Desde que o “Sala de Redação” se notabilizou como um programa de debates esportivos, o cenário do estúdio passou a ser o mesmo: integrantes sentados ao redor de uma mesa redonda, emitindo opiniões. Trata-se de uma das fórmulas de sucesso do rádio brasileiro, que convida o ouvinte a querer sentar-se junto também.
— Minha relação com o Sala de Redação fala muito da minha família. Lembro de estar na praia, almoçando, e os rádios naquela época eram "grandões". Meu avô escutando na época do Ruy (Carlos Ostermann), ou antes ainda, com o Cândido Norberto — conta Luciane do Valle, de 55 anos.
Fanática torcedora do Inter, antes da pandemia, ela era “figura carimbada” na arquibancada do Beira-Rio, sempre se posicionando atrás do banco de reservas do técnico colorado, próximo ao túnel de acesso aos vestiários.
— Eu falava com o pessoal da Rádio Gaúcha. Conheço bastante gente, mandava abraço para eles. Minha ligação com o futebol é muito forte, é uma coisa passional, e o Sala te remete a isso. É difícil não ter um integrante que não seja paixão. Mesmo esses que tentam, né? O Ruy, o Pedro Ernesto agora, uma hora eles têm que se posicionar. E é isso que me agrada. Já briguei muito com o Paulo Sant’Ana, com o Cacalo... Coitados! Eu xingava direto — recorda ela.
A identificação com o Inter é tanta que ela reside há alguns metros de onde ficava o Estádio dos Eucaliptos, antiga casa colorada. E, ao abrir a janela de seu apartamento, enxerga-se o Beira-Rio ao fundo. Por isso, é fácil imaginar os dias em que ela mais gosta de ouvir o programa.
— Gosto mais de escutar quando o Inter ganha. Quando o Inter perde, é muita "cornetagem". O Guerrinha que me desculpe, mas está muito “corneteiro”. Daí não dá! Eu gosto mesmo é dos colorados. Eu adorava o Kenny Braga, o Rafael Malenotti. O Potter é mais comedido — brinca.
Mas a relação de Luciane com o Sala de Redação vem antes mesmo de ela se declarar perdidamente pelo clube do coração. O programa está presente até mesmo em suas memórias afetivas.
— Minha família tinha uma empresa que patrocinava o Sala. Acredito que tenha sido entre 1978 e 1984, mais ou menos. Meu avô e meu pai eram muito colorados e já era um programa que tinha muita audiência. A empresa tinha uma música cantada por eles mesmos (comunicadores) e todo mundo gostava de ouvir. Então, tenho esse vínculo especial com o Sala de Redação — salienta.
Minha ligação com o futebol é muito forte, é uma coisa passional, e o Sala te remete a isso
LUCIANE DO VALLE
Torcedora do Inter e ouvinte
Diante destes laços construídos décadas atrás, ficaria até difícil ela se desvencilhar de suas paixões: o rádio e o Inter. Por isso, quando se mudou para fora do país, recentemente, ela teve de dar um jeito para seguir próxima de ambos.
— Depois que eu parei de trabalhar, em 2016, fui morar no Panamá. Lá, a diferença é de duas ou três horas. Eu ia para a piscina com o meu aplicativo e dava para escutar. O rádio faz parte da minha vida. Agora é no meu celular, no meu aplicativo. Mas isso faz parte de mim — destaca.
Embora a história do Sala de Redação tenha sido maciçamente construída por homens, Luciane é a prova de que há mulheres cada vez mais interessadas por futebol e com voz ativa para se posicionar em um debate.
— Eu me sentia extremamente representada pela Duda Streb, até por ela ser mulher. Essa coisa de 3-5-2 ou o 4-4-2 não me interessa. Eu quero a paixão. Eu quero ver jogar. Eu entendo de futebol, de paixão e energia. Se quer discutir esquema, eu não sei e não tenho interesse em saber, mas a paixão, sim. Então, eu queria que tivessem mais mulheres ali — encerra ela em meio às gargalhadas.