Enquanto o Gauchão deverá ser retomado na próxima quarta-feira (22), o Campeonato Carioca se encerrou nesta quarta (15), com o título do Flamengo na decisão diante do Fluminense. Mas o futebol no Rio de Janeiro foi retomado em 18 de junho e, em menos de um mês, foram disputados 19 jogos — contando briga pelo título e contra o rebaixamento.
A grande final foi realizada na quarta, com vitória do Flamengo por 1 a 0 sobre o Fluminense, no Maracanã. Como o time de Jorge Jesus já havia vencido a primeira partida da decisão por 2 a 1, ficou com o título. Mas quais as lições do Fla-Flu que decidiu o Campeonato Carioca podem servir para o Gre-Nal que marcará o retorno do Gauchão? O repórter Felipe Siqueira, do portal Globoesporte.com, que esteve no estádio para fazer a cobertura da partida, conta como foi cumprido o protocolo adotado pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj).
Testes para identificar o coronavírus
Todos os envolvidos na realização da partida passaram por testes para identificar a covid-19. Os jogadores eram examinados no dia do jogo, pela manhã, por meio do chamado "teste rápido". Na partida decisiva, ninguém testou positivo. Porém, antes da final da Taça Rio (o segundo turno do Campeonato Carioca), o lateral João Lucas, do Flamengo, foi diagnosticado com coronavírus e foi afastado da delegação. Da mesma forma, na manhã do jogo de ida da decisão do Estadual, o atacante Wellington Silva, do Fluminense, também testou positivo para a covid-19 e ficou de fora da partida.
Os profissionais da imprensa que tinham acesso ao gramado também foram testados no dia do jogo. Aqueles que ficavam nas cabines ou nas tribunas do estádio podiam o fazer no dia anterior e apenas levar o resultado para serem liberados a trabalhar na partida.
Uso de máscaras e álcool gel
Para trabalhar no estádio, todos deviam usar máscaras. Apenas os jogadores que estivessem em campo e o treinador poderiam tirar a proteção do rosto. Os demais, deveriam manter a máscara todo o tempo para minimizar o risco de contaminação.
Foram espalhados pelo estádio potes com álcool gel para quem estivesse trabalhando por lá. Os jornalistas, porém, levavam seu próprio álcool gel para higienização.
Sem entrevistas coletivas
Outra medida adotada para evitar o contágio foi a suspensão das tradicionais entrevistas coletivas dos técnicos após os jogos, e também de atletas na chamada zona mista, onde os jogadores passam antes de deixarem o estádio. Assim, por meio de assessorias de imprensa dos clubes, alguns questionamentos eram respondidos pelos treinadores e divulgados aos jornalistas.
Nada de restrição no entorno
Embora o Maracanã tenha ao lado um hospital de campanha montado para o atendimento de casos de coronavírus, não houve restrição de acesso às suas imediações. De acordo com Felipe Siqueira, muitas pessoas corriam a andavam de bicicleta no entorno do estádio perto do horário do jogo.
Quanto às torcidas de Flamengo e Fluminense, poucos foram aos arredores do estádio na quarta-feira. O jornalista diz ter visto apenas um grupo de 15, 20 pessoas saudar a chegada da delegação do time rubro-negro, e que logo se dispersou. Mesmo com o título estadual, não foi registrada nenhuma comemoração em grupo nas proximidades do Maracanã.
Mosaico no lugar da torcida
Tanto no jogo de ida, com mando do Fluminense, quanto na partida de volta, em que o Flamengo era o mandante, as torcidas estiveram "presentes" de alguma forma no Maracanã. Antes do primeiro duelo da decisão do Estadual, um grupo de torcedores do Fluminense foi autorizado a montar um mosaico escrito "É pelo Flu" no setor leste do estádio. Da mesma forma, a torcida do Flamengo organizou a mensagem "42 milhões com vocês" no mesmo setor do Maracanã.
Cânticos da torcida
Se na partida de ida o Fluminense não utilizou sons da torcida, o Flamengo resolveu apostar na tecnologia para mobilizar seus jogadores. Por meio dos alto-falantes do estádio, algumas gravações de músicas tradicionalmente cantadas pelos torcedores rubro-negros foram rodadas.
— Algumas músicas eram programadas, como nos 10 minutos, quando a torcida canta em homenagens às vítimas no Ninho do Urubu. Quando o Flamengo fez o gol também colocaram o grito de "bicampeão". Acredito que tenha sido feito em estúdio, por meio de algumas gravações — diz o repórter Felipe Siqueira.
Retorno controverso
A volta do Campeonato Carioca em 18 de junho gerou muita polêmica, inclusive com ameaça do Botafogo e do Fluminense de não entrarem em campo. A competição foi finalizada, no entanto, mesmo com as críticas à Ferj.
— Foi um retorno controverso, porque voltou em 18 de junho, com números de morte e casos no Rio muito maiores do que agora. Mais altos também do que em outros Estados, principalmente na comparação aí com o Rio Grande do Sul. Imagina começar um mês antes com números muito piores. Gerou críticas da imprensa, de torcedores, uma repercussão negativa. Acredito que ajudou a tirar um pouco do brilho da competição — afirma Siqueira.
O jornalista ressaltou que participar da cobertura do jogo no Maracanã, ao lado de um hospital de campanha, gera um certo desconforto, mas entende que faz parte da profissão.
— A entrada da imprensa antes da pandemia era justamente onde está o hospital de campanha, então entramos por outro lugar. Claro que gera algum desconforto, um certo receio, mas em termos de segurança sabemos que as medidas estão sendo tomadas para minimizar o contágio e cada um precisa ser responsável. É um risco que todo mundo que está ali assume — pondera o repórter do Globoesporte.com.