SANTOS E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Série A do Campeonato Brasileiro começa neste fim de semana sem previsão da volta do público aos estádios e com apenas 7 dos 10 jogos originalmente programados para a primeira rodada.
Os outros três (Corinthians x Atlético-GO, Palmeiras x Vasco e Botafogo x Bahia) foram adiados e ainda não têm data para acontecer, porque os times paulistas e o baiano disputarão finais de estaduais no mesmo fim de semana.
As disputas locais também não terminaram no Ceará, Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, mas, como nesses casos ainda serão necessários dois jogos para conhecer o campeão, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) decidiu não postergar a participação das equipes no Nacional. Já o Goiano nem foi retomado após a paralisação causada pela pandemia de Covid-19.
Em meio às peculiaridades regionais e à sobreposição de competições, que ainda se acumularão com Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana até o início de 2021, o Brasileiro dá a largada para uma edição com desafios adicionais em relação às anteriores.
Isso no fim de semana que o país deverá atingir a marca de 100 mil mortes provocadas pela Covid-19 e cerca de 2,9 milhões de casos registrados. A competição reúne clubes de 9 estados, dos quais 6 estão com números da doença em aceleração, 2 estáveis e 1 em desaceleração.
Com o formato de 38 rodadas em turno e returno mantido, o torneio tem previsão de ser disputado até o dia 24 de fevereiro do ano que vem.
Como todos os clubes já anteciparam as férias dos atletas para abril, não haverá pausas na virada de ano. Estão previstos jogos para os fins de semana de 26 e 27 de dezembro, logo depois do Natal, e de 2 e 3 de janeiro, após o Ano-Novo.
A partir do dia 26 de agosto, a Copa do Brasil voltará a ser disputada, com sua final prevista para o dia 10 de fevereiro. Há ainda 12 datas em meios de semana sem jogos da Série A ou da Copa do Brasil, reservadas para Copa Libertadores e Sul-Americana.
Caso partidas precisem ser adiadas por eventuais surtos de coronavírus nos clubes, não está claro como será possível cumprir o cronograma. Jogos transferidos de local devem ter a mudança oficializada dez dias antes da data, segundo a confederação. "A CBF não pode lidar com múltiplas hipóteses, que vão desde um surto pontual até uma segunda onda da Covid-19", disse a entidade à reportagem.
A maratona exigirá algumas mudanças nas rotinas dos times, como a redução no período de treinos e concentrações.
"Independentemente do que está acontecendo neste ano, em função da pandemia, já há uma ideia muito clara que é impossível ter a quantidade de jogos que nós temos e concentrar da maneira como se concentra", afirma o técnico Paulo Autuori, do Botafogo.
"O tema da pandemia tem sido muito maltratado no Brasil. Tivemos a chance de nos prepararmos, vermos como os países que foram afetados inicialmente agiam, mas os exemplos foram péssimos desde cima", completou.
Na opinião de Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, as equipes do Nordeste serão ainda mais afetadas com as datas apertadas, devido aos deslocamentos que precisam fazer ao longo da competição.
"Já tem um estudo que mostra a quantidade de quilômetros percorridos, considerando linha reta. A nossa rota é a maior, com 81 mil quilômetros, contra 21 mil quilômetros de alguns", afirmou. O dirigente aponta que, a partir dessa dificuldade, haverá prejuízos paralelos. "Viaja mais, descansa menos e, se tem um time menos competitivo, faz um campeonato fraco."
Para minimizar o impacto das viagens, o Fortaleza chegou a fazer uma sugestão à CBF para que a tabela fosse adequada para provocar menos deslocamentos. Assim, por exemplo, um clube que fosse a Porto Alegre já poderia enfrentar Inter e Grêmio em sequência. A possibilidade foi descartada pela entidade, que considerou a proposta do clube inviável.
Para o presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, Rinaldo Martorelli, a entidade que comanda o futebol brasileiro não está aberta ao diálogo. "A CBF, infelizmente, acha que pode atropelar. Se virmos riscos para a saúde do atleta e não chegarmos a um acordo, iremos acionar a Justiça", afirma o sindicalista.
Segundo o nutrólogo Eduardo Rauen, que presta serviço particular a alguns dos principais jogadores do país, como Cássio e Fagner, do Corinthians, e Gabigol, do Flamengo, atletas estão preocupados com o risco de aumento no número de lesões.
"Nunca existiu na história do futebol ficar parado mais de 50 dias. Eu tenho clientes no Japão, e eles me relataram que já machucaram 12 jogadores de um mesmo time. Serão poucos casos que não terão problemas com lesões", afirma Eduardo Rauen.
Enquanto alguns times já atuam sem descanso nas últimas semanas, o tempo ocioso preocupa as equipes que não disputam jogos oficiais desde março, casos dos representantes de Goiás, onde a federação local optou por não retomar a disputa do Estadual neste ano.
"Ainda não temos o espírito de competição", lamentou o presidente Adson Batista, do Atlético-GO, recém-promovido à Série A.
Apesar de ter um calendário mais parecido com o do futebol europeu nesta temporada, situação forçada pela pandemia, os times nacionais terão um período menor para concluir as competições.
Na Europa, a maioria das grandes ligas terá início em setembro, um mês depois do Campeonato Brasileiro, e se estenderá até o fim de maio, três meses após o término previsto do Nacional.
Enquanto isso, os clubes brasileiros continuarão sujeitos a chegadas e saídas de atletas ao longo da competição. A atual janela de transferências se encerra na segunda (10), mas uma nova será aberta de 13 de outubro a 9 de novembro.