Necessária para evitar a disseminação do coronavírus, a parada dos campeonatos vem afetando, há três semanas, a vida de trabalhadores que dependem das partidas da dupla Gre-Nal para pagar as contas do mês. A interrupção dos torneios impacta nas finanças de cerca de 700 pessoas a cada quarta ou domingo que Arena ou Beira-Rio ficam sem jogos.
Os trabalhadores atuam, principalmente, na limpeza, na segurança e garantindo a alimentação de quem frequenta os estádios. São todos trabalhadores autônomos.
Alguns têm renda fixa e utilizam as partidas como complemento de renda. Outros, porém, dependem do que recebem dos clubes para sobreviver, como a orientadora Diliane Veiga Spinosa, de 37 anos.
Mãe de dois filhos, ela está há praticamente um mês sem trabalhar — e, por consequência, sem receber. Ela paga as contas com o pouco que conseguiu guardar e conta com a ajuda de familiares e do pai de seus filhos para comprar alimentos.
— Eu estou totalmente desamparada. Mandei muitos currículos, pois tenho experiência como caixa também. Mas não estão contratando. Estou desesperada — desabafa a trabalhadora que recebe entre R$ 80 e R$ 90 por partida.
No Inter, há recrutamento dos stewards, que é feito por meio de um banco de dados de inscrição individual, diretamente pelo clube, e também a contratação de empresas que fornecem funcionários para a operação. É o caso da Global Prevenção e Segurança, que comanda a equipe de bombeiros civis no Beira-Rio.
— Se não tem jogo, não entra dinheiro. Recebemos por partida. Na minha equipe, só há diaristas e muitos dependerão dessa ajuda do governo, de R$ 600. Eu sou aposentado do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar e, felizmente, tenho outra fonte de renda. Mas a maioria do pessoal está desesperada — desabafou Ewerton Silva, responsável pela equipe.
Ewerton afirmou que sua empresa, contatada pelo Inter a cada confronto na casa colorada, mobiliza cerca de 350 trabalhadores a cada mês. Pela legislação, é necessário que, para cada 500 pessoas em um evento, haja um bombeiro civil à disposição.
Por isso, a quantidade de operários varia de acordo com a importância do jogo: em clássicos e na Libertadores, por exemplo, entre 93 e 95 profissionais são chamados. Já em duelos comuns do Gauchão, a equipe cai pela metade.
A estrutura utilizada normalmente, porém, é praticamente fixa, já que os estádios da dupla são abertos totalmente a cada partida — não há, por exemplo, em jogos menores, fechamento de parte da arquibancada. Por isso, há o praticamente o mesmo número de orientadores, de catraqueiros, de fiscais, entre outros, nos duelos, independente da quantidade de público.
No Grêmio, tudo é de responsabilidade da Arena Porto-Alegrense. E a movimentação é ainda maior: cerca de mil pessoas trabalham quando há jogos do Grêmio em casa. Uma orientadora que não quis se identificar por medo de não ser mais chamada para os confrontos, contou que, mesmo tendo emprego fixo, a renda proveniente da Arena corresponde a parcela significativa na sua receita mensal.
— Trabalho fazendo eventos lá desde a inauguração, então é um "free" que já conto como renda fixa. A falta dos jogos, assim como os eventos que a Arena realiza, impactou em 25% da minha renda mensal. Eu ainda trabalho em outro emprego fixo, não estou passando maiores necessidades. Mas tenho colegas e amigos que trabalham somente com isso e que estão passando necessidades por não possuirem outra forma de renda. Muito difícil e triste toda essa situação — lamentou.