A morte de George Floyd, um homem negro que foi sufocado em uma ação violenta do policial branco Derek Chauvin, gerou uma onda de protestos nos Estados Unidos que ganhou apoio no esporte mundial. Com a participação da dupla Gre-Nal, equipes da Série A do Brasileirão realizaram campanhas em suas redes sociais contra o preconceito racial. O engajamento dos clubes de grandes torcidas é visto como fundamental no combate ao racismo.
O diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho ressalta que, por atingirem diferentes faixas da sociedade, os clubes têm o poder de levar o debate sobre preconceito para ambientes em que o assunto não seria discutido.
— O futebol tem uma força gigantesca. Ele consegue dialogar com uma parcela da população que dificilmente vai parar para discutir o preconceito racial. Quando o clube de futebol faz isso amplia essa discussão. Por isso, a manifestação é importante e necessária — ressalta Carvalho.
Desde o ano passado, Grêmio e Inter contam com departamentos específicos de combate ao preconceito. No Colorado, a Diretoria de Inclusão Social (DIS) busca realizar ações que fiscalizem não apenas o racismo, mas também homofobia, machismo, capacitismo e xenofobia.
— O Inter, que tem suas raízes históricas ligadas às minorias, não poderia se calar. A gente precisa ainda fazer muito mais porque o futebol é uma janela importante para que esse debate ocorra na sociedade — diz a coordenadora da DIS, Najla Diniz.
Líder do comitê Clube de Todos do Grêmio, Alexandre Bugin reforça a missão de excluir qualquer ação preconceituosa do ambiente do clube.
— Essa é uma luta constante. Não existe condições de que o preconceito possa estar dentro do clube. Aquela pessoa que é preconceituosa tem de se sentir excluída do ambiente do Grêmio.
— Grêmio e Inter, por estarem fazendo publicações seguidas, já romperam uma primeira barreira. Eles começaram a construir um diálogo maior com suas torcidas sobre o tema— avalia Marcelo Carvalho.
Cobranças por posicionamento
A rodada do final de semana do Campeonato Alemão foi marcada por pedidos de justiça para o caso de George Floyd. A bandeira vem sendo levantada por grandes nomes do esporte, como o astro da NBA Lebron James e o hexacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Nessa segunda-feira (1º), o elenco do Liverpool se manifestou com os atletas se ajoelhando no círculo central do gramado antes do treinamento.
Esse cenário de manifestações provocou cobranças nas redes sociais por uma posição de Neymar. O silêncio do principal nome da Seleção Brasileira é mais um ponto do histórico de pouca participação dos jogadores de futebol do Brasil em ações de combate ao racismo. Marcelo Carvalho avalia que a discussão não deve se concentrar em um ou outro nome, mas, sim, na estrutura do esporte nacional.
— Muitas vezes o jogador não sabe como a posição dele vai ser recebida pelo clube, pela torcida. Isso é um fator que inibe o posicionamento. A gente fala sobre jogadores que enfrentaram barreiras quando jovens. As manifestações dos clubes ajudam não apenas os torcedores, mas também os jogadores a se sentirem respaldados.
Casos de racismo no futebol brasileiro (levantamento do Observatório da Discriminação Racial)
- 2014: 20
- 2015: 35
- 2016: 25
- 2017: 43
- 2018: 44
- 2019: 56