Então favorita, precisou deixar a quadra de cadeira de rodas. O retorno apenas um ano depois não se deveu por complicações ou erro de cálculo. Foi opção da atleta, por cautela.
"Quando meu médico operou, ele falou que a média de recuperação para essa lesão era de nove meses. Tem gente que volta em 15 meses, tem quem volte em sete. Mas ele deixou claro que cada um é cada um. O processo era apenas meu e eu estava muito consciente disso", contou.
Se o retorno se confirmasse em nove meses, Luisa voltaria na época dos torneios de grama, superfície pouco indicada para quem está retornando de uma lesão no joelho. Ela, então, decidiu voltar na quadra dura, período da temporada em que brilhou em 2021, quando conquistou seu maior título no circuito, teve dois vice-campeonatos e ainda faturou a inédita medalha de bronze na Olimpíada de Tóquio, ao lado de Laura Pigossi.
Houve ainda um cálculo estratégico. Retornando após um ano, ela poderia usufruir por mais tempo do ranking protegido, sistema criado pelo circuito para dar chance às tenistas de disputarem os maiores torneios, mesmo sem boas colocações no ranking. Afastada das quadras, a brasileira despencou do 9º para o 97º lugar desde novembro do ano passado.
Aprimoramento físico
Luisa aproveitou o tempo de recuperação para fazer ajustes em aspectos técnicos do seu jogo, transformando o período de reabilitação numa espécie de pré-temporada estendida. Ao mesmo tempo, aprimorou o condicionamento físico, que ela acredita estar até superior ao seu auge no circuito, no ano passado.
"A parte boa da lesão é que eu tive muito tempo para consertar e melhorar aspectos que já tinha alguma dificuldade. Trabalhei bastante o saque e aprimorei outros fundamentos que, na loucura do circuito, de jogar semana após semana, a gente não tem tanto tempo de trabalhar", disse. "Por este tempo parada, tenho certeza de que vou voltar até melhor do que estava fisicamente."
A evolução também aconteceu no aspecto pessoal. Mais madura, ela se sente preparada para o recomeço nas competições. "Na questão do autoconhecimento, hoje sou uma Luisa totalmente diferente da Luisa que se machucou e que foi medalhista na Olimpíada. Todo ano a gente se revoluciona um pouco, mas uma lesão deste porte e uma mudança tão drástica no estilo de vida ajudam bastante a te mudar por completo, tanto física quanto emocional e mentalmente. Estou muito feliz e animada pelo que vem pela frente."
Luisa fará sua estreia já na reta final da temporada do tênis. Por isso, evita apontar metas neste retorno. O objetivo é encarar os torneios - jogará no Japão, na semana seguinte a Chennai - como um teste, visando 2023, quando terá como prioridade o Aberto da Austrália.
"Vou levar esse ano como um aprendizado e experiência. Único objetivo é voltar saudável. Quero que meu corpo se adapte bem, não só o joelho. Preciso jogar muitos jogos para pegar ritmo de jogo e começar o ano que vem firme e forte."