Kaue não fez o gol prometido à filha Marthina, que passou por uns quantos perrengues mesmo tendo menos de meio ano de vida. E a chance não faltou. No jogo de seu time, Lagoa, de Lagoa Vermelha, contra a poderosa Assoeva, de Venâncio Aires, pelo Gauchão de Futsal, ele atravessou a quadra sozinho, o goleiro estava caído e, ainda assim, chutou para fora.
O lance não mudou a vitória por 5 a 3. Mas marcou a história do jogador de 27 anos e de sua família. Marthina não ganhou o gol; a homenagem foi muito maior do que balançar a rede.
Antes de chegar ao lance em si, é preciso voltar a maio. Poucos dias depois de completar três meses, a filha de Kaue e Thaís pegou um vírus sincial respiratório. Precisou ficar entubada por 13 dias. Na luta pela vida, o jogador e a mulher quase abandonaram suas atividades e dedicaram atenção exclusiva à pequena. Após um mês sem jogar, Kaue voltou justo no jogo contra a Assoeva, uma das potências do Estado. O retorno seria perfeito se marcasse um gol.
Pois a chance veio. Faltava um minuto para o fim (uma eternidade em futsal) e a Assoeva pressionava para reduzir a desvantagem. Em uma disputa, o goleiro Vitinho se lesionou, ficou caído em cima da linha da trave.
Valdim, experiente jogador do time de Venâncio Aires, não percebeu e foi ao ataque. A defesa do Lagoa salvou e Kaue arrancou sozinho para o contragolpe. Era só empurrar para a rede. Mas, ao ver o goleiro caído, colocou para fora. O lance gerou aplausos do ginásio e até do adversário.
— Foi um gesto grandioso, muito além do que se pode imaginar. O esporte é sim sobre a disputa, a conquista em quadra, mas em um lance como este, falou mais alto o lado do ser humano — reconheceu o diretor da Assoeva, Eliel Hammes.
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Kaue, porém, diz que nunca teve dúvidas. No momento em que percebeu o goleiro deitado, afirma que nem pensou em outra ação. E garante: não teria colocado a bola na rede nem se seu time estivesse perdendo ou empatando. A razão é justamente Marthina, para quem ficou devendo o gol:
— Já tinha a ideia pronta. Não pensei no placar. Não faria o gol nem se estivéssemos sendo goleados. Ficamos 40 dias em um hospital, isso faz a gente refletir em tudo na vida. Quando a Marthina crescer, vai entender porque não teve o gol.