— Nunca houve um Gre-Nal como aquele.
A frase é de Abel Braga na comemoração dos 30 anos do Gre-Nal do Século, como ficou conhecido o clássico de número 297 entre Inter e Grêmio. Não havia como ser diferente, era a primeira vez que os dois clubes se encontravam em uma semifinal de Brasileirão, que dava vaga na final contra Bahia ou Fluminense, mas também garantia lugar na Libertadores.
A década era de supremacia gremista, primeiro pela conquista do Brasileiro, em 1981, depois conquistando a Libertadores de 1983 e o Mundial do mesmo ano no Japão, o clube mandava no Rio Grande do Sul com o então tetracampeonato estadual.
Já o Inter sofria na parte baixa da gangorra, sem vencer o Gauchão desde 1984, ainda que tentasse algo maior. No ano anterior, havia sido vice-campeão da Copa União. Além disso, o Colorado sofria com uma seca nos 11 clássicos anteriores. O último triunfo, até então, havia sido pelo Gauchão de 1987: 1 a 0, no Olímpico, com gol de Balalo.
O Inter, por ter melhor campanha, tinha a vantagem de se classificar com dois empates. O primeiro, no Olímpico, se confirmou: 0 a 0. A decisão ficou para o Beira-Rio em um domingo escaldante em Porto Alegre, no dia 12 de fevereiro de 1989, dias após o Carnaval. A pressão para que os colorados avançassem para a final era enorme, afinal o momento era gremista. O que já era ruim, ficou ainda pior.
O Grêmio se mostrava melhor desde o começo do jogo. Bola na trave, erro sem goleiro, mas, aos 25 minutos, a superioridade virou vantagem. Marcos Vinícius avançou e superou Taffarel, abrindo o placar em um Beira-Rio tomado por 78 mil pessoas. O torcedor colorado pensava que a situação era complicada e se agravou mais. Aos 38 do primeiro tempo, o lateral-esquerdo Casemiro foi expulso ao atingir o zagueiro uruguaio Trasante, que havia provocado os jogadores colorados.
A virada do Inter começou no vestiário. Abel Braga, ainda no começo da carreira, cobrou muito os jogadores no intervalo, mas promoveu uma substituição que mudou o rumo do jogo. Tirou o volante Leomir e botou o atacante uruguaio Diego Aguirre. Era o tudo ou nada do treinador.
— O Casemiro chorava no intervalo e pedia desculpa por ter nos deixado com 10 homens. Aquilo ali nos motivou. Entramos como se estivéssemos com 12 jogadores O Abel falou que ia tirar o Leomir para colocar o Aguirre. Eu pensei que iriamos tomar uma goleada. Já estávamos sofrendo e ele ia abrir o time botando um atacante no lugar de um volante. Achava cedo para abrir tanto o time — conta Nilson, que acabou virando o personagem daquele jogo.
Por ter um homem a mais, o Tricolor voltou melhor ainda no segundo tempo. Cuca perdeu a chance de dar números finais à partida e selar a classificação para a final, mas desperdiçou, de cabeça, dentro da área de Taffarel. Aquele lance pareceu ter, enfim, acordado o Inter no jogo. Edu Lima fez a jogada pela esquerda e sofreu uma falta. Ele mesmo cobrou, e Nilson, no meio da defesa, saltou para empatar.
Dez minutos depois, dono do jogo e diante de um Grêmio zonzo pelo gol sofrido, a virada surgiu com mais um gol de Nilson. Luiz Carlos Winck cobra uma falta no travessão, a zaga gremista afastou para a lateral. A cobrança rápida encontrou Maurício na ponta direita. O jogador se livrou da marcação e bateu cruzado. Nilson, na pequena área, só empurrou para dentro.
— Foi o gol mais importante. Pelo momento da carreira, eu estava começando em um time grande, pela importância do jogo, a história. Foi, sem dúvida, o gol mais bonito dos meus 20 anos de carreira — completou Nilson.
O Grêmio martelou, mas quando não parou em Taffarel, errou o alvo. O Inter se segurou como pôde e, ao final dos 180 minutos, saiu com a vitória, mesmo saindo perdendo e com um a menos desde o primeiro tempo, classificando-se para a final contra o Bahia, que acabaria sendo perdida. No entanto, no imaginário do torcedor colorado, o jogo daquela campanha foi o Gre-Nal e ele valeu o Século.
FICHA TÉCNICA
BRASILEIRÃO DE 1988 — SEMIFINAL — 14/02/1989
INTER (2)
Taffarel; Luiz Carlos Winck, Aguirregaray, Nenê e Casemiro; Norberto, Leomir (Diego Aguirre) e Luis Carlos Martins; Mauricio (Norton), Nilson e Edu Lima.
Técnico: Abel Braga.
GRÊMIO (1)
Mazaropi; Alfinete, Trasante, Luis Eduardo e Airton; Bonamigo, Cristóvão e Cuca; Jorginho (Reinaldo Xavier), Marcos Vinicius e Jorge Veras (Serginho).
Técnico: Rubens Minelli.
GOLS: Marcos Vinicius (G), aos 26 minutos do primeiro tempo, e Nilson (I), aos 16 e 26 minutos do segundo tempo.
CARTÕES AMARELOS: Trasante e Airton (G).
CARTÃO VERMELHO: Casemiro (I), aos 38 minutos do primeiro tempo.
ARBITRAGEM: Arnaldo Cézar Coelho, auxiliado por Aloísio de Oliveira Viug e Dilermando M. Sampaio Júnior
LOCAL: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS)