O ex-piloto brasileiro de Fórmula 1, Nelson Piquet, 69 anos, se pronunciou nesta quarta-feira (29) sobre o vídeo que repercutiu nas redes sociais durante o final de semana em que aparece chamando Lewis Hamilton de "neguinho".
Em comunicado, o brasileiro falou sobre o uso do termo racista e alegou que não teve a intenção de insultar o britânico. "O que eu disse foi mal pensado, e eu não vou me defender por isso, mas eu vou deixar claro que o termo é um daqueles largamente e historicamente usados de forma coloquial no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa' e nunca com intenção de ofender. Eu nunca usaria a palavra que estou sendo acusado em algumas traduções", começou.
Piquet ainda ressaltou que desaprova qualquer ato de racismo e que admira o trabalho de Hamilton. "Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele. Eu me desculpo com todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um grande piloto, mas a tradução em algumas mídias e que agora circula nas redes sociais não é correta", justificou.
No final do comunicado, o ex-piloto ainda condenou os atos discriminatórios que acontecem dentro e fora da Fórmula 1. "Discriminação não tem espaço na F1 ou na sociedade e estou feliz em deixar claro meus pensamentos sobre isso", acrescentou.
Entenda o caso
Durante o final de semana, circulou nas redes sociais um vídeo de 2021 referente a uma entrevista que Nelson Piquet concedeu ao jornalista Ricardo Oliveira. Na ocasião, o ex-piloto comentou sobre um acidente envolvendo Hamilton e Max Verstappen durante o Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, ocorrido em julho do ano passado na Inglaterra. Para se referir ao britânico, o brasileiro o chamou de "neguinho".
— O neguinho meteu o carro e não deixou (Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro se f*. Fez uma p* sacanagem — disse na época.
Piquet ainda comparou a batida entre os pilotos da Mercedes e da Red Bull com a colisão de Ayrton Senna e o corredor francês Alain Prost. O caso ocorreu na largada do GP do Japão em 1990. Naquele ano, Senna conquistou o título.
— O Senna não fez isso. O Senna saiu reto — continuou Piquet.
Posicionamento de Lewis Hamilton
Assim que o conteúdo começou a ser divulgado nas redes sociais, Lewis se manifestou sobre o caso no Twitter. "É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e virei alvo disso ao longo de toda minha vida. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação", escreveu.
Em outra publicação, Hamilton fez um convite para que as pessoas mudassem a sua mentalidade.
Entidades esportivas
Fórmula 1, Mercedes e a Federação Internacional do Automóvel (FIA) também comentaram sobre o caso na terça-feira (28). Em comunicado, as entidades esportivas condenaram a fala de Piquet e enalteceram a importância e o papel de Hamilton na luta contra o preconceito.
"Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito. Seus esforços incansáveis para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o que estamos comprometidos na F1", diz comunicado da organização.
A Federação Internacional do Automóvel manifestou apoio ao piloto britânico e condenou a atitude do brasileiro. "A FIA condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral. Expressamos nossa solidariedade a Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor".
A Mercedes, atual equipe de Lewis, também comentou sobre o ocorrido e também manifestou apoio ao piloto. "Condenamos nos termos mais fortes qualquer uso de linguagem racista ou discriminatória de qualquer tipo. Lewis liderou os esforços do nosso esporte para combater o racismo e ele é um verdadeiro campeão da diversidade dentro e fora das pistas. Juntos, compartilhamos a visão de um automobilismo diversificado e inclusivo, e este episódio destaca a importância fundamental de continuar lutando por um futuro melhor", pontuou a escuderia.