Infectado com o coronavírus, o técnico Renê Simões viveu os últimos dias isolado, em "cativeiro" no próprio quarto. Segundo contou o próprio treinador em contato telefônico com a reportagem do UOL Esporte, o comandante de 67 anos escolheu ficar sozinho antes mesmo de saber o resultado do seu teste para proteger a esposa e a filha, que moram com ele. A "libertação" será neste domingo (29) e, enquanto isso, o treinador aconselha amigos mais velhos sobre os riscos da covid-19.
— Desde o dia 15, eu tive muita dor de cabeça, garganta começou a inflamar e eu tive uma pequena febre, 37,4°. Resolvi dar um pulo no hospital. Sei que não é para ir logo ao hospital, mas eu sou do grupo de risco. O médico fez o teste, mas o resultado demora cinco dias para sair. Voltei para casa e fiquei em quarentena. Fiquei isolado, em "cativeiro" no meu quarto, avisei a minha mulher: "Agora, você e minha filha ficam do lado de fora e não entrem mais no quarto" — contou Renê.
Atualmente sem clube, Renê contou que o maior desafio desse isolamento foi encontrar um equilíbrio mental. Para isso, o técnico decidiu criar uma rotina a seguir dentro do próprio quarto: arrumar a cama, conversar com amigos via aplicativos ou telefonemas e praticar sudoku, um jogo de lógica. A alimentação era entregue pela esposa, mas o carioca abria a porta apenas quando ela estava longe.
— Tem que arrumar um equilíbrio mental muito forte. E só 12 dias depois eu recebi o resultado, foi positivo. Os médicos me ligavam sempre no hospital e eu falei que estava ótimo. Eu fiquei no cativeiro aqui. O segredo foi o dia seguinte ao hospital, quando eu acordei eu pensei: "Vou ficar na cama, mas tenho que levantar, não vai resolver ficar todo esse tempo na cama". Eu criei uma rotina de arrumar minha cama sempre. Todo o dia eu organizei tudo para a minha mente ficar arrumada também — explicou.
— Bati na porta avisando que acordei e minha mulher trazia o meu café, avisando com toques na porta também. Ia para o whatsapp conversar com amigos, joguei sudoku e resolvi assistir todos os canais possíveis para montar meu próprio pensamento em relação a essa crise — acrescentou o técnico, que também atua como comentarista convidado do Fox Sports.
Renê está isolado desde o dia 16 de março e agora está prestes a retornar ao dia a dia, ao lado da família. Apesar disso, o treinador exaltou a importância de se manter em casa, fora de seu quarto, mas em sua própria residência. Mesmo agora imune, ele ainda pode transmitir o vírus a outras pessoas.
— O meu sequestrador, que é o coronavírus, estabeleceu um regaste de 14 dias. Amanhã (domingo) vence e vou poder ficar ao lado da minha família. Mas mesmo assim tenho que continuar sendo responsável, porque mesmo que não pegue mais a doença, eu posso ser um transmissor. Eu acabei não sentindo os sintomas graves, mas o que vivemos é grave — declarou.
Com mais de 40 anos de carreira no futebol, Renê Simões tem passagens por quase todos os grandes clubes do futebol brasileiro. O ex-treinador também comandou a Seleção Brasileira feminina, com a qual conquistou a prata em Atenas 2004. O último trabalho como técnico foi em 2017, pelo Macaé.