Maradona, 60 anos, estava em uma clínica na cidade de La Plata desde a segunda-feira (2), fazendo exames que investigavam um desânimo persistente nos últimos dias, dificuldades para caminhar e indisposição. Um exame de imagem nesta terça apontou a causa: hematoma subdural crônico. O ídolo foi levado em uma ambulância até outra clínica, onde foi operado na noite de terça.
Simplificando o diagnóstico, há um coágulo de sangue e fluidos acumulados entre o cérebro e a camada intermediária entre massa encefálica e ossos do crânio. Uma pancada, mesmo que leve, causou tal situação, que é mais comum em idosos por conta do afastamento entre essas camadas. Os fluidos pressionam o cérebro, inibindo funções primordiais do órgão.
— Em geral, os hematomas subdurais crônicos acontecem porque as veias do local, que fazem a circulação do sangue entre o cérebro e as outras camadas do crânio, se rompem com um choque e acumulam líquidos ali — explica Paulo Worm, neurocirurgião da Santa Casa e professor da UFCSPA.
O neurologista explica que o intervalo de tempo entre a pancada e a aparição dos sintomas varia. Os hematomas agudos exigem ação imediata, pois causam lesões graves que levam a desmaio e perda de consciência, como em acidentes de carro, por exemplo. Já os crônicos, como o de Maradona, se desenvolvem gradativamente.
— Ele vai acontecendo aos poucos, pressiona o cérebro, e ao longo dos dias decorrentes do choque vai apresentando os sintomas, que podem ser perda de mobilidade, sonolência, confusão. Às vezes o paciente nem se lembra do choque, porque nem sempre é algo que a gente perceba, de fato — comenta o médico.
A cirurgia
A operação pela qual Maradona passou nesta terça-feira consiste na drenagem dos fluidos que estão entre a camada chamada de "dura máter" e o cérebro — por isso o nome de hematoma subdural. O procedimento consiste na perfuração do crânio até a camada onde se encontra o coágulo. A substância é líquida, e sai facilmente. Ainda assim, a cavidade é lavada com soro e um dreno é mantido no local para evitar que outros fluidos voltem para o local.
— Dias depois o cérebro já volta a ocupar este espaço que estava deslocado. Nos casos de idosos, há o risco de o cérebro estar fisicamente atrofiado, e estes hematomas voltarem a acontecer — detalha Worm, descartando possíveis sequelas em Maradona:
— Sequela no comportamento dele é muito pouco provável. Ele é jovem, certamente o hematoma não vai se repetir nele. Em pacientes mais idosos já se vê uma situação de mais risco.
Poucos riscos e sem sequelas
O técnico argentino testou negativo para covid-19 na semana passada, dias depois de ter contato com contaminados e cumprir isolamento. Maradona comemorou 60 anos de idade na última sexta-feira, dia 29. Nas imagens da homenagem que ele recebeu do clube em que trabalha, o Gimnasia La Plata, se percebia que o campeão mundial não estava bem.
— O cérebro tem muito líquido, e é muito maleável. Quando o acúmulo de fluidos pressiona o cérebro, faz com que algumas funções sejam prejudicadas. Pode ser percebido dificuldade na fala, na visão, dores de cabeça — resumiu o neurologista argentino Gustavo Masenga, chefe de neurociências na Clínica San Camilo, de Buenos Aires, em entrevista ao canal argentino La Nación, nesta terça.
O risco, segundo os especialistas, seria a não drenagem imediata do coágulo. Assim como depois de três semanas a pressão no cérebro fez com que Maradona começasse a caminhar com dificuldade e ter menos disposição — até para comer, por isso a anemia inicialmente diagnosticada na segunda-feira — os próximos sintomas poderiam inviabilizar outras funções neurológicas do argentino.