O caminho para se tornar um atleta de alta performance no Brasil muitas vezes é trilhado com uma série de dificuldades, que vão desde limitações financeiras até questões mais estruturais, como espaço adequado para treinos.
Duas atletas adolescentes do Rio Grande do Sul vivenciam essa experiência há alguns anos, ao mesmo tempo em que colecionam títulos nacionais e internacionais. A conquista mais recente no Jiu-Jitsu da porto-alegrense Tifani Kauane Freitas Santos, 13 anos, e da canoense Alanis Macedo Santos, 14 anos, foi o torneio mundial de Jiu-Jitsu de Juventude 2021, que ocorreu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, em 14 de novembro.
Ambas recorreram ao Diário Gaúcho para pedir diferentes tipos de apoio que possibilitassem suas viagens internacionais. Tifani, em 40 dias, precisou arrecadar R$ 26 mil para cobrir as despesas da viagem, em que foi acompanhada pela irmã de 19 anos. Já Alanis aguardava a ajuda de custo prometida pela prefeitura de Canoas, que arcou com todas as despesas da viagem da atleta. Com ela, viajou sua mãe.
Mobilização
— No país do futebol, o tatame é meu gramado — diz Tifani, que compete há três anos, dizendo ser este o seu lema. A história dela foi contada em outras duas ocasiões anteriores pelo DG, quando também precisava de verbas para participar de competições. Para a de novembro, a auxiliar de limpeza Rita de Freitas, 40 anos, mãe da atleta, conta que a família conseguiu uma bandeira em que foi possível colocar o logotipo dos estabelecimentos comerciais que auxiliaram.
Mas, a mobilização também ocorreu de outras formas. A partir do dia 1º de novembro, quando a reportagem foi publicada, a família passou a receber valores via PIX que variavam entre R$ 10 e R$ 100 e possibilitaram que a meta de R$ 10 mil fosse alcançada.
Um dos apoiadores doou R$ 16 mil, valor que financiou a ida da irmã de Tifani, a estudante Crifane Jenifer Freitas Roedes, e cobriu outros custos, como a alimentação durante a viagem.
— Quem a ajudou a ir foi o povo, a imprensa, os vizinhos. Eu agradeço muito cada um deles. Gostaria de abraçar todos — emociona-se Rita.
Prefeitura
No caso de Alanis, após a reportagem, o principal retorno foi da prefeitura de Canoas. De acordo com a trabalhadora doméstica Nádia Macedo, 42 anos, mãe da atleta, a administração municipal arcou com gastos de alimentação, transporte, passagens e testes de covid-19 durante toda a viagem. Além disso, a reportagem do DG, explica Nádia, fez com que a visibilidade da atleta aumentasse:
– Atualmente, se andamos em carros de aplicativo, por exemplo, as pessoas a reconhecem.
Famílias unidas para realizar os sonhos das gurias
Tifani e Alanis passaram cinco dias em Abu Dhabi. Nádia ficou responsável pelas atletas e também manteve contato com a família de Tifani, que seguiu no Brasil acompanhando as competições pela internet. O principal desafio da viagem, conta Nádia, foi o idioma. Toda a comunicação era feita em inglês, e o aliado das brasileiras foi o tradutor da internet.
— Ficamos as quatro juntas. Passamos dias ótimos, as gurias treinaram, conseguimos passear — afirma Nádia.
A recepção das campeãs foi calorosa. No caso de Alanis, a turma da escola e uma equipe da prefeitura esperaram no aeroporto com flores e faixas. Uma das características das famílias das atletas é a união que existe entre elas. Segundo Rita, Alanis e Tifani já treinaram juntas. Mas, hoje, o que prevalece é a amizade que ultrapassa os tatames e chega até as mães. Devido às dificuldades financeiras, as famílias se unem para vender doces e complementar o dinheiro necessário quando as gurias vão participar de competições.
— Temos uma equipe de pais de faixas pretas. Eu agradeço demais o apoio de cada um deles — diz Rita.
APOIO PARA O ESPORTE
Se você puder ajudar, as meninas recebem contribuições para as próximas competições e a compra de materiais. O contato pode ser feito com Nádia, (51) 99851-5892, e Rita, (51) 99301-4113.
Produção: Kênia Fialho