Correção: o teste do Grêmio é o AFIAS-6, que utiliza o método de fluorescência, e não igual ao do Inter, que é o teste de imunocromatografia simples, como publicado entre 6h e 9h54min. O texto já foi corrigido.
A dupla Gre-Nal voltou de férias e, com isso, novas rotinas se iniciam para que os clubes retornem aos treinos em meio à pandemia do coronavírus. Uma dessas novidades no dia a dia dos elencos será a realização de testes para verificar se os atletas e profissionais ligados ao futebol, que estarão nos centros de treinamentos, estão infectados ou não.
No caso do Inter, será utilizado o teste chamado de imunocromatografia, também conhecido como "teste rápido". Para obter o resultado, que leva de 15 a 30 minutos para sair, é preciso colocar uma gota de sangue em uma fita que vem junto ao aparelho — semelhante ao exame para medir a glicose. Se nesta gota existirem anticorpos contra o coronavírus, ocorre uma reação química. Ou seja, algo parecido com os testes de gravidez. Caso o resultado seja positivo, aparecerá um risco.
Já do lado do Grêmio, o teste também é realizado a partir de uma gota de sangue e detecta a presença das imunoglobinas IgM e a IgG, que são anticorpos produzidos pela sistema imunológico. A diferença está no modelo utilizado. O Tricolor importou um aparelho da Coreia do Sul chamado AFIAS-6, o mesmo comprado pelo Flamengo. Ele identifica a presença dos anticorpos por fluorescência, indicando não apenas se a pessoa está ou não infectada, mas também a quantidade de imunoglobinas IgM e a IgG, sendo mais preciso.
— Nosso aparelho, apesar de também ser um teste rápido, é diferente. Ele é quantitativo e qualitativo. É um teste de fluorescência por sensibilidade, o mesmo que alguns laboratórios utilizam. A gente faz a coleta do sangue, coloca na máquina e ela faz a centrifugação e quantifica as imuglobinas — explica o médico Márcio Dornelles, do Grêmio.
Ainda assim, ambos os testes esbarram em um problema: a janela imunológica. Ou seja, as imunoglobinas IgM e a IgG, que são detectadas nos exames, começam a ser produzidos em torno de cinco a sete dias após a infecção. O IgG começa a aparecer por volta do 10° dia e permanece elevado por semanas. Por isso, os testes podem indicar negativo mesmo a pessoa estando infectada, já que pode não ter dado tempo de os anticorpos se desenvolverem.
— Não sei qual o objetivo dos clubes, mas esse é um teste que não é bom para avaliar a doença recente. Ele pode dizer se a pessoa teve o vírus, mas só começa a dar positivo pelo menos 10 dias depois de a infecção ter começado. Antes disso, dificilmente acusará positivo — explica o médico Alexandre Zavascki, professor de infectologia da faculdade de Medicina da UFRGS, que exemplifica:
— Se eu me infectei hoje (segunda), esse teste vai dar positivo lá no dia 14 de maio. Enquanto isso, posso estar livre de qualquer sintoma e estar transmitindo o vírus por aí.
Outro ponto destacado pelo médico é que ainda não foi comprovado que as pessoas infectadas uma vez desenvolvem anticorpos que impossibilitam o vírus de atingi-la novamente. De acordo com Zavascki, o ideal seria que os clubes mantivessem o distanciamento social:
— Não sabemos o grau de proteção desses anticorpos. Tanto que a OMS (Organização Mundial da Saúde) fez o alerta de que ter os anticorpos não é um passaporte de imunidade. A pessoa poderia, em tese, ao menos, se infectar de novo. Por isso, o ideal é manter as preocupações e condutas que estamos tendo.
A opinião é compartilhada pelo médico Ricardo Kuchenbecker, também professor da UFRGS. Ele reitera que, ao longo desse período inicial de contaminação, as pessoas podem testar negativo mesmo estando com o vírus, na qual os anticorpos ainda não podem ser identificados. Assim, para que os resultados sirvam como base para os clubes, eles teriam de ser repetidos a cada duas semanas.
— Esses testes tendem a ser repetidos a cada 15 dias, porque se eu repito em menos tempo, posso estar incidindo na janela imunológica, em que tive o contato mas não deu tempo de produzir os anticorpos. É de se esperar que os clubes utilizem essa estratégia quinzenal. Provavelmente, farão séries de testes com essa periodicidade e terão de fazer isso várias vezes para entender como o vírus vai se expandir — salienta Kuchenbecker.
Para Luciano Goldani, médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, esse tipo de teste só serviria para os clubes de futebol caso eles mantivessem os profissionais em quarentena, sem contato com mais ninguém, até mesmo familiares.
— Sem isso, os clubes podem ter muitos falsos negativos, como a gente fala, que é quando o exame dá negativo porque os anticorpos ainda não se manifestaram, mesmo com a pessoa infectada. A única maneira seria manter esse isolamento e realizar testes PCR, em que é coletava a secreção da nasal. Mas ele pode levar até 48 horas para ficar pronto, dependendo do laboratório — argumenta Goldani.