Não são poucos os casos de pais que ensinaram seus filhos a sintonizar na Rádio Gaúcha a partir das 13h. A relação dos ouvintes com o “Sala de Redação” ultrapassa gerações. Esta, por exemplo, é a história do gremista Felipe Silva, de 36 anos.
— Isso começou com o meu avô paterno, que sempre me dava uns radinhos. Ele sabia que eu gostava de ouvir jogos e o Sala que, inclusive, eu ouvia com ele. Depois ouvia com o meu pai, que foi motorista de taxi e acompanhava os debates enquanto dirigia pela cidade, trabalhando. E a gente sempre se perguntava no fim do dia: “Ouviu o Sala hoje?” — revela.
Além do carinho pelo programa, Felipe também herdou de seu pai a profissão. Durante 10 anos, dividiu espaço no ponto de taxi, na esquina da Rua João Alfredo com a Rua da República, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Depois, migrou para o aplicativo. E foi justamente enquanto rodava pelas ruas da Capital que ele presenciou uma das brigas mais citadas da história do Sala de Redação: Paulo Sant’Ana x Kenny Braga.
Era 2014 e o Grêmio vinha de uma série de insucessos em clássicos Gre-Nais. Até que, em novembro, o Tricolor aplicou impiedosos 4 a 1 no Inter, pelo segundo turno do Brasileirão. No dia seguinte, Felipe não quis perder o debate por nada.
— Eu estava transportando uma mãe com uma criança. O som do rádio estava alto e quando o Sant’Ana e o Kenny começaram a discutir no ar, houve uma quantidade absurda de palavrões. Eu não sabia o que fazer e minha reação foi baixar o volume imediatamente. Mas a mãe, que provavelmente não gostava de futebol, pediu para eu parar o carro e desceu. Depois, vi que eu tinha sido mal avaliado por ela graças à briga do Sala de Redação — conta ele, às gargalhadas.
Novos tempos
Ironicamente, após o episódio, as estradas da vida levaram o motorista de aplicativo e filho de taxista para outros rumos profissionais. Felipe abandonou o volante do carro para investir seu dinheiro em um empreendimento próprio, abrindo um bar na Avenida Cristóvão Colombo.
— Hoje meu horário de ouvir o Sala é diferente. De madrugada, pego o podcast no streaming e escuto enquanto fecho o caixa ou lavo a louça — afirma.
O Alex Bagé é uma surpresa muito legal. Ele trouxe de volta uma essência muito raiz do Sala
FELIPE SILVA
torcedor do Grêmio e ouvinte
Mesmo assim, ele garante que acompanha todos os debates ao longo da semana. Principalmente, depois dos anúncios dos novos representantes da dupla Gre-Nal, em março.
— O Alex Bagé é uma surpresa muito legal. Ele trouxe de volta uma essência muito raiz do Sala. E com o Potter fazendo o outro lado, isso voltou um pouco. Não posso falar sobre o Potter porque não sou colorado, mas o Bagé representa muito bem a torcida do Grêmio —avalia.
E assim Felipe segue sua trajetória. Apesar de não estar mais com as mãos na direção, como fez seu pai por muito tempo, mantém o hábito ensinado pelo avô: ouvir o Sala de Redação.