O período sem jogos que os clubes brasileiros passam servirá como uma espécie de pré-temporada com adaptações. No caso da dupla Gre-Nal, que criou protocolos de segurança e voltou a usar os CTs para treinamentos, esse primeiro momento será de reforço na parte física. Quando forem liberadas as atividades coletivas, os treinadores poderão aprimorar as questões táticas. É até mais do que o tempo ideal sonhado por comissões técnicas, já que o período entre a volta das férias e o começo dos jogos, em períodos normais, é considerado curto demais.
O fato de agora haver uma previsão para o recomeço do Gauchão, interrompido quando faltavam três rodadas para o final da fase de grupos do segundo turno, dá um norte no trabalho e recarrega a motivação, perdida com a falta de perspectiva. Ainda qu;
e, no momento, os movimentos dos atletas sejam restritos e exista a necessidade de mantê-los com pelo menos dois metros de afastamento entre si.
Por enquanto, os treinos se limitam a três focos: força, resistência e técnica. Os jogadores fortalecem os músculos e fazem atividades aeróbicas para suportar mais tempo. A parte de bola ajuda a não perder o contato com o principal objetivo do esporte.
Os dois times fazem exercícios relativamente parecidos, e até não poderia ser diferente, dadas as restrições. A rotina dos jogadores é: chegar ao clube, passar pelos exames médicos, entrar no campo, fazer aquecimento, levantar peso, correr e treinar com a bola, com trocas de passes, condução, preparação e finalização. Os atletas são divididos em grupos de seis, e cada um deles faz uma "estação de trabalho". Ao final de cada fase, os profissionais trocam de lugar. Há higienização dos equipamentos que foram tocados, como halteres e barras, por exemplo.
— Os atletas tinham um plano de trabalho nas férias de 40 dias que tiveram. Todos cumpriram e voltaram muio bem — elogia o preparador físico colorado, Octavio Manera.
É justamente a possibilidade de usar a bola o principal benefício dos treinos nos CTs. O contato com os companheiros, mesmo que afastados, e a rotina de trabalho sob supervisão de preparadores, fisioterapeutas e médicos, também ajudam.
— Alguns moram em apartamentos e só têm bicicleta, esteira. Aqui, podemos usar a bola e acompanhamos mais de perto, mesmo mantendo distância — completa Manera.
A opinião ganha eco do outro lado da cidade. No CT Luiz Carvalho, o auxiliar técnico do Grêmio, Alexandre Mendes, aponta:
— Temos de viabilizar para os atletas (condições de trabalho) para que não percam o condicionamento. Eles estavam em nível razoável, claro que vai melhorar. O atleta que trabalha com nível de excelência precisa estar em atividade, da forma que for. Principalmente quando tem um profissional da qualidade que nós temos aqui para orientá-los. Está sendo benéfico e, com certeza, teremos ganhos, mais à frente, em relação a esse trabalho.
JOGOS E DESAFIOS PARA MOTIVAR
Os treinos realizados pela dupla Gre-Nal são bastante semelhantes aos feitos nos demais lugares do mundo em que foram liberadas as atividades de futebol. E a tendência é de que obedeçam às evoluções de lugares mais adiantados, como os alemães, primeiros a estabelecer um protocolo e pioneiros — entre as ligas maiores — a voltar a jogar.
Brasileiros que atuam na Bundesliga contaram que, ao longo das semanas, conforme as restrições puderam ser flexibilizadas, treinadores, preparadores e auxiliares criaram jogos e desafios para motivar os jogadores. O Bayern de Munique, por exemplo, usou alvos infláveis gigantes para que os atletas treinassem chutes. No Borussia Dortmund e no Bayer Leverkusen, a estratégia adotada foi a de fazer torneios de futmesa (jogado em uma mesa parecida com a de tênis de mesa, usando bola de futebol). O mesmo estilo, de criar jogos e competições, obedecendo as regras do protocolo, deve ser implementados na Dupla.
— Esses desafios são bons para a cabeça — comentou o lateral-esquerdo Wendell, ex-Grêmio, atualmente no Leverkusen.
A questão mental foi levada em conta para que houvesse o investimento em todos os itens de segurança que pudessem recolocar os atletas em seus respectivos centros de treinamento. A convivência ajuda a suportar a ausência de jogos.
O também volante Thaciano, do Grêmio, que fez aniversário em meio ao retorno aos treinos, comemorou a data mesmo que sem abraços ou festa dos companheiros. Mesmo assim, garantiu:
— Estou muito feliz de retornar às atividades e passar a data em um ambiente em que as pessoas gostam de mim.