O técnico Roger Machado publicou nesta quinta-feira (18) um texto no site Players Tribune, portal conhecido por dar voz a técnicos e jogadores dos mais diversos esportes e lugares do mundo. Aproveitando o mês da Consciência Negra, o treinador e ex-jogador do Grêmio escreveu um artigo com o título: "A História dos Pretos que os Brancos Não Contam".
Na publicação, Roger relembra a "Liga da Canela Preta", torneio em que jogadores negros atuavam por serem proibidos de frequentarem outros clubes, que aceitavam só brancos.
"Acredite quando digo pra ti que não existia nada igual à Canela Preta em termos de fartura de craques. Eu sei disso porque escutei todas as histórias direto da fonte, dos mais velhos da minha família e do meu bairro. Não, eu não li nos livros sobre a história oficial do futebol. Até porque, se dependesse deles, as pessoas nunca saberiam que a Liga da Canela Preta um dia existiu", descreveu Roger.
Ressaltando a força da sua cor e da importância da leitura em sua vida, o treinador contou como foi o começo da sua carreira, as dificuldades da sua infância e da insistência de sua irmã Lena, professora, para que ele começasse a ler:
"As janelas que o futebol e os livros me abriram mostram que a história do nosso povo não se resume à escravidão nem ao racismo", destacou Roger.
Roger também falou sobre sua passagem por Salvador, quando treinou o Bahia por um ano e meio. Ele trabalhou no clube baiano entre 2019 e 2020.
"Ter morado por 18 meses em Salvador foi uma experiência memorável. Não só por ter trabalhado num clube onde eu me senti encorajado e empoderado para falar sobre valores sociais que compartilhamos, mas por ter sido o lugar onde resgatei minha ancestralidade", escreveu.
Roger tornou-se, nos últimos anos, uma das vozes mais fortes contra o racismo no futebol brasileiro. Ao lado de Marcão, atual treinador do Fluminense, e de Cristovão Borges, é um dos poucos treinadores negros que têm trabalhado em times da Série A do Brasileirão nos últimos anos.
Aos 42 anos, está desempregado desde que deixou o Fluminense no meio desta temporada após ser eliminado da Libertadores. O nome dele foi cogitado no Grêmio após a saída de Felipão, mas Roger optou por seguir sem trabalhar até o término de 2021.