Gaúcho de Rio Grande, Mateus Cordeiro vive em Kiev, onde joga futsal pelo Sky Up. Recém-chegado ao país, ele relata os momentos de tensão que tem vivido desde as primeiras horas desta quinta-feira (24), quando a cidade foi atacada pela Rússia.
De acordo com ele, a situação era tranquila na capital ucraniana até ontem. Agora, ele se prepara para deixar sua casa, onde mora com outro jogador brasileiro, para ir a um bunker. Ele pediu para que a embaixada pense em todos os brasileiros que estão na região. Seu desejo é de voltar para o Brasil imediatamente. A reportagem de GZH conversou por telefone com Mateus. Confira:
Como está a tua situação dentro do contexto atual?
As últimas horas foram mais tensas por tudo que aconteceu. Teve um bombardeio no centro da cidade por volta das 6h da manhã. Eu não escutei, estava dormindo. Fica a 50 minutos, uma hora daqui, no centro da cidade. Aonde eu moro é uma região de civis. Então, dizem que não seria tão perigoso quanto o centro e áreas militares. A gente fica tenso. Querendo ou não, nunca se esteve perto disso. Ficamos apreensivos. Tem a notícia que vai ter mais bombardeios, as pessoas estão indo para os bunkers.
Tu estás em casa?
Voltei para casa para pegar cobertores e comida se tiver que ficar durante à noite (no bunker). Tem um bunker que fica a 50 metros da minha casa.
Esse bunker é uma estação de metrô?
Tem as estações que são próximas. Aqui é igual uma estação de metrô, mas não é metrô. É comum ter esses lugares aqui.
Vocês já têm orientações sobre o que fazer?
A orientação para quem está na capital é de se abrigar, de não sair. Teria uma rota para ir até à Polônia e sair pela fronteira. Mas como tem esses bombardeiros, é perigoso ficar no meio da estrada. Então, a melhor opção é ficar nesses bunkers.
Tem ideia de quando tu vais ir para lá?
Vou acabar a entrevista e estou voltando para o mesmo lugar. Tem bastante gente nas ruas já.
O clube passou alguma orientação?
O clube até então estava bem tranquilo. Joguei ontem pela Copa da Ucrânia. Depois do jogo estava aquele clima normal de pós-jogo. Foi tudo acontecendo. Pediram para a gente manter a calma. Os aeroportos foram fechados, então não tem como a gente voltar. Pediram para manter a calma e aguardar as próximas horas para ver quais vão ser os próximos passos.
O clube tem muitos brasileiros?
Tem eu e mais um. O resto é ucraniano. Até então, não dava para acreditar que ia acontecer isso. Os ucranianos não querem guerra. Teve esse ataque, e muitos ficaram tensos porque poderão ter que servir.
Entrou em contato com eles depois dos ataques?
Sim. Eles ficam mandando notícias. Muitos estão dentro de estações de metrô. Então a gente fica sempre ligados e em contato.
Há quanto tempo tu estás morando na Ucrânia?
Desde 1º de fevereiro. Meu contrato é até junho.
Como é estar em um país “normal” e acordar em um país em guerra?
O que a gente pode passar? Quero passar tranquilidade para a família, tenho irmã mais nova, pai, enfim, a família toda. A gente tenta passar tranquilidade, mas, ao mesmo tempo, não sabe o que falar (para eles). São poucas horas.Tudo aconteceu rápido. Agora estamos lidando com as situações. Passo para eles que tudo o que tem para ser feito, eu estou fazendo. É aguardar. Também aguardamos a embaixada brasileira, o que ela vai fazer. A gente viu que os jogadores do futebol de campo fizeram vídeos, pedindo ajuda para as autoridades. Que olhem para todos, que não escolham a quem ajudar. É um pedido que a gente faz. Tem um menino que trabalhava aqui perto da gente, é estudante, não pensamos duas vezes, trouxemos ele para ficar com a gente. A embaixada tem que pensar que não são só os jogadores de campo, mas todos nós que estamos aqui.
Tem alguém da família contigo?
Não. Minha namorada iria vir, mas com toda essa situação impossível.
Se pudesse tu voltarias amanhã para o Brasil?
Com certeza voltaria. Não tenho desejo de pagar para ver. Não tinha como não aceitar vir. Não imaginei que iria acontecer porque essa guerra entre eles tem desde 2014. Não teria como não aceitar a proposta. Não quero pagar para ver. O momento é de querer ir para casa ou ir para outro clube.
O clube te deu algum retorno para facilitar a volta?
O clube estás aguardando os próximos passos. Disse que não vai nos deixar desamparados. Que cumpram com o que tem de cumprir, que nos ajudem para voltarmos o mais rápido possível para o nosso país.